sábado, 24 de novembro de 2012

As paredes de um Centro Espírita não são sagradas. A crença de que esta ou aquela sala é protegida, é folclore. Dizer ou acreditar que os Espíritos ficam fazendo assepsia no ambiente é acomodar-se e ignorar as Leis de atração e repulsão dos fluidos ambientais pelo pensamento.
Do lado de cá, somos sempre nós os comandantes, ou seja, os responsáveis pela qualidade ambiente do Centro Espírita que frequentamos. Tudo está em nossos pensamentos; vem de nós e não dos Espíritos. Os Espíritos secundam as nossas tendências conforme nos ensina Allan Kardec em O Livro dos Médiuns (cap. 23). Nós é que devemos prezar pela harmonia da casa espírita que frequentamos a fim de mantermos a sintonia com os bons Espíritos e fazermos prevalecer a sua ajuda, repelindo a influência dos maus.
O hábito de crer sem pensar gera resultados insatisfatórios e faz da Doutrina uma religião mística, o que foge absolutamente de sua proposta. Os Espíritos desencarnados só podem agir sobre a matéria com a ajuda de um encarnado que lhe cede as energias necessárias a esta interação, através do seu períspirito; sem isso, não encontram meios de manifestação. São as energias dos encarnados que criam a ponte de interação dos Espíritos com o mundo material.
A ajuda que recebemos dos bons Espíritos está absolutamente em relação com a sintonia que mantemos com eles e quando falamos em sintonia, não nos referimos a um pensamento vago que cria mantras ou ações externas como a desejar obter, com isso, a atenção dos Espíritos superiores. Esta sintonia vem da sinceridade de coração e isso dispensa qualquer tipo de rituais ou rezas ou roupas e acessórios especiais. É o que sai do coração, como nos ensina o Cristo e não o que entra, ou seja, são os sentimentos sinceros que carregamos em nós e não ações externas que haverão de determinar a qualidade de nossas relações com os Espíritos superiores.
Salas reservadas a estas ou aquelas atividades, como se nada mais pudesse ocorrer naquele cômodo, é uma crença destituída de bom senso, pois se um Centro Espírita só possuir um cômodo e se essa crença fosse lógica, equivaleria dizer que este Centro só poderia ter essa ou aquela atividade e nada mais! E quantas casas espíritas de um cômodo só existem pelo mundo afora! Se essa ideia fosse racional, o Centro de um cômodo só não poderia ter duas atividades distintas, muito menos fazer uma festa do pastel. Se usasse a sala para o passe, não poderia fazer mediúnicas; se usasse para mediúnicas, não poderia ter palestras; se tivesse palestras, não poderia ter o passe nem as mediúnicas e por aí vai.
Deixemos de reverenciar o externo e mergulhemos em nosso mundo íntimo onde tudo acontece. Os bons Espíritos estão sempre ao nosso lado e não somente quando adentramos a casa espírita. A assepsia do ambiente não é feita pelos Espíritos da forma que se crê, mas um trabalho em conjunto com a equipe encarnada que se trata não de um dia de faxina, mas de uma ação constante que se inicia do lado de cá e recebe o apoio do lado de lá. Essa assepsia (limpeza) é determinada pela nossa intenção e vontade, ou seja, pela qualidade das nossas ideias e dos nossos pensamentos. Assim, repelimos os maus fluidos e fazemos prevalecer os bons. Se esse fosse um trabalho dos Espíritos desencarnados somente, onde estaria o nosso compromisso neste sentido?
A nossa parte ainda não é toda mental, pois a casa espírita pede nosso concurso no atendimento às pessoas, na elucidação, na aplicação magnética, nas palestras, na oração. Não basta entrar no centro acreditando que tudo está pronto; não basta crer que os Espíritos superiores já prepararam o ambiente; que não existem maus Espíritos dentro do Centro. O que repele ou atrai os bons ou os maus Espíritos é sempre o nosso pensamento, seguindo a regra de que "semelhante atrai semelhante".
É cômodo crer que basta estar dentro de um Centro Espírita para estarmos livres da interferência dos maus Espíritos, pois assim nada mais resta a fazer. A realidade, porém, é outra. “O Espírito sopra onde quer” como nos ensina o Cristo. Se dentro dos Centros Espíritas o acesso aos maus Espíritos fosse bloqueado; se houvessem Espíritos com lanças e cães nas portas dos Centros Espíritas, afastando os maus; se uma barreira de luz estivesse sempre protegendo os encarnados, dentro do Centro, contra a interferência dos maus Espíritos, então como explicaríamos os grupos fascinados, obsedados, os oradores suspeitos, os assédios, os palavrões, as incoerências éticas, etc. que ocorrem dentro das casas espíritas mais sérias? Quantos Centros Espíritas fecham literalmente por intrigas, discussões, chefias e outros comportamentos que fogem totalmente da proposta do Espiritismo?
Desobsessão
Se o fato de estarmos dentro do Centro nos livra da interferência dos maus, então tais cenas não deveriam existir dentro das casas espíritas. Ocorre que a tendência dos encarnados mantém a sintonia com tais Espíritos; o Centro Espírita é feito de tijolos e tijolos não repelem nem criam barreira aos Espíritos, nem aos bons, nem aos maus. Se os nossos pensamentos estão conectados aos maus Espíritos, receberemos deles a sua influência. Outro ponto a considerar é o da análise das comunicações constantemente observada por Allan Kardec. Se o Centro Espírita tem proteção absoluta contra a investida dos maus Espíritos, a análise das comunicações é ilógica, pois basta entrar no Centro Espírita para libertar-se da influência dos maus e assim só se obter comunicação dos bons. Se assim fosse, Allan Kardec perdeu o seu tempo ensinando a filtrar as comunicações através do estudo da linguagem dos Espíritos.
Deixemos de lado estas crenças exteriores e lancemos um olhar ao que realmente importa que é o nosso interior. É dentro de nós e não fora, onde tudo se inicia. Ampliar o nosso conhecimento acerca do Espiritismo nos livra de crenças que nos limitam, ao invés de aperfeiçoar o nosso crescimento. É o que nos ensina Santo Agostinho em O Livro dos Espíritos, ao afirmar que o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir aos arrastamentos do mal é o Autoconhecimento (919).
O Centro Espírita é escola abençoada que reúne pessoas com o interesse comum de aprender sobre Espiritismo e de melhorar a si mesmo, mas se não começarmos de dentro para fora, será apenas um amuleto que não terá nenhuma influência satisfatória sobre nós.

André Ariovaldo

André Ariovaldo

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