quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

                                             COMO É BELO O NATAL!
                Como é belo o Natal! Onde  ar, parece que se enche de uma energia luminosa que se expande a cada coração, fazendo vibrar cada célula de nosso ser.
Como é belo o Natal! Não o natal do consumismo, dos papais noéis que só querem vender, mas sim, o Natal do advento de Jesus. O anúncio de que Ele está em cada um de nós. 
Como é belo o Natal! Onde as famílias, se reúnem em torno dos mesmos ideais, de paz, amor e amizade.
Como é belo o Natal! Onde a violência que grassa em nossa sociedade, é substituída pelo desejo de amar-nos uns aos outros, sem ressentimentos, sem mágoas e sem remorsos.
Como é belo o Natal! Onde ninguém cata comida nos lixões, onde os pais não abandonam seus filhos a sua própria sorte e onde a solidariedade, faz parte do cotidiano de cada um.
Como é belo o Natal! Onde os políticos param de enganar e de mentir para conseguir seus objetivos, muitas vezes escusos e sim, confraternizar e buscar, o bem coletivo.
Como é belo o Natal! Onde a natureza se torna mais bela, o verde dos campos, da relva e das matas, se torna mais viçoso e resplandecente.
Como é belo o Natal! Onde o cântico dos pássaros, se torna música aos nossos ouvidos, onde a cada dia que amanhece, agradecemos a Deus, a nova oportunidade que temos de continuamos com vida.
Como é belo o Natal! Onde pudermos enfim, reconhecer a nossa importância como ser vivente e espiritual, filhos do Pai amantíssimo, que nos quer ver progredir sempre, na lei da paz e da fraternidade Universal.
Como é belo o Natal!

terça-feira, 8 de novembro de 2011

FAMILIA, TRADIÇÃO E CIDADANIA

FAMÍLIA, TRADIÇÃO E CIDADANIA
                Vivemos, numa época muito difícil, devido às dificuldades que passa o nosso País na área sócio-econômica-cultural.
Pela ação dos meios de comunicação, principalmente a televisão e a internet, sabemos instantaneamente o que se passa pelo mundo, trazendo a informação, fazendo com que vivenciemos a violência do dia-a-dia em todo o planeta, com todo o medo que medra em nosso meio, também, começamos a preparar as nossas defesas. Como? Ensinamos nossos filhos as artes marciais, ou seja, como matar e não se defender.
                Ora, meus amigos, o erro está na base. Na célula mater da sociedade. A família! É preciso reeducá-la.
Aos pais urge tirar “um tempo” para conversar com seus filhos (conversa franca, sem rodeios). Fazer, por exemplo, a ”hora democrática”, em que todos participem e digam dos seus problemas, (ouvir é preciso). É necessário, que na família existam verdadeiros amigos. Família que conversa, que reza e se diverte unida, permanece unida.
                As entidades,  de uma maneira geral, infelizmente, deixaram de oportunizar a vivência cultural, para se preocupar somente com o lucro que podem auferir.
Portanto, necessário se faz que, em cada oportunidade, os responsáveis, tanto pais, quanto dirigentes, assumam seu papel de verdadeiros cidadãos, preocupados com a violência, com o consumo de álcool e drogas, com os “pegas” e conseqüentes tragédias no trânsito, com a desagregação familiar, que leva qualquer individuo ao desajuste social e moral.
                E, é aí que entra a Tradição. Como exemplo a ser seguido pelas sociedades organizadas, citamos os Centros de Tradições Gaúchas, entre outras entidades tradicionalistas, onde a família é a mola propulsora para um viver saudável, cultural e harmonioso.
Nos CTGs, impera o respeito, não só as tradições como também, ao ser humano. O que era considerado, anos atrás, “grossura”, nota-se hoje, que é o ambiente que desejamos ter, para os nossos filhos.
                Uma verdadeira escola de cidadania, que, obrigatoriamente, não precisa estar localizada num galpão crioulo, mas, pode encontrar guarida, em qualquer ambiente sofisticado e moderno.
                A hora destas mudanças é agora, porque amanhã poderemos engrossar as fileiras de tantas famílias que choram a perda de seus entes queridos, nos descaminhos da vida, nos miasmas pestilentos das drogas, que os tornam verdadeiros monstros, pelos desvios sociais e morais, que levam para a hecatombe a nossa sociedade.

                                ANTONIO PEREIRA DOS SANTOS. Professor de Estudos Sociais e tradicionalista.
               

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Primórdios do espiritismo, como doutrina, no Brasil e sua finalidade!

