quarta-feira, 18 de junho de 2014


                                                               QUEM FOI MARCÍLIO DIAS?

                O negro participou ativamente desde os primeiros passos da formação do Rio Grande do Sul. A própria frota de João de Magalhães – a primeira incursão oficial no território rio-grandense, a partir de Laguna, em 1715 - era constituída, em sua quase totalidade, por escravos. Quando José da Silva Paes desceu à terra, em Rio Grande, em 1737, também o acompanhavam inúmeros negros ou mulatos. O ciclo econômico das charqueadas só foi possível, porque havia o braço escravo a impulsioná-lo.

                Para sintetizar todo um espírito de participação e sacrifício, caraterizador do negro rio-grandense, basta a evocação cívica do marinheiro Marcílio Dias. Nascido em São José do Norte, provavelmente em 1838, filho de uma humilde lavadeira, entrou para a Marinha Imperial, como grumete, aos 16 anos de idade, tendo sua primeira promoção em 1861: marinheiro de 3 classe. Aprendendo a ler e escrever, cursa a Escola Prática de Artilharia e é promovido a 2 classe. Passa então a servir na fragata “Parnaíba” e, em julho de 1864 é promovido a marinheiro de 1 classe.

Participa das operações de guerra contra o Uruguai e destaca-se, pela bravura, na tomada de Paissandu, a 2 de janeiro de 1865. Nesse mesmo ano estoura a guerra contra o Paraguai e, em 11 de junho, a “Parnaíba” é uma das fragatas brasileiras na decisiva batalha naval do Riachuelo.

                Esse “navio” escreve Prado Maia, “viveu o momento mais dramático da peleja gloriosa. Abordado por três navios inimigos, prodígios de bravura e ousadia operam-se no seu bojo para defender o convés da invasão brutal. Calam-se os canhões e os seus sabres se cruzam, tinindo. Todo o horror das primitivas lutas singulares, corpo a corpo, a arma branca, todo o escarcéu dos entreveros barbarescos enche a canhoneira”.

O destemor e o ânimo de Marcílio Dias se manifestam em um nível sobre-humano, mas, não obstante, ele tomba esvaído em sangue. Não chega a tomar consciência da vitória das armas brasileiras e, consegue sobreviver apenas mais um dia. A parte oficial datada de 13 de junho, assim se refere ao nosso bravo marujo:

“Seu corpo, crivado de horríveis cutiladas, foi por nós piedosamente recolhido e só exalou o último suspiro ontem, às duas horas da tarde, havendo-se-lhe prestado os socorros de que se tornara digna a praça distinta do Parnaíba. Hoje, pelas dez horas da manhã, foi sepultado, com rigorosa formalidade, no rio Paraná, por não termos embarcação própria para conduzir seu cadáver à terra”.

             (pesquisa: Palha, Américo. Soldados e Marinheiros do Brasil. RJ, Biblioteca do Exército).

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