QUEM FOI MARCÍLIO DIAS?
O negro
participou ativamente desde os primeiros passos da formação do Rio Grande do
Sul. A própria frota de João de Magalhães – a primeira incursão oficial no
território rio-grandense, a partir de Laguna, em 1715 - era constituída, em sua
quase totalidade, por escravos. Quando José da Silva Paes desceu à terra, em
Rio Grande, em 1737, também o acompanhavam inúmeros negros ou mulatos. O ciclo
econômico das charqueadas só foi possível, porque havia o braço escravo a
impulsioná-lo.
Para sintetizar
todo um espírito de participação e sacrifício, caraterizador do negro
rio-grandense, basta a evocação cívica do marinheiro Marcílio Dias. Nascido em
São José do Norte, provavelmente em 1838, filho de uma humilde lavadeira,
entrou para a Marinha Imperial, como grumete, aos 16 anos de idade, tendo sua
primeira promoção em 1861: marinheiro de 3 classe. Aprendendo a ler e escrever,
cursa a Escola Prática de Artilharia e é promovido a 2 classe. Passa então a
servir na fragata “Parnaíba” e, em julho de 1864 é promovido a marinheiro de 1
classe.
Participa das operações de guerra
contra o Uruguai e destaca-se, pela bravura, na tomada de Paissandu, a 2 de
janeiro de 1865. Nesse mesmo ano estoura a guerra contra o Paraguai e, em 11 de
junho, a “Parnaíba” é uma das fragatas brasileiras na decisiva batalha naval do
Riachuelo.
Esse “navio”
escreve Prado Maia, “viveu o momento mais dramático da peleja gloriosa. Abordado
por três navios inimigos, prodígios de bravura e ousadia operam-se no seu bojo
para defender o convés da invasão brutal. Calam-se os canhões e os seus sabres
se cruzam, tinindo. Todo o horror das primitivas lutas singulares, corpo a
corpo, a arma branca, todo o escarcéu dos entreveros barbarescos enche a
canhoneira”.
O destemor e o ânimo de Marcílio
Dias se manifestam em um nível sobre-humano, mas, não obstante, ele tomba
esvaído em sangue. Não chega a tomar consciência da vitória das armas brasileiras
e, consegue sobreviver apenas mais um dia. A parte oficial datada de 13 de
junho, assim se refere ao nosso bravo marujo:
“Seu corpo, crivado de horríveis cutiladas, foi por nós
piedosamente recolhido e só exalou o último suspiro ontem, às duas horas da
tarde, havendo-se-lhe prestado os socorros de que se tornara digna a praça
distinta do Parnaíba. Hoje, pelas dez horas da manhã, foi sepultado, com rigorosa
formalidade, no rio Paraná, por não termos embarcação própria para conduzir seu
cadáver à terra”.
(pesquisa: Palha, Américo. Soldados e Marinheiros do Brasil. RJ,
Biblioteca do Exército).
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