                                                            ESPIRITISMO
                O espiritismo surgiu num momento de profundo relaxamento espiritual do planeta. O esplendor científico do sec. XlX proporcionara, como ainda hoje, conforto e facilidades materiais, enriquecera o patrimônio intelectual do homem, mas foi impotente para fazê-lo feliz. Dera-lhe um admirável domínio sobre as leis naturais, mas não o tornou melhor. Os sistemas de moral e de filosofia propostos pelos pensadores honestos foram insuficientes para conformar o individuo com um Deus desconhecido e inacessível, um futuro incerto, tenebroso, indevassável! Restava para a religião por um dever fundamental, socorrer o homem culto, senhor da natureza, rico e cheio de comodidades, mas vazio da alegria de viver. O serviço inestimável da religião seria justamente o de reconciliar a criatura com o Criador, despertando-a para as responsabilidades múltiplas no mundo, a fim de que o homem material, prenhe de conquistas científicas, não atrofiasse o homem espiritual, com suas ignoradas e infinitas possibilidades divinas.
Desgraçadamente, porém, todas as correntes religiosas se haviam cristalizado em hábitos ritualísticos, em dogmas pesadões, em literalismos textuais, em sutilezas teológicas.
Observemos: de um lado, o dogmatismo religioso, autoritário e árido, de outro, o positivismo filosófico e cientifico, com suas limitações exageradas, que redundaram num ateísmo lamentável e prejudicial.
Foi por isso que o espiritismo veio. Na verdade,  ele era esperado, de maneira imprecisa, como medida providencial, como socorro do alto. O homem, entre as muitas distrações de leviandades no ambiente transitório da Terra, se esquecera da Pátria espiritual, donde viera um dia, cheio de esperanças, para reeducar, no esforço evolutivo, sua alma rebelde e culpada. Esquecendo-se do Céu, o céu lhe fala, através dos seus irmãos que ficaram, a eterna mensagem da imortalidade triunfante. Vindo, o espiritismo não trazia no bojo de sua doutrina espiritual nenhum programa de agressividade. Não lutaria por uma posição fanática no coração humano. Não seria uma religião a mais, com uma psicologia exclusivista, com um novo código de preceitos mecanizados e obrigações proibitivas. Doutrina de responsabilidade e de liberdade, inicialmente ela vai concordar com o espírito da época, que pedia livre exame e rigorosa experimentação. A fé que apresenta deve ser racionada e não imposta.
Toda a Europa culta se movimenta neste sentido. Até onde se podia arrolar os fenômenos espíritas  na categoria de fraude, embuste ou satanismo. Na Inglaterra, principalmente, nomes ilustres de consagrados na historia cientifica se curvam para a evidência das certezas espíritas. Basta citar os nomes de W. Crookes, Oliver Lodge, Russel Wallace. Na França, pátria do próprio Allan Kardec, que codificou os ensinos novos ditados pelos espíritos e com eles estruturou a chamada Terceira Revelação, eminentes e respeitáveis intelectuais se fazem paladinos da nova Fé, como Flammarion, Delanne, Denis, Rochas. Na Itália, um Bozzano. Em toda parte, a ciência vasculhou, examinou, pesou, mediu, concluiu e se convenceu.
Filosoficamente falando, o espiritismo é uma religião que ajuda o homem na solução de seus problemas. Para todo problema há uma solução. E nossa vida está repleta deles. As noções tradicionais de filosofia, compendiadas mais para fins didáticos do que para a compreensão da personalidade humana e dos objetivos da vida, são insuficientes, incompletas, para nos saciar a mente e o coração. Há dores em nosso caminho, há um destino que nos enlaça e arrasta, cumprindo um plano que ignoramos e que nos toca muito de perto. Quantas incógnitas, quantas apreensões, quantas dúvidas! A esfinge se ergue de novo no areal ardente e repete as palavras terríveis do pobre viajor humano.   Decifra-me, ou te devoro....
A vida espiritual está, igualmente, subordinada a leis. Nosso destino tem a sua, inteligente, lógica e justa. Somos pobres ou ricos, doentes ou sadios, inteligentes ou obtusos, sábios ou ignorantes, em obediência a um principio íntimo de justiça e não a um favoritismo divino. Nossos contrastes sociais refletem posições espirituais diferentes, em virtude da aplicação que fizemos de nosso relativo livre-arbítrio. Tudo deve ser examinado, aprofundado e entendido. A vida não é um caos, mas uma esplêndida sinfonia.
Eis o homem diante de si mesmo. Donde procede ele? Porque vive dessa forma? Para onde o leva seu destino? Que haverá depois da morte? São questões transcendentes que precisam ser enfrentadas e resolvidas, para que os nossos dias no mundo não transcorram entre os gozos, as ambições e os orgulhos. Elas envolvem sagrados interesses de nossas almas. Uma religião para o novo milênio não pode limitar-se à consolação com os valores da fé, mas está no dever, imposto pela evolução, de iluminar a razão, para que tudo seja esclarecido e aceitável. E o espiritismo atende, satisfatoriamente, a essa necessidade do espírito moderno. Fundamentado no Evangelho, ele é a melhor filosofia da vida, indo ao encontro das almas errantes na Terra e explicando-lhes seus destinos, suas origens, seus fins gloriosos através da evolução, suas vidas sucessivas, suas lágrimas e suas esperanças.
A ciência por sua vez, é apenas uma conseqüência natural, porque somente uma religião que se submeta aos processos rigorosos da experimentação será honesta consigo mesma. Para uma época materialista e cientifica é indispensável opor uma filosofia religiosa, que seja também, de base científica. Podemos então dizer que espiritismo: É uma ciência que estuda a natureza, a origem e o destino dos espíritos e sua interligação com o mundo corporal.
                                         O ESPIRITISMO NO BRASIL
                No século dezenove, muitas espíritas eram de parecer que se deveria estudar apenas “O Livro dos Espíritos”, de Kardec, devendo a doutrina ser encarada apenas como ciência; outros  eram de parecer que o Espiritismo deveria ser filosófico e religioso. Denominava-se Doutrina Espírita apenas ao que constava de o Livro dos Espíritos; os estudiosos dos demais livros de Kardec, se chamavam Kardecistas.  Chegou-se a criar um chamado Espiritismo Puro, eqüidistante de “científicos” e “místicos”. Alem destes existia ainda um grupo  que se dedicava com afinco ao estudo das obras de J.B. Roustaing.
O quadro era realmente desalentador e representava verdadeira dispersão. Esse panorama perdurou até quando surgiu no cenário a figura apostólica do Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, espírito moderado e pacificador, que, assumindo a presidência da Federação Espírita Brasileira, conseguiu reduzir as proporções da dispersão generalizada, ate então prevalecente. Se ele não conseguiu equacionar os gigantescos problemas com que deparou, pelo menos, evitou que eles alcançassem maior amplitude, o que fez ate o início do ano 1900, quando adoeceu, vindo a desencarnar no dia 11 de abril desse mesmo ano. Bezerra deixou um movimento espírita com linhas bem mais definidas e com horizontes bem mais desanuviados.
Nesta altura dos acontecimentos, o espiritismo já estava alastrando suas raízes pelos estados brasileiros. Várias entidades foram criadas em âmbito estadual, surgindo grandes vanguardeiros em muitas cidades brasileiras. O trabalho incomparável destes grandes homens representou um verdadeiro embate de pigmeus contra gigantes, mas eles, com suor e lágrimas conseguiram implantar a bandeira do espiritismo em terreno, até então árido. No estado de São Paulo, pioneiros espíritas da estirpe de Batuíra, Anália Franco e Caibar Schutel. Em Minas Gerais, Eurípedes Barsanulfo; José Petitinga, na Bahia e o major Viana de Carvalho, percorrendo vários estados brasileiros, fundando federações e centros espíritas, representavam um grandioso esforço para que a Doutrina dos Espíritos se consolidasse de forma definitiva e tantos outros que foram surgindo em todos os quadrantes do Brasil. A conceituação espírita de Ciência, Filosofia e Religião, passou a ser consagrada pela imensa maioria dos seguidores da Doutrina.
A Doutrina Espírita é sinônimo de Espiritismo. A sua estrutura não comporta qualquer outro gênero de ramificação. A doutrina dos espíritos, ou terceira revelação, foi codificada por Allan Kardec, tem estrutura própria e contornos definidos, jamais podendo ser confundida com movimentos paralelos ou seitas divorciadas daquilo que o emérito mestre francês estruturou nas obras fundamentais do Espiritismo, e que representa a súmula de tudo aquilo que o Espírito de Verdade, prometido por Jesus Cristo, veio revelar à humanidade sofredora.
Podemos dizer que, Bezerra de Menezes foi o consolidador da Federação Espírita Brasileira e o orientador e chefe do Cristianismo espírita entre nós. Ele nasceu em 29 de agosto de 1831, no estado do Ceará. Formou-se médico com muitas dificuldades, fazia literatura e foi chamado de  o “jornalista elegante”. Foi chamado o “médico dos pobres” e não tardou a ser chamado pela política. Era militar e quando foi eleito teve que renunciar à caserna para se engajar na política partidária. Foi também deputado geral, hoje federal, pelo partido Liberal contra o partido Conservador. Combateu os desmandos, as roubalheiras, os escândalos. Durante sua atividade política nenhuma questão social deixou de ter nele um pioneiro: o trabalho, o capital, a escravidão, a saúde pública, a universidade.
                Ainda não existia Allan Kardec no mundo filosófico e Léon Rivail era apenas um ilustre professor de Humanidades em Paris, e já a Corte do império Brasileiro possuía um núcleo neo-espiritualistas, formado de elementos cultos e de responsabilidade, que irradiava por todo o País, por toda a América do Sul e até pela Europa as ondas do seu saber. A este núcleo de cientistas se deve, o preparo do terreno, onde mais tarde, seria lançada a semente do Espiritismo. Era o círculo homeopático. Desde 1818, o Brasil principiara a ouvir falar da Homeopatia. O patriarca da Independência correspondia-se com Hahnemann. A história não registra ainda o nome dos adeptos senão a partir de 1840, ano em que chegaram ao Brasil dois homens extraordinários, que não devem ser esquecidos pelos espíritas: Bento Mure, francês, e João Vicente Martins, português, depois brasileiro. A ação desses dois super-homens não pode ser contada em poucas palavras. Baste dizer: tudo quanto é raiz, tudo quanto é tronco, tudo quando é galho na frondosa árvore homeopática brasileira, tudo se deve aos dois pioneiros. Outros gozaram as flores, os frutos, o perfume. Outros plantaram em campos novos as sementes colhidas.
Bento Mure e Martins eram profundamente neo-espiritualistas. Ambos possuíam o dom da mediunidade. Mure, clarividente; Martins, Psicógrafo. Não se conheciam então as leis metapsíquicas. Reinava o empirismo nos trabalhos de inspiração. Mas quem ler Mure, em “Filosofia Absoluta”, verificará que, antes de chegar a nós a doutrina dos espíritos, ele se dava a transes mediúnicos. Foi devido a uma assistência invisível constante que puderam, os dois, numa terra estranha e ingrata, que tanto amaram, amargar um apostolado inesquecível, recebendo em paga do bem que faziam o prêmio reservado aos renovadores: a perseguição, os ataques traiçoeiros,as ofensas morais e o encurtamento da própria vida. Foram os grandes médicos dos pobres, que o Brasil conheceu. É ainda a Martins que devemos a introdução, em nosso país, da irmãs de caridade e dos princípios vicentinos, em 1843. Ainda na continuação desta linha homeopática, lembramos mais dois notáveis nomes, como pioneiros, no espiritismo, Melo Morais e Castro Lopes.
A cura homeopática envolvia, como envolve ainda hoje certo mistério para o leigo. Nada mais estranho do que a ação rápida, segura e suave de um medicamento diluído até o absurdo. O médico mais materialista, mais ateísta, aparecerá sempre, diante do doente, com uma auréola de misticismo. Ora Bento Mure e Vicente Martins, falavam ainda em Deus, Cristo e Caridade quando curavam e quando propagavam. Aplicavam aos doentes os passes, como um ato religioso. Não o faziam por charlatanismo. Hahnemann recomendava esse processo auxiliar da homeopatia. Foram os homeopatas que lançaram os passes, não os espíritas. Estes continuaram a tradição.
É interessante constatar que José Bonifacio de Andrada e Silva aparece na história da Homeopatia e na história do Espiritismo, em nossa terra, como dos primeiros experimentadores. Contudo, o grupo espírita  mais antigo, que se teria reunido no Rio de Janeiro, foi o de Melo Morais, homeopata e notável historiador.  Freqüentavam  este grupo o Marques de Olinda, o Visconde de Uberaba, o general Pinto e outros vultos notáveis da época.
Isso se teria dado antes de Kardec, por volta de 1853, segundo o” Reformador” de primeiro de maio de 1883. Por isso, o primeiro período espírita é contado desse ano até 1863. O segundo, de 1863 até 1873, o terceiro de 1873 a 1883. O quarto é contado de 1884 a 1894, o quinto de 1894 a 1904, o sexto de 1904 a 1914. Graças ao fato de começar o espiritismo pela nata social, as primeiras noticias de imprensa lhe foram favoráveis, ou pelos menos não lhe foram contrárias. Quando o livro dos espíritos chegou à Corte, já encontrou um meio propício para a sua divulgação. Além de comentários da imprensa, começaram a circular, folhetos sobre a doutrina. Ao terminar o primeiro período em 1863, o espiritismo já era um assunto sério. O segundo período começa com a primeira contestação ao espiritismo. Com um artigo debochado e burlesco, o Diário da Bahia, transcrevera artigo datado de 27 setembro, do Dr. Déchambre extraído da “Gazette Médicale” ao qual os Drs. Luís Olímpio Teles de Campos, José Álvares do Amaral e Joaquim Carneiro de Campos subscreveram uma réplica, publicada no dia 28 do mesmo mês. Foi este artigo que colocou o Brasil em destaque aos olhos de Kardec (Revue Spirite) e marcou, por isso, o início de uma nova fase, na qual apareceram os primeiros centros espíritas nos moldes preconizados por este (Revue Spirite, 1864), quer na Bahia,, quer no Rio, em Sergipe e outros estados. Em 1869, saiu a nossa primeira revista espírita no Brasil: “O Eco de Além Túmulo” monitor do espiritismo no Brasil. Ao entrar o espiritismo mundial na sua segunda época, que principiou com a morte de seu codificador, em 31 março de 1869, não havia ainda entre nós, como quiçá em parte nenhuma, salvo Paris e América do Norte, senão esses grupos particulares, mais ou menos cultos. Já era, entretanto, crescido o número de adepto, contados principalmente entre médicos, engenheiros, advogados, militares, professores e artistas. Bezerra de Menezes, a esse tempo, se entretinha apenas com livros religiosos. Bezerra, repelia semelhante doutrina por ser muito católico. Ele tinha sólido conhecimento em teologia e graças a isso, sua conversão foi um mero fenômeno de recordação. A morte súbita de Kardec, deixara o espiritismo sem chefe e os pretendentes ao cargo apareceram em todos os pontos. Todos queriam uma união dos espíritas em torno de um centro diretor. Todos, porém, queriam ser este centro. O Brasil, refletia a mesma divergência e competição.  Alguns resolveram criar no Rio de Janeiro, um núcleo regular para dirigir o espiritismo e orientar a propaganda. Esta sociedade fundada em 2 de agosto de 1873 com o nome de Confucius, não era uma homenagem ao grande filósofo chinês, mas a um espírito, que vinha desde algum tempo, nos trabalhos particulares do Dr. Sequeira Dias, ensinando elevados princípios de moral. Aí entrou o elemento homeopático com preponderância. Alguns de seus membros tornaram-se mesmo, com o tempo, notáveis médiuns curadores, que só empregavam a homeopatia. Nomes como o Dr. Bittencourt Sampaio aparecem nesta diretoria que tem como presidente o Dr. Sequeira Dias. A divisa da sociedade era: “Sem caridade não há salvação”. Uma das formas da caridade era curar pela homeopatia. Ainda nesta fase, continuava, no mundo invisível, o apostolado de João Vicente Martins, falecido em 1854, e Mure, em 1858. Ao grupo Confucius, que durou menos de 3 anos, se deve a tradução das obras de Kardec, a primeira assistência gratuita homeopática, a primeira revelação do nome do guia do Espiritismo no Brasil. O deputado Bezerra recebeu uma dessas traduções do Livro doa Espíritos e em uma hora de viajem de bonde, onde ele não tinha o que fazer começou a leitura: não encontrara nada de novo, no entanto aquilo tudo era novo para mim...eu já lido ou ouvido tudo o que se achava no livro dos Espíritos. Parece que era espírita inconsciente, ou com se diz vulgarmente, espírita de nascença.
 O Grupo Confucius era espiritista puro. O art. 28 dos Estatutos adotava somente o Livro dos Espíritos e o Livro dos Médiuns. Os Kardecistas principiaram a reclamar. Achavam que o espiritismo puro, sem o Kardecismo, não vingaria no meio popular, numa nação visceralmente cristã. A primeira propaganda deveria ser calcada no Cristianismo. Apoiado no Evangelho, na moral de Jesus, no Kardecismo enfim, o êxito seria uma questão de tempo. Essa opinião era tratada com ardor. Os kardecistas queriam fechá-la.
O “Guia”procurava a conciliação no terreno puramente espírita.
“Nossa missão, como a vossa, é de virmos ao encontro da boa vontade. Cristo disse: “Quando vos reunirdes em meu nome, estarei no meio de vós”. A nós, que não somos o Mestre, cumpre o dever de assistir-vos, encorajar-vos e dizer-vos: Homens de boa vontade, que a fé, a caridade, a união animem vossos corações, para que os bons espíritos sejam convosco. Animados desses sentimentos, que a todos almejamos, vereis aumentar as vossas forças, decupletar os meios de fazer o bem. E se tiverdes humildade para reconhecer que estes fatos são dons de nosso Pai e não o efeito de nossa personalidade, as bênçãos descerão sobre vós e tereis a glória de haver colocado a mão na obra de regeneração, aplicando a lei do progresso. Coragem,fé,  perseverança e seremos sempre convosco. Confucius”.
O espírito Kardec explicava: “Trabalhar na vinha do Senhor é levar aos  vossos irmãos a coragem, a consolação, a resignação  e sobretudo a esperança, quando encarnados e indicar, aos desencarnados, a via da felicidade que perderam. Trabalhai sem cessar e sereis assistidos, esclarecidos e abençoados”.  
Mas o espírito, a quem todos rendiam homenagem, em quem o próprio Confucius e o próprio Kardec, para só falar dos grandes, reconheciam um missionário para o Brasil, parecia apoiar os Kardecistas. Em suas raras e preciosas mensagens, repetia sempre:
 “O Brasil tem a missão de cristianizar. É a terra da fraternidade. A terra de Jesus. A terra do evangelho. Não foi por casualidade que recebeu desde o berço o leite da religião cristã. Não foi sem significação que a viram os primeiros navegadores debaixo do Cruzeiro do Sul. Na nova era e próxima, abrigará um povo diferente pelos costumes cristãos. Cumpre ao que ora ouve os arautos do Espaço, que convocam os homens de boa vontade para o preparo da Era Nova, reconhecer em Jesus o chefe espiritual. Com o Evangelho explicado à luz do espiritismo, a moral de Jesus, semeada pelos jesuítas e alimentada pelos católicos, atingirá a sua finalidade, que é rejuvenescer os homens velhos, que aqui nascerão ou para aqui virão de todos os pontos do globo, cansados de lutas fratricidas e sedentos de c onfraternidade. A missão dos espíritas no Brasil é divulgar o Evangelho em espírito e verdade. Os que aqui quiseram bem cumprir o dever, a que se obrigaram antes de nascer, deverão, pois, reunir-se debaixo deste pálio trinário: Deus, Cristo e Caridade. “onde estiver esta bandeira, aí estarei eu, ISMAEL”.
Em vez de união e harmonia foi a divisão e a discórdia, que surgiram, enfraquecendo o Grupo, para o extinguir em menos de 3 anos. Os Kardecistas o foram abandonando e fundando, nos próprios lares, ou em certos lares, grupos particulares para o estudo exclusivo do “Evangelho segundo o Espiritismo”. Em 26 de abril de 1876, um grande número fundou a primeira sociedade evangélica regular denominada “Sociedade de Estudos Espíritas,” Deus,Cristo e Caridade”. Um dos chefes, Bittencourt Sampaio, presidia os trabalhos e receitava homeopatia sob inspiração. No dia 11 de setembro de 1878, o advogado Antonio Luiz Sayão, vendo moribunda e desenganada a esposa, resolveu acompanhar Cândido de Mendonça até Bittencourt para pedir uma receita aos Espíritos. A homeopatia indicada curou-lhe a mulher em pouco tempo e conquistou para o Kardecismo um dos seus maiores valores. Contemporânea da de Kardec, a obra de Roustaing já era estudada aqui. Bittencourt era rustanista e sayão se tornou o seu melhor discípulo. Não havia ainda fronteira entre Kardecista e Rustanista.
Mas continuou também nessa sociedade a separação entre místicos e científicos, onde só deveria existir cristãos espíritas. Os místicos abandonaram-na e foram fundar em 2 de março de 1880, “a Sociedade Espírita Fraternidade”,levando consigo, segundo diziam, o estandarte de Ismael. Queriam, portanto, ser o centro diretor de Espiritismo brasileiro, do qual Ismael era considerado o chefe espiritual.
Augusto Elias da Silva, ao lançar em 21 de janeiro de 1883, o Reformador, que havia de marcar o inicio do quarto período (1883-1893), era ainda neófito e quase desconhecido. Pelo raciocínio, antes que pela observação, a bastilha de prevenções foi sendo abalada e certo dia, caiu. Rendeu-se de corpo e alma e com tamanho ardor que, entre tantos veteranos, foi quem primeiro escreveu, em junho de 1882, uma réplica à pastoral do mesmo mês e ano em que o chefe da igreja, no Rio de Janeiro, declarava: “Devemos odiar pelo dever de consciência”. Não conseguindo inserir o artigo em nenhuma folha, entrou a alimentar o desejo de possuir um jornal próprio ao serviço da idéias liberais. E quase sozinho, com muitas dificuldades, concretizou a idéia 6 meses depois. O órgão evolucionista O Reformador propunha-se a renovar os costumes. Elias foi à porta liberal de Bezerra de Menezes. Este o aconselhou a seguir naquele momento uma política discreta. Não revidar com as mesmas armas, opor contra o ódio, o amor. Era conveniente conquistar e não combater o católico. Enquanto o Dr. Antonio Pinheiro Guedes, médico homeopatista, com o pseudônimo de Guepian, o marechal Francisco Raimundo Ewerton Quadros, com o pseudônimo de Freq, procediam à analise serena da Pastoral e dos ataques católicos, Bezerra de Menezes, com as iniciais A.M.,comentava o catolicismo do ponto de vista geral, revelando grande cabedal teológico e de história. Desta forma, coube ao Reformador a glória de publicar as primícias daquele que seria depois, a partir de 16 de agosto de 1896, o maior escritor, o maior orador, a maior opinião do Kardecismo brasileiro. Era imprescindível a união dos espíritas. O Reformador defendeu, por isso, o ponto de vista da União Espírita do Brasil, que era criar “um centro, no Rio, formado por delegados de todos os grupos. Em primeiro de janeiro de 1884, Elias e seus amigos Quadros, Xavier Pinheiro, Fernandes Figueira, Silveira Pinto, Romualdo Nunes e Pedro de Nóbrega, fundam a Federação Espírita Brasileira, sob o acróstico: Reunindo em forte, indissolúvel laço A crente comunhão espírita brasileira. O Reformador passa a ser o órgão da Federação. Bezerra não assinara a ata de fundação. Ainda não havia chegado sua hora. O Presidente Quadros, começa então a realizar conferências e consegue adesões importantes para o espiritismo como o Dr. Francisco de Menezes Dias da Cruz, o grande homeopata, o Dr. Castro Lopes, o filólogo, o homeopata, o escritor estimado e muitos outros. Em  16 de agosto de 1886, aconteceu um fato realmente extraordinário. “Um auditório de cerca de 2 mil pessoas da melhor sociedade enchia a sala de honra da Guarda Velha para ouvir em silêncio, emocionado, atônito, a palavra de ouro do eminente político, do eminente médico, do eminente cidadão, do eminente católico, Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, que proclamava aos quatro ventos a sua adesão ao Espiritismo. Desde este memorável dia, o Kardecismo passou a ter um chefe no Brasil. Espíritas, Kardecistas e rustanistas ficaram contentes. Mais adiante, os “científicos o denominaram o primeiro dos místicos”.
No entanto, Bezerra de quando em vez se magoava pela desunião no meio espírita e concita os confrades à harmonia, à fraternidade. Não era possível admitir que gente bem intencionada, desejosa de reformar os maus costumes, de dominar as paixões de homem velho, de mudar a face das coisas, de espiritualizar e cristianizar o meio brasileiro, não fosse a primeira a dar o exemplo de tolerância, unindo-se entre si. A divergência era por questiúnculas de interpretação. Urgia que aparecesse alguém com prestígio maior que o de todos, capaz de fazer em volta de si um partido dominante. Urgia, sobretudo, tirar de certos indivíduos mal intencionados, por delicadeza chamados de “obsidiados”, a liberdade de doutrinar em nome do espiritismo, que adulteravam consciente ou inconscientemente. Duas entidades intra-muros disputava e hegemonia:  a União Espírita do Brasil e a Federação Espírita Brasileira. Em 5 de janeiro de 1889, manifestava-se Allan Kardec através da mediunidade de Frederico Pereira da Silva Junior, o Frederico Júnior, com as “Instruções de Allan Kardec”. Divulgadas as “instruções” Bezerra foi um primeiros que julgaram a comunicação preciosa. Tendo sido convidado, aceitou a presidência da Federação. Convidou, então todos para um congresso que teve lugar em 31 de março de 1889. Convidou a todos para porem de lado qualquer das entidades existentes e formar um “Centro” e logo após era, assembléia constituinte, com a presença de 34 grupos da Corte “decretado o regime federativo como lei orgânica do Espiritismo no Brasil”. Animado  por uma comunicação de seu guia espiritual, Santo Agostinho (A união dos espíritas e sua orientação vos foi confiadas”), desdobrou-se em atividade. Mas continuava a dissenção interna. Não se entendiam os místicos e os científicos. Então o ministro da justiça baixa uma lei declarando fora da lei o baixo espiritismo. Foi uma confusão geral, mas isto serviu para unir os espíritas em torno daquela que era a mais representativa das sociedades, a Federação. Os 4 inimigos do espiritismos cantavam hinos de louvor. O positivismo, arvorado em mentor da recém proclamada república. O materialismo, liberto o Estado da tutela da igreja católica. O racionalismo campeava no Congresso, na Imprensa, etc. O clero, se não estava contente com a situação, acendia contudo velas pelo seu adversário estava metido no código penal.
 Mas para suavizar tantas vicissitudes, veio de Nápoles a noticia de que César Lombroso e outros...diante dos trabalhos de Eusápia Paladino, proclamavam a existência da Metapsíquica. No começou um movimento metapsíquico. O espiritismo, nas rodas cultas, não era mais cuidado como filosofia ou religião, mas como ciência. O decênio 1883-1893, predominantemente cientifico. A presidência foi confiada a Dias da Cruz, espiritista puro, isto é, nem “cientifico”, nem “místico “. O novo rumo foi traçado no editorial intitulado “Sectarismo”, que precisamos conhecer neste trecho: “O espírita está, pois, em seu verdadeiro posto quando se coloca entre o homem de ciência e o homem de fé, não possuindo as crendices de um, nem por igual as negações de outro. Não nos desviemos de nosso lugar. Postos entre a fé e a razão, evitemos os exageros do sectarismo, pois que ele é o verdadeiro inimigo. Nesta época, começa também a assistência aos necessitados na Federação e ela submete a mesma ao seu jugo. A lição moral disso tudo é esta: os que sustentaram a Federação por causa da Assistência permaneceram em ambas até o fim. A lei talvez seja esta: Os que defendem o Espiritismo,  não pelo que encerra de cientifico, filosófico, religioso ou utilitário, mas pela caridade que ele pode praticar, esses ficarão até o fim. E serão salvos.
                               Finalidade imediata do Espiritismo.
A filosofia moral da antiguidade, afirmou, pela boca de Sócrates, que só é útil o conhecimento que torna os homens melhores. O mesmo devemos dizer relativamente às religiões.  Seu  valor fundamental é promover o aperfeiçoamento  moral da criatura. Quando as crenças se reduzem a um simples mecanismo devocional, com práticas externas apenas, sem alterarem a  natureza espiritual do homem, perdem sua finalidade nobre de reintegrar a criatura na legítima adoração a Deus, num método honesto de viver e no espírito de  solidariedade humana.
Cristo é um educador e seus princípios são essencialmente reformadores. O Céu, segundo o seu pensamento  constante, só se conquista através dos estreitos caminhos do amor. O espiritismo, na sua parte moral, é uma reafirmação da lei evangélica, de modo que ele tem de ser antes de tudo, uma escola de reforma espiritual, onde cada um aprenda a conhecer-se e a corrigir-se de seus milenários erros e inferioridades. Eis a razão por que não se admitir Espiritismo sem Evangelho. Se ele fosse apenas uma seita, com rituais e preceitos copiosos, iria somente aumenta o número de credos, sem maior alcance evolutivo. Mas não é assim. É seu objetivo transformar maus em bons, egoístas em generosos, violentos em mansos, perversos em compassivos, ateus em crentes.
São bem práticos, pois, os fins imediatos do espiritismo. Não se trata, como a ignorância propala há anos, de uma doutrina de mortos em antagonismo com a vida cotidiana. Ao contrário, ela valoriza a vida. A existência mais inexpressiva. A verdadeira religião, a que Cristo nos ensinou há mais de dois mil anos, entre aflições e amor, começa no coração do homem.
Eis, pois, o Espiritismo, tão incompreendido e tão agredido, a cumprir em elevado programa no novo milênio, melhorar a sociedade, aperfeiçoando os indivíduos, tratar do organismo enfermo, medicando as doentes que o compõem.
                “Permita Deus que os espíritas a quem falo, que os homens, a quem foi dada a graça de conhecerem em Espírito e verdade a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo, tenham a boa vontade de me compreender, a boa vontade de ver nas minhas palavras unicamente o interesse do amor que lhes consagro”.  Allan Kardec.

Bibliografia pesquisada: TOMO l da FEB- Princípios e Fins do Espiritismo- Subsídios para a História do Espiritismo no Brasil

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

 Porque sou  Tradicionalista
                Inspirado, no meu grande mestre do tradicionalismo, o saudoso, Euclides Pereira Soares, principal responsável pela implantação do culto às tradições Gaúchas em Santa Cruz do Sul, autor do primeiro Jornal tradicionalista do Estado, O Tropeiro, fundado em 1960, devo inicialmente dizer que sou tradicionalista, porque:
A tradição e o instinto tradicionalista, estão embasados em dois fundamentos indestrutíveis:
-a natureza do Criador, eterno e imutável e a natureza humana com sua reverência elementar, perante os antepassados, com ligação essencial à sociedade e sua herança heráldica transmitida pelas gerações do passado.
                Sobre estas bases, eternas como as montanhas de granito, nas quais arde a tríplice chama da divindade, profunda como os mais recônditos mistérios do ser humano, sagrada como os mais longínquos ecos da voz de DEUS, se constrói o tradicionalismo do homem bom e verdadeiramente humano.
                Não é um sentimentalismo que o vento traz e o vento leva, nem a melancolia de fulgurantes ocasos, nem o calafrio dos museus e das recordações históricas.
                É a convicção haurida de premissas inatas e evidentes. É a solene afirmação do que DEUS deu de bom e cristamente humano aos nossos avoengos.
                É a  atitude de reverência e amor elementar depositada pela providência no berço de cada ser humano.
                Assim entendo o tradicionalismo, e não há, salvo melhor juízo, outra concepção sobre o assunto.
                O tradicionalismo, é um valor positivo, sem visos de polêmicas ou menoscabo de outras culturas.
                O tradicionalismo verdadeiro é nobre demais para viver de flutuantes paixões, alimentar animosidades contra outros homens e outros modos de ver e pensar.
                Acho até que, a única maneira segura de lançar pontes humanas além fronteiras e não muros, raciais e lingüísticas, é o respeito perante a própria tradição, pois só o homem dotado de reverência elementar perante esta Tradição, possui a necessária envergadura ética para alçar vôo, rumo ao reino do humanismo total.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Buenas...                      
                                      Fandangos na Semana Farroupilha?
        Já tinha dito que não me envolveria mais com assuntos pertinentes ao Enart e outros do nosso município, até para evitar discussões que não levam a nada. Só quero esclarecer aos desavisados ou mal-intencionados, não sei, que a Semana Farroupilha de Santa Cruz do Sul, começou em 1966 e desde esta época, sempre foram feitos, FANDANGOS, em nossos galpões. O que isto quer dizer? Os que fazem os cfors, e eu já os fiz todos, porque ajudei a criá-los nos 10 anos de conselheiro titular do MTG, deveriam saber, é que, o fato folclórico se torna tradicional, a partir de 25 anos. 
      Então é muito simples, já faz 44 anos em que na Semana Farroupilha de Santa Cruz do Sul, são realizados fandangos. Portanto não cabe nenhuma discussão, nenhuma consulta a outra autoridade a não ser a pura e simples Tradição que não pode ser modificada ao prazer daqueles que desconhecem a história e que ainda chamam os mais antigos tradicionalistas de ultrapassados. Ora, meus senhores, se manter a palavra empenhada, ser uma pessoal leal, respeitar as autoridades constituídas, respeitar seus avoengos, os bons feitos dos nossos antepassados, respeitar a história deles, é ser ultrapassado, então eu o sou com muita honra, porque não sou tradicionalista de plantão.
      Nunca traí meus amigos a troco de um cargo, ou coisa parecida. Em suma, voltando aos fandangos, pergunto: quantos fandangos os nossos CTGs fazem durante o ano? Praticamente nenhum. Nem na posse ou aniversário, salvo raras exceções, fazem o nosso tradicional fandango. É só jantar-baile ou baile a gaucha, não é assim? 
      Portanto, volto a frisar, acima de 25 anos, vira Tradição e não pode ser modificado. Então não tem a desculpa da mostragem aos nossos convidados a paisana. O que os nossos visitantes querem mesmo, é ver o que tem de mais puro nos nossos CTGs, porque dançar, eles dançam em qualquer lugar.
Os nossos CTGs devem ser, Templos de dignidade e amor à Terra. Somos uma sociedade diferente, não é o que todos dizem? 
      Vamos manter os padrões já adquiridos com muita luta, pelos antigos tradicionalistas, que eram até apedrejados em nossa cidade, por vestirem uma bombacha ou roupa de prenda. Nomes como Euclides Pereira Soares, Norberto Adam, Artur Bugs de Andrade, Armindo Lemos, Ernestor Cardoso, Ercides Figueiredo, Ari de Freitas Lopes, Juarez de Freitas Lopes, Alfredo dos Santos, Paulo Bergenthal, só para citar alguns que não estão mais conosco, deveriam ser honrados, porque essa luta inicial deles, foi carregada de desprezo e de deboche em muitas ocasiões, numa terra ainda inóspita ao tradicionalismo gaúcho.
Isto sim, meus amigos, é Ser tradicionalista. 
         Portanto, um tradicionalista nunca é ultrapassado, ele é na verdade, o espelho do passado. 
O Movimento não pode ultrapassar a barreira da Tradição. Esta sim, tem que estar acima de qualquer novo invento, que não se justifica em nenhum momento.
         Ou somos Tradicionais ou somos modernos, os quais, daqui ha algum anos, já permitirão a entrada nos nossos Templos, dos brinquinhos, das drogas, dos bailões que infelizmente infestam a nossa sociedade. 
         A atualização não pode corromper a Tradição. Mantenhamos a nossa sociedade tradicionalista pura, intacta, daquilo que poderá apodrecê-la, dos cupins que poderão corroê-la, dos aproveitadores da hora.
         Inferindo, não estou aqui para polemizar com ninguém, até porque Tradição é também cultivar e preservar as amizades e quero pedir vênia, se algum dia feri ‘alguém porque não era essa a minha intenção. Quem me conhece verdadeiramente sabe, que o que tenho que dizer, o digo de peito aberto, olho no olho, como sempre fiz.
        Estou ao dispor daqueles que de mim precisarem, sem nenhuma mágoa ou rancor de quem quer que seja. Para encerrar, lembro desta frase que deveria estar no frontispício mental  de cada um: Ninguém colhe um presente, nem semeia um futuro, se não houver um passado.
acho que com este esclarecimento, fecha-se a página da polêmica, na nossa Semana Farroupilha.
              Antonio Pereira dos Santos. Tradicionalista.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

                                          Depressão
Pode-se afirmar, que a depressão é ocorrência  que se manifesta como um distúrbio do todo orgânico e resulta do problema do quimismo neuronal, com a falta de alguns dos neuroptideos ou neurocomunicadores responsáveis pela alegria, o bem-estar, o afeto, tais como a dopamina, a serotonina e a noradrenalina...
Desde o transtorno depressivo infantil ao juvenil, ao adulto e ao senil, manifesta-se, também, nas fases pré-parto, pós-parto, como também psicoafetiva, sazonal, bipolar, unipolar, com as alternâncias de humor,  não pouca vezes, avançando para transtornos psicóticos mais graves com aflitivas alucinações ...
Aprofundando-se, porém, a sonda investigadora a respeito desse cruel distúrbio comportamental da área da afetividade, a doença se exterioriza em razão do doente, que é sempre o Espírito reencarnado  em processo de reequilíbrio dos delitos anteriormente praticados.
Deste modo, quase todas as terapêuticas da atualidade, contribuindo para o reajustamento das neurocomunicações, através dos medicamentos eficientes, assim como de incontáveis  propostas de libertação do paciente, devem ter em vista a recomposição moral e espiritual do mesmo.
Identificada, desde remotas eras, com denominações variadas, como melancolia, psicose maníaco-depressiva, e mais recentemente como transtorno depressivo, no ocidente foi estudada mediante os recursos da época pelo eminente pai da Medicina, Hipócrates, sendo discutida por Galeno e muitos outros até a atualidade, permanecendo, no entanto, agressiva e dominadora, desafiando as  conquistas da inteligência e do sentimento.
A depressão é doença da alma, que se sente culpada, e, não poucas vezes, carrega, esse sentimento no inconsciente, em decorrência de comportamentos infelizes praticados na esteira das reencarnações, devendo, em conseqüência, ser tratada no cerne da sua origem.
Pode-se afirmar que, na maioria dos transtornos depressivos, a causa apresenta-se como de natureza espiritual, ou após desencadeada pelos fenômenos orgânicos, psicológicos ou fisiológicos - torna-se mais complexa em razão da influência perniciosa dessas personalidades desencarnadas.
Quando chegaste à Terra, a noite medieval espalhava o terror, mantendo a ignorância em predomínio  de que se locupletavam os poderosos para esmagar os camponeses e os citadinos pobres. Havia superstição e medo em toda a parte, caminhando a humanidade sob o estigma do pecado e do vicio que eram punidos com impiedade.
Tu chegaste, e apresentaste a Verdade, que nunca mais deixou de iluminar a sociedade. Existiam  perversidade  sem disfarce e a discrimação de todo o tipo, havendo-se tornado o homem o lobo do homem, assim ficando desprezível.
Na tua simplicidade santa cantaste o hino de louvor a todas as criaturas, chamando-as docemente de irmãs.
Permanecia epidêmico o ódio, que espalhava o bafio pestilento das guerras intérminas, deixando os campos juncados de cadáveres que apodreciam a céu aberto.
Tua voz, suave e meiga, entoou, então, o canto da paz, e te fizeste o símbolo da verdadeira fraternidade que um dia se estenderá por toda a Terra.
Há música no ar, silêncio nos corações e lágrimas nos olhos de quase todas as criaturas destes dias de inquietações e de incertezas. Em decorrência, há uma grande expectação, denunciando a espera....
Volta, por favor, irmão Alegria, a fim de que a tristeza de desamor bata em retirada e uma primavera de bênçãos tome conta de tudo. O céu azul que te agasalhou e os campos verdes com lavanda perfumada que os teus pés feridos pisavam, continuam aguardando-te. Há multidões que te vem louvar, bulhentas e festivas, mas indiferentes ao teu chamado, sem valor para te seguir.
Canta, então, novamente, a tua oração simples, a que nos brindaste naqueles dias inesquecíveis, e onde houver desespero faze que se manifestem a paz e a esperança, e em razão da ameaça da morte iminente, o ser ressurja em júbilos ante as certezas da ressurreição, porque é morrendo que se vive para sempre, irmão Francisco de Assis. Irmão Sol, a grande noite moral da atualidade te aguarda ansiosa.
Porque se arraiga a depressão:
Mendacidade- costume arraigado no inconsciente humano, em decorrência dos hábitos doentios do passado. Ela também resulta dos processos insalubres da educação doméstica, especialmente,  nas famílias com desajustes de várias formas.
A família é, o laboratório onde se forjam os valores morais edificantes, mediante as contribuições valiosas do amor da disciplina, corrigindo-se condutas enfermiças e trabalhando-se valores espirituais que devem predominar em a natureza de cada um de seus membros. Com mendacidade, mentira, falsidade, vive-se em conseqüência numa sociedade que se deslumbra com o fausto, a ilusão como fenômenos perfeitamente naturais, mas felizmente insustentáveis e decepcionantes.
Alguns quadros de depressão psicológica, tem inicio na ausência do autoamor no paciente, que se não amando, considera-se indigno de ser também amado, porque reconhece a abjeção interior em que se encontra.
Nos transtornos de comportamento, além dos fatores endógenos e exógenos identificados pelos estudiosos das doutrinas psicológicas, predominam os de natureza espiritual, obsessivos, que defluem dos comportamentos indignos do ora encarnado em relação àqueles que ficaram no Mais Além e vêm cobrar-lhe a necessária reparação. Mantendo os comportamentos levianos e mendazes de ontem, oferecem campo psíquico para que se instalem as enfermidades que requerem cuidadosos procedimentos específicos, a fim de auxiliar o perseguidor e amparar o perseguido. Enfermos da alma, portanto, são todos aqueles que optam pela mendacidade que os conduz ao abismo. Solução, o evangelho de Jesus...
Renovando atitudes- Existem atitudes doentias que tipificam determinados indivíduos que, no entanto, foram os responsáveis pela ocorrência em que permanecem. A arrogância, por exemplo, é uma atitude que mascara o ser humano tímido, dando-lhe a aparência de um poder que não é real. Enquanto desfruta que expressa temeridade, assim se comporta, ocultando o conflito que o mantém em constante vigília perante os demais. O seu culto à personalidade é tão desmedido que não se permite aceitar opiniões  que pareçam divergir da sua, entronizando-se na vacuidade dos seus propósitos mesquinhos, porque soberbos.
Outro problema comportamental é o narcisismo que é o devaneio mental de deslumbramento em torno da autoimagem.
Já o déspota padece de atrofia dos sentimentos nobres e, por isso, exibe o poder como forma de proteger-se das investidas da emoção, gerando temor por ser incapaz de amar.
O bajulador, é alguém que perdeu o endereço de si mesmo e atira-se em desespero  na direção dos outros, na expectativa de ocultar os medos de que se sente possuído na algazarra que produz.
O hipócrita, receia ser descoberto nos dédalos sombrios onde se refugia, desconhecendo a sua realidade, desse modo, concordando com tudo e todos, em forma de autoproteção, evitando  sentir-se a sós.
O sexólatra, desvia as emoções nobres para as sensações fortes e animalizando-se, vive erotizado procurando demonstrar as sua habilidades, inseguro de seus próprios recursos
O avaro, deposita nos bens materiais toda sua garantia, incapaz de valorizar os bens morais e mentais de que dispõe tornando-se apenas mais um infeliz.
De tal modo o individuo se adapta aos comportamentos mórbidos que os considera naturais e legítimos. O que fizeres na Terra, seguirá contigo além túmulo, essa porta que se abre na direção da vida indestrutível.
Enquanto enxameiam as tragédias, os crimes seriais, com o suicídio imediato de seus autores, os multiplicadores de opinião utilizam-se da mídia alucinada para a saturação  das mentes com noticias perversas que estimulam psicopatas à prática de hediondez que não lhes havia alcançado a mente. A pedofilia alcança patamares dantes nunca imaginados, graças a Internet.
O ser humano estertora... em razão da falta de orientação sexual, nestes dias de disparates, a gravidez entre meninas desprevenidas aumenta de forma chocante, pela vulgarização, sem preparo para a maternidade, jogando nas ruas diariamente, crescente número de abandonados.
Restaurando as palavras de Jesus, propõe uma revisão ética dos postulados do Cristianismo também ultrajado, a fim de que se revivam os comportamentos do Mestre Divino e dos seu primeiros discípulos, dando lugar à lídima fraternidade, a iluminação de consciências, ao serviço da caridade.
O rancor, essa aversão profunda, consciente ou não, que alguém experimenta  contra outrem, é filha espúria do orgulho, esse dileto companheiro do egoísmo, que não admite ser desconsiderado ou sequer enfrentado nas mesmas condições. O rancor é enfermidade moral que assinala muitos seres humanos. O orgulho humano é mácula que desmerece a beleza do diamante espiritual que se é. Se alguém te inspira esse sentimento perverso e escuso, evita aprofundar-lhe as causas desconhecidas. Sendo resultado de algum acontecimento atual que te amargura, não acumule os tóxicos do ódio nas tuas delicadas engrenagens mentais. Abre o coração à fraternidade, e compreenderás como é possível diluir os vapores venenosos do rancor ao sol da compaixão. O antídoto, portanto, do rancor, é o perdão, gentil e nobre, que une as criaturas como verdadeiras irmãs que se auxiliam pela senda libertadora.
Toda existência humana obedece a uma planificação cuidadosa, mediante a qual acrisola os sentimentos que se ampliam, facultando a inteligência penetrar na indefectível Lei de Causa e Efeito. Toda marcha por si mesma, impõe esforço, obediência ao programa, paciência para vencer os trechos a percorrer.
O ser humano possui em germe a tendência para a abnegação, esse devotamento fraternal e sacrificial em favor de um ideal enobrecido, ou de outra criatura. A abnegação é filha dileta do amor que se desdobra em serviço, facultando o crescimento íntimo daquele que o cultiva. Quando se instala na conduta, deixa de ser sacrifício. Há exemplos edificantes de mártires, de heróis e de santos da abnegação vivenciando, nestes momentos, a sua entrega total a Jesus, qual fizeram Francisco de Assis, Vicente de Paulo, Tereza D’Avila, Mohandas Gandhi, Madre Teresa de Calcutá e incontáveis servidores do Bem.
À semelhança de Jesus que desceu ao vale do sofrimento, após a ressurreição, a fim de resgatar Judas Iscariotes da própria insânia e facultar-lhe nova oportunidade, esses mensageiros da caridade, que ascenderam aos páramos da luz, renunciam, momentaneamente, à ventura que merecem, a fim de ajudar os náufragos da retaguarda, que suplicam socorro sem dar-se conta.
Narra-se que o príncipe Sidarta Gautama, após ter-se iluminado, oportunamente interrogou os seus discípulos, indagando qual era o oposto de morte, e eles responderam que era vida. Após reflexionar por momentos, o nobre mestre redargüiu, tranqüilo, que o inverso de morte é  renascimento, porquanto sempre se está na vida, quer se perambule no corpo físico ou fora dele. Morte, portanto é renascimento, sono momentâneo que faculta o despertar em novo campo vibratório. Cada um desperta  conservando os valores com os quais adormeceu.
Em virtude das heranças ancestrais, mantém o espírito vínculos com as tendências perturbadoras que, com mais facilidade, desabrocham no seu mundo interior, inspirando-lhe condutas enfermiças, do que aquelas que seriam as idéias para o seu comportamento. Não raro, os hábitos doentios que assinalaram reencarnações anteriores se expressam, restabelecendo os liames emocionais com as condutas infelizes anteriormente mantidas. Tem cuidado com teus pensamentos e pendores, porque te constituem antenas que atraem os semelhantes vibratórios  paras as correspondentes de que ninguém escapa. Mesmo que identifiques tendências inferiores no teu comportamento, o que é compreensível,  trabalha para superá-las, substituindo-as pelos anseios de enobrecimento e de valor com que podes atingir as cumeadas do progresso durante a atual reencarnação.
Desde o momento que o espírito adquiriu a capacidade de pensar a fim de agir de maneira consciente, o livre-arbítrio liberou-o dos automatismos naturais a que se encontrava submetido.  Foi-lhe facultado o ensejo de eleger o bem ao invés do mal. Certamente o próprio livre-arbítrio possui limites ante o determinismo que estabelece as regras do desenvolvimento evolutivo, no qual todos se encontram situados, não  podendo, portanto, ultrapassar a fronteira do mérito de cada pessoa.
O ser humano é assinalado por marcas que são gravadas indelevelmente em seu caráter. Felizes daqueles que podem assinalar-se por marcas que mudam no transcurso da mesma existência. Quando se pronuncia o nome de Judas, logo lembramos a marca da traição, embora, muitas realizações honestas e saudáveis que foram praticadas antes e depois do ato ignóbil.
Referindo-se a Simão Pedro, o apóstolo Galileu, a marca do negador é acionada rapidamente. Evocando-se o nome de Maria magdala, sombra da conduta irrefletida e insensata envolve-a, não obstante a renovação moral que se impôs de tal maneira elevada, que lhe facultou ser a primeira testemunha da ressurreição. Qualquer referência a João Evangelista, e ei-lo identificado como o discípulo amado. Assim sendo, permite-te assinalar pela marca do Cristo, que são a bondade e o amor, a mansidão e a caridade, enriquecendo-te de bênçãos de harmonia e de felicidade ainda nesta existência corporal.
Mede-se a responsabilidade em torno dos atos de um individuo de acordo com o nível de consciência moral em que se encontra. Sendo a sua fatalidade a conquista da consciência cósmica, é natural que esse desenvolvimento de-se de maneira adequada, insculpindo no cerne cada conquista que o capacita para vôos mais altos em direção ao infinito.
Saúda o dia nascente com alegria de viver aureolado pela gratidão de Deus. Cada novo dia é abençoada  oportunidade de crescimento espiritual e de iluminação interior.
O sofrimento faz mal, no entanto, não é um mal, porque oferece os recursos valiosos para a aquisição do bem permanente.
A alegria não é encontrada em mercados e farmácias, mas nos recônditos do coração que sente e ama favorecendo-lhe o surgimento como um continuo amanhecer. Basta que se lhe ausculte a intimidade, e ei-la triunfante sobre a noite das preocupações. Sempre que possível expressa a tua alegria de viver. Liberta-te, mesmo que te seja exigido um grande esforço, das heranças primárias filhas da agressividade, do inconformismo, dos impositivos egoístas que te elegem como especial no mundo, e considera que fazes parte da grande família terrestre, sujeito, como todos os demais, às injunções dos mecanismos da evolução. Alguém que possua alegria de viver, já possui um tesouro.
Comumente, ouve-se justificativa para alguém escusar-se ao serviço de socorro ao próximo, como, por exemplo, a alegação de que não é perfeito e, portanto, não possui as condições exigíveis para o exercício das ações de enobrecimento. Oferecer-se um copo de água fria ao sedento, doar-se uma côdea de pão ao esfaimado, um vaso de leite ao enfermo, uma modesta moeda ao necessitado, um gesto de compaixão, uma palavra gentil, um aperto de mão, são tão espontâneos fenômenos humanos, que não exigem elevados sentimentos morais, bastando somente o desejar-se auxiliar.
Certamente, a culpa é algoz impiedoso que se insculpe na consciência e, à semelhança do ácido, corrói as fibras emocionais de suas vítimas, enquanto é conservada. Por esta razão, deve ser racionalizada de maneira tranqüila e diluída mediante as aplicações dos valiosos dissolventes do amor em forma de edificações de outras vidas. Desta forma, existem marcas psicológicas ancestrais, que afligem, mas podem ser anuladas mediante o conhecimento da realidade e dos legítimos valores morais, que são as regras de bem viver, exaradas do evangelho de Jesus e sintetizadas no Seu conceito sublime, que é, não desejar nem fazer a outrem, o que não gostaria que lhe fosse feita. A felicidade somente se instalará na terra, quando as criaturas humanas compreenderem que o auxilio recíproco é recurso precioso para o equilíbrio entre todos.
No turbilhão da modernidade, quando a pessoa parece ter perdido a dimensão do tempo e o valor do espaço em contínua refrega para ter e poder, a fé religiosa diminui de intensidade em muitas mentes e sentimento. O enfoque materialista, sobrepõe-se  à formação religiosa anterior, como se a mesma estivesse ultrapassada, porque canhestra e inoportuna, já não merecendo a dedicação de alguns minutos diários pelo menos, para as reflexões que proporcionam a alimentação da alma.
Excluindo-se as expiações pungitivas e indispensáveis ao reequilíbrio espiritual, as provações constituem abençoado elenco de experiências iluminativas, graças às quais é possível uma existência digna, avançando no rumo da felicidade. Muitos indivíduos, vivem a remoer mentalmente os acontecimentos afligentes, a comentá-los com tanta freqüência que dão a impressão de haver a sua caminhada uma via crusis sem trégua. Esta postura raia, as vezes, à condição patológica de masoquismo, em face do prazer mórbido de privilegiá-la em detrimento das ocorrências felizes e favorecedoras de alegria.
A admirável senhora Helen Keller, embora cega, surda e muda, viveu em constante alegria, tornando-se uma semeadora de esperança e de bom humor para milhões de outros seres atormentados nas suas expiações retificadoras, havendo dedicado a existência a encorajar o próximo através de memoráveis discursos e livros formosos. Louis Braille, igualmente padecendo de cegueira, transformou os seus limites em bênção para os companheiros invidentes, criando o alfabeto para o tato. Beethoven, em sua surdez total, utilizou-se do silêncio profundo para compor as últimas sinfonias da sua existência e, particularmente, a nona, A coral, considerada como um verdadeiro coroamento da sua obra. Vicente Van Gogh, atormentado pela sua esquizofrenia, e cuja existência foi um fracasso, conseguiu, no entanto, pintar com esmero e realismo, refletindo o seu estado interior. O Aleijadinho, apesar da injunção perversa da hanseníase, transformou pedras em estátuas deslumbrantes. Apesar da tuberculose que o consumia, Louis Pasteur prosseguiu nas suas investigações em torno dos micróbios, oferecendo incalculáveis benefícios à saúde da humanidade.
Depois que o ser humano desenvolveu o intelecto e a razão, deu-se conta de que essas conquistas não lhe bastam à existência, porque não o preenchem interiormente. No vazio existencial que o aturde, desenha-se-lhe a necessidade da autoiluminacao, isto é, do autoencontro, da autorrealizacao.  Ocorre quando há uma predisposição psíquica, as vezes, também, inesperadamente, qual sucedeu a Buda, a São Francisco e a milhares de outros, acontecendo, de igual maneira, quando o ser se encontra sob imensa emoção, conforme sucedeu com Saulo, ao ver Jesus, às portas da cidade de Damasco, ou discretamente, no silêncio da mente e do coração. Com a iluminação, adquire-se sabedoria, esse estágio que vai além do conhecer, alcançando o altiplano moral do ser, do encontrar-se no mundo com todos e não estar amordaçado nem aprisionado a ninguém. A autoiluminacao é também a mais eficaz maneira compreender os outros, porque o indivíduo se conhece a si mesmo, após haver descoberto de onde veio, para onde vai e como alcançar  o novo patamar da felicidade. A iluminação não tem limites, porque seu campo de expansão é o infinito.
Com o advento do espiritismo, o ser humano compreende o sentido e o significado da sua existência na terra. De imediato começa a romper a carapaça do ego, descobrindo as formosas oportunidades de crescimento moral e espiritual, saindo das paisagens limítrofes das paixões inferiores e do seu cárcere, às vezes, dourado, onde fixou domicílio.
O centro espírita, na sua condição de escola de educação de almas, de hospital, de oficina e de santuários, no qual o amor se expande, passa a constituir-lhe o lugar ideal para aprender a servir, cooperando em favor da iluminação das consciências e da expansão do bem em toda a Terra. Mantém-se vigilante e serve sempre!
A mediunidade dignificada pelo conhecimento do Espiritismo transforma-se em instrumento de autoiluminacao que deve ser colocado a serviço do bem geral, sem qualquer tipo de ostentação ou de vaidades.
Mensagens apocalípticas são apresentadas com datas previstas para a destruição do Planeta, em verdadeiros projetos de apavoramento das criaturas, em nome de revelações destituídas de autenticidade. Existe muito sofrimento na Terra esperando orientação, terapia e libertação.
O espiritismo é o Consolador, sem dúvida, que Jesus prometeu. Veio para enxugar lágrimas, mas, sobretudo, para erradicar a causa das lágrimas, orientando as pessoas e promovendo-as, de modo que evitem comprometimentos negativos e comportamentos insensatos.
O mundo está repleto de acusadores, de cruéis censores, de discutidores perversos e vazio de servidores do bem e da caridade. O momento de divulgar a imortalidade da alma e a justiça divina, através da reencarnação, é agora.
Na existência de todas as criaturas surgem momentos de grande aflição, convidando à reflexão, à análise dos objetivos reais da grande viagem corporal. É natural, portanto, que cada fase do processo de crescimento espiritual experimente determinadas aflições que fazem parte do seu mecanismo de superação das injunções primárias, proporcionando-lhe mais recursos que lhe facultam o entendimento dos valores legítimos que devem ser cultivados. Sucede que o planeta de provas e expiações é hospital-escola ainda assinalado pela presença do sofrimento que se apresenta como calamidades, fenômenos destrutivos, abandono e angústias...
De alguma forma, as próprias criaturas que o habitam são responsáveis por tais agentes destruidores, em face da suas construções mentais, das fixações inferiores em que se demoram, cultivando emoções negativas que favorecem a proliferação dos vírus, cada vez mais resistentes e portadores da faculdade de mutação.  Cada criatura é, na realidade, aquilo que cultiva na sua casa mental. Jesus disse: Tudo que pedires a Meu Pai, orando, Ele vos concederá, demonstrando que a plena sintonia com a poderosa Fonte da Vida produz uma correspondência entre aquele que ora e o Genitor Divino.
Pode-se sintetizar o comportamento humano em três atitudes existenciais: na miséria, na produtividade e no ócio. A miséria pode expressar-se sob vários aspectos, embora seja vista como aquela exclusivamente de natureza econômica. Existe também a miséria de ordem moral, aquela que se expressa da perda dos valores éticos, empurrando para os abismos da degradação espiritual, da perda de dignidade e de consciência.
A produtividade, por sua vez, abarca a grande massa dos que trabalham, que aspiram a melhores condições existenciais, amealhando valores morais, intelectuais e econômicos com que edificam lares, constroem as famílias e promovem a sociedade.
Por fim, o volumoso número daqueles que transitam no ócio, saturados das comodidades em excesso, da bajulação enganosa, da facilidade com que fruem os prazeres que, por mais que  se renovem, não preenchem o vazio existencial. Assinalando algumas dessas condutas, chega-se ao estresse, ao cansaço perturbador que desvariam e infelicitam. Aturdidos, os primeiros e os últimos, perderam o sentido existencial, o significado psicológico da vida. Tornam-se cadáveres que respiram, quando não se deixam devorar por aflições descontroladas.
A conquista do sentido existencial é proposta de Jesus, quando afirmou, enfático. Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. (João: 5-17).
Uma organização fisiológica saudável, é bem de valor inestimável que deve ser preservado a qualquer custo. Saúde, portanto, é bem estar, harmonia psicológica, equilíbrio dos sentimentos e dos anseios. Enfermidade, no entanto, é o resultado, de comportamentos incorretos que favorecem a distonia emocional com as suas conseqüências perniciosas.
Não obstante, remanescem em alguns indivíduos, apesar da fé raciocinada, vínculos com a cegueira ancestral que os condicionam a acreditar de uma forma e conduzir-se de outra. Toda vez que uma vicissitude os toma, o hábito da submissão e do medo os surpreende impondo neles comportamentos estranhos e perturbadores.
Mede-se a grandeza de um ideal pela resistência que proporciona àqueles que o abraçam.
Buscai a verdade, e a verdade vos libertará- propôs Jesus. Certamente, referia-se a verdade profunda, àquela que diz o ser que se é,  qual a finalidade de sua existência na Terra e as razoes que explicam os sofrimentos, os desafios e as dificuldades que defronta na sua trajetória autoiluminativa. Mesmo Jesus, quando interrogado por Pilatos sobre a verdade, silenciou, porque aquele administrador mesquinho não podia entender. Não obstante, informara antes que todo aquele que é da verdade ouvia-lhe a Voz. (Jo: 37 e 38 ). A verdade, portanto, transcende a indumentária lingüística para tornar-se um estado interior de conquista espiritual, característica dos espíritos nobres e sábios.
Nunca imponha a tua verdade, defendendo-a com vigor, toda vez quando fores convidado a expressá-la
Expõe o que pensas com tranqüilidade e bem-estar, de maneira fácil e simpática, que a torne atraente e não repulsiva.
Evita o puritanismo que te jactaria diante daqueles que ainda permanecem na ignorância de determinados conhecimentos, expressando-te sem complexidades nem arroubos de cultura vazia. Por muito falar, poucos fazem-se entendidos. Silencia quando perceberes que o momento não é próprio, as circunstancias não são favoráveis, aguardando a tua oportunidade sem pressa, nem aflição. Nem todos estão  preparados para tomar conhecimento de determinadas informações que mais os afligirão do que os confortarão. Evita os diagnósticos desesperadores. Aquele que te procura necessita de orientação e não de intimidamento, de conforto moral e não de acrimônia.
Se alguém é portador de algum problema obsessivo, por exemplo, que detectas, não o amargures com a informação assustadora, que ele não tem capacidade para digerir. Encaminhar o paciente às atividades de estudo, do esclarecimento espiritual e moral, conclamando-o à reflexão, à transformação de conduta pessoal para melhor, abordando as bênçãos de saúde que o espera, caso resolva-se por ser feliz. Sê simples no falar e, sobretudo, no esclarecer.
O corpo humano é a mais grandiosa obra de engenharia que se conhece. O seu aparelho circulatório, que mede cento e cinqüenta mil e cento e noventa mil quilômetros de artérias, veias e vasos em um circuito especializado, é autorreparador, porque produz todo o material necessário para a preservação dos seus equipamentos.
          Um resumo do livro Vitória sobre a Depressão de Divaldo Pereira Franco, ditado por Joanna de Ângelis.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A dor e a saúde do corpo e do espírito.
                A grande massa humana, tem sua rotina de crescimento e a sua marcha evolutiva levadas a efeito, mediante o impacto dos acontecimentos infelizes.
Quando em dificuldade, essa massa procura refúgio espiritual, mas quando a dor ou o acontecimento menos feliz se dissipa, os componentes humanos, somem. Não seguem  o caminho apreendido. Daí então vem a dor como componente da evolução do ser. A dor, portando, é o mecanismo encontrado para a evolução da pessoa.
 Já nas faixas superiores da evolução do homem, isto é, aqueles que estão mais adiantados, não necessitam mais tanta dor.
O que tudo isso quer dizer, para os dias de hoje? Podemos com nossa força mental mudar o enfoque da questão. Não é preciso mais o sofrimento.
Agora pode ser por adesão a uma nova proposta que dimana de cima. Não precisa mais ser pela dor e sofrimento, pelo impacto dos acontecimentos menos felizes. Precisamos aprender que, agora a marcha evolutiva  não precisa mais ser pelo choque, mas pelo componente assimilativo na busca de bem.
Antes quem nos ensinava era vida. De tanto machucar o pé, o homem aprendeu que precisava contornar a pedra, ao invés de chutá-la. A proposta, é aprendermos um sistema novo de viver, apropriando conteúdo e experimentando, ingerindo conhecimento e implementando medidas, gravando informação e praticando, avocando valores e fazendo, retendo a informação e vivenciando, arregimentando padrões novos e operando na essência do nosso ser.
Nossa evolução deve ser, não pela erradicação do vicio, mas pela incorporação de virtudes. Um aprendizado sem dor mediante um processo de  educação do ser espiritual.
A doença, portanto, é o resultado de um distanciamento de ser humano, da própria espiritualidade. Temos que entender que somos seres espirituais e que temos transitoriamente um corpo físico. A saúde é o resultado natural da busca da própria espiritualidade, encontrar a nossa essência interior, o eu divino que somos.
Os conflitos existenciais, adoecem em primeiro lugar, a nossa mente e depois em conseqüência, o corpo físico. As vezes, as pessoas materialistas e egoístas não parecem estar doentes, não é? Mas nelas as doenças aparecem pelas emoções. Elas se tornam sociopatas, isto é, são pessoas indiferentes ao sofrimento a outros seres humanos. Mais dia, menos dia, o choque da dor as fará despertar desse caos espiritual em que se encontram.


terça-feira, 12 de julho de 2011

caridade

Não Saiba a Vossa Mão Esquerda
o que Dê a Vossa Mão Direita


 

ESE, Capítulo XIII

 


Estudo apresentado no  Centro Espírita Caminheiros do Bem, Nova Friburgo, RJ, em
17 de abril de 2005


Renato Costa


Praticar o Bem sem Ostentação

 Os Capítulos 5 a 7 do Evangelho de Mateus relatam o chamado Sermão da Montanha, monumental ensinamento que o Mestre nos legou e que, pó si só, representa um completo manual para atingirmos a perfeição. No Capítulo VI, o evangelista nos relata as seguintes palavras de Jesus:

Tende cuidado em não praticar as boas obras diante dos homens, para serem vistas, pois, do contrário, não recebereis recompensa de vosso Pai que está nos céus. - Assim, quando derdes esmola, não trombeteeis, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua recompensa. - Quando derdes esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a vossa mão direita; - a fim de que a esmola fique em segredo, e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos recompensará. - (Mateus, VI, 1 a 4)

Fazer o Bem sem Ostentação é o título que Kardec escolheu para comentar a passagem acima.  Disse ele:

A beneficência praticada sem ostentação tem duplo mérito. Além de ser caridade material, é caridade moral, visto que resguarda a suscetibilidade do beneficiado, faz-lhe aceitar o benefício, sem que seu amor-próprio se ressinta e salvaguardando-lhe a dignidade de homem, porquanto aceitar um serviço é coisa bem diversa de receber uma esmola. Ora,converter em esmola o serviço, pela maneira de prestá-lo, é humilhar o que o recebe, e, em humilhar a outrem, há sempre orgulho e maldade. A verdadeira caridade, ao contrário, é delicada e engenhosa no dissimular o benefício, no evitar até as simples aparências capazes de melindrar, dado que todo atrito moral aumenta o sofrimento que se origina da necessidade. Ela sabe encontrar palavras brandas e afáveis que colocam o beneficiado à vontade em presença do benfeitor, ao passo que a caridade orgulhosa o esmaga. A verdadeira generosidade adquire toda a sublimidade, quando o benfeitor, invertendo os papéis, acha meios de figurar como beneficiado diante daquele a quem presta serviço. Eis o que significam estas palavras: "Não saiba a mão esquerda o que dá a direita."

Na prática da beneficência devemos nos vestir, deslocar e comportar com simplicidade, de modo a reduzir, o mais que possível, a aparência de distância social entre nós e aqueles que beneficiamos. Devemos olhar nos olhos das pessoas, oferecer a elas nossas mãos, em relação afetuosa, levá-las a nos ver não como seres iluminados que desceram à Terra, mas como seus iguais que têm um pouco sobrando que lhes pode ser dado. Tal percepção é a mera expressão da verdade, pois, se temos condição de ajudar e se outros necessitam de auxilio, tanto uma quanto a outra condição foram dadas pelos respectivos guias espirituais, tendo em vista a necessidade evolutiva de cada um, não sendo, de modo algum, o reflexo do mérito de uns e do demérito dos outros. Se o que temos a dar é dinheiro, que saibamos dar cem reais com a mesma expressão no rosto que se estivéssemos a dar dez centavos, posto que se temos muito para dar, isso não nos é mais meritoso do que se pouco estivesse ao nosso alcance.

Fazer o Bem sem Olhar a Quem

O dito popular que escolhemos como título desta seção de nosso estudo equivale ao que Kardec utilizou no Capítulo XIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, qual seja : “Convidar os Pobres e os Estropiados. Dar sem esperar Retribuição”. Isso dizemos, posto que aquilo que o dito popular quer dizer não é que devamos desviar o olhar daqueles a quem servimos, mas, sim, que não devemos levar em consideração se nossos beneficiados são pobres ou ricos, fracos ou fortes, belos ou feios, saudáveis ou doentes. Dar sem esperar retribuição é possível quando não fazem diferença para nós as características materiais daquele que é o objeto de nossa caridade, pois sabemos que tanto ele quanto nós somos Espíritos imortais, irmãos na caminhada rumo à perfeição. Entender perfeitamente esta diretriz requer, no entanto, que saibamos que a caridade de que estamos falando não é apenas a caridade material, uma vez que os ricos dela prescindem, mas, também e, principalmente, a caridade moral. Desta, ao contrário daquela, necessitam ricos e pobres.

Em Instruções dos Espíritos, sob o título “A Caridade Material e a Caridade Moral”, o Espírito Irmã Rosália assim define a caridade moral:

Desejo compreendais bem o que seja a caridade moral, que todos podem praticar, que nada custa, materialmente falando, porém, que é a mais difícil de exercer-se.

A caridade moral consiste em se suportarem umas às outras as criaturas e é o que menos fazeis nesse mundo inferior, onde vos achais, por agora, encarnados. Grande mérito há, crede-me, em um homem saber calar-se, deixando fale outro mais tolo do que ele. É um gênero de caridade isso. Saber ser surdo quando uma palavra zombeteira se escapa de uma boca habituada a escarnecer; não ver o sorriso de desdém com que vos recebem pessoas que, muitas vezes  erradamente, se supõem acima de vós, quando na vida espírita, a única real, estão, não raro, muito abaixo, constitui merecimento, não do ponto de vista da humildade, mas do da caridade, porquanto não dar atenção ao mau proceder de outrem é caridade moral.

Essa caridade, no entanto, não deve obstar à outra. Tende, porém, cuidado, principalmente em não tratar com desprezo o vosso semelhante. Lembrai-vos de tudo o que já vos tenho dito: Tende presente sempre que, repelindo um pobre, talvez repilais um Espírito que vos foi caro e que, no momento, se encontra em posição inferior à vossa. Encontrei aqui um dos pobres da Terra, a quem, por felicidade, eu pudera auxiliar algumas vezes, e ao qual, a meu turno, tenho agora de implorar auxílio.

Na prática da caridade, seja ela moral ou material, devemos ter em mente duas lições.

A primeira é aquela para a qual a Irmã Rosália nos chama a atenção, isto é, que o pobre a quem atendemos com o auxílio material pode ser um Espírito mais evoluído que nós. Não só pode, é bom que saibamos, como deve. Afinal, as cruzes mais pesadas são sempre entregues a quem já está preparado para suportá-las.

A segunda diz respeito à retribuição em si. Muito poucos Espíritos encarnados no planeta estão aqui em missão. A grande maioria de nós, talvez a quase totalidade, está nesta Terra para resgatar os erros do passado e aprender como melhor se comportar em relação ao próximo. Assim sendo, é necessário que estejamos conscientes, ao praticarmos a caridade, que tal atitude é, antes de tudo, em nosso próprio proveito e que aquele que parece ser nosso beneficiado nada mais é que alma caridosa que nos beneficia ao nos dar a oportunidade de servi-la. Ao praticar a caridade, portanto, mais do que agirmos como se fossemos nós que estivéssemos recebendo a caridade, devemos estar conscientes de que é isso mesmo que de fato ocorre. Ao final da ação caritativa o que nos cabe é agradecer a Deus pela oportunidade que tivemos de servir e não nos julgar merecedores de sua graça, posto já a termos recebido.

O Óbolo da Viúva

O erudito professor Carlos Torres Pastorino lamenta, em A Sabedoria do Evangelho, que Casas Espíritas adotem a mesma prática que instituições religiosas e filantrópicas de outras naturezas, prestando homenagens ostensivas aos grandes benfeitores e ignorando os pequenos trabalhadores que deram a vida, de forma anônima, pela obra. À nossa mente, neste momento, vêm os monumentos que se erguem em todo o mundo em honra ao “soldado desconhecido”. É, no mínimo, curioso que, justo na esfera militar, onde era de se esperar menos sensibilidade, a homenagem correta seja feita. Quando será que uma instituição religiosa, ou, no caso que nos interessa, uma casa espírita, irá expor em suas paredes um quadro dedicado ao médium desconhecido? Quando será que um historiador espírita irá dedicar um artigo ao trabalhador desconhecido?

Em nosso estágio evolutivo, nos é difícil avaliar de modo igual as doações portentosas que sustentam as despesas da casa e o trabalho, que nos parece insignificante, daquelas pessoas que prestam os pequenos serviços necessários. Intimamente julgamos que as coisas pequenas qualquer um pode fazer, ao passo que as grandes contribuições são raras e, por isso, devem ser objeto de nosso agradecimento e das justas homenagens que ocorrem. O ensinamento de Jesus, no entanto, nos alerta para o equívoco desse raciocínio. Nenhum de nós sabe o quanto custa para cada pessoa o serviço que presta no Centro Espírita, só Deus o sabe. Abstenhamo-nos, portanto, de enaltecer uns e ignorar os outros. Façamos a nossa parte com dedicação e diligência, acreditando, de coração, que cada um estará, também, fazendo segundo suas possibilidades, não importa o quanto aquilo que fazem pareça valer aos olhos dos homens.

Lucas e Marcos relatam a passagem conhecida como “O Öbulo da Viúva” e que Kardec utilizou no desenvolvimento do Capítulo XIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Relata Lucas:

Estando Jesus a observar, viu os ricos lançarem suas ofertas no gazofilácio. Viu também certa viúva pobre lançar ali duas pequenas moedas;  e disse: Verdadeiramente, vos digo que esta viúva pobre deu mais do que todos. Porque todos estes deram como oferta daquilo que lhes sobrava; esta, porém, da sua pobreza deu tudo o que possuía, todo o seu sustento. (Lucas, XXI, 1 a 4)

Conforme comenta o Codificador, muitas pessoas furtam-se a praticar a caridade alegando terem pouco ou apenas o necessário para seu próprio sustento. Nada poderia ser mais distante da verdade. Como já vimos, a caridade não se restringe ao seu aspecto material, sendo possível para todos sob o aspecto moral. Se uma pessoa carece de recursos financeiros para auxiliar aos necessitados, eis aí uma oportunidade de procurar, nos talentos de que foi aquinhoada, outros recursos para fazê-lo. Todos nós viemos ao mundo com uma certa quantidade de talentos. Uns são fortes, outros, belos, outros tantos, saudáveis e outros mais, inteligentes. Este tem jeito para consertar equipamentos, aquele para reparar canos, outro para cozinhar, outro mais para costurar. Uns cantam, outros dançam, alguns sabem representar, há quem saiba contar piadas. Não há um só Espírito encarnado que não tenha pelo menos um talento e, sendo assim, este talento sempre poderá ser colocado a serviço dos necessitados.

No entanto, se, mesmo após muito procurar, a pessoa não reconheça em si nenhum talento escondido, ainda resta a vontade de ser útil e a ajuda da espiritualidade. A esse respeito, transcrevemos abaixo a fala de Kardec:

Todo aquele que sinceramente deseja ser útil a seus irmãos, mil ocasiões encontrará de realizar o seu desejo. Procure-as e elas se lhe depararão; se não for de um modo, será de outro, porque ninguém há que, no pleno gozo de suas faculdades, não possa prestar um serviço qualquer, prodigalizar um consolo, minorar um sofrimento físico ou moral, fazer um esforço útil. Não dispõem todos, à falta de dinheiro, do seu trabalho, do seu tempo, do seu repouso, para de tudo isso dar uma parte ao próximo? Também aí está a dádiva do pobre, o óbolo da viúva.

Quando temos vontade de servir, a espiritualidade não nos nega auxílio, sempre nos guiando até os necessitados que estejam ao nosso alcance ajudar. Façamos, pois, a nossa parte, nos colocando disponíveis para o serviço do bem.

Os Infortúnios Ocultos e as Grandes Desgraças

Dentre as muitas catástrofes que marcaram os últimos anos, duas se destacam pela sua violência. A primeira se deu no dia 11 de setembro de 2001, quando o mundo todo assistiu, estarrecido, ao atentado terrorista às torres gêmeas do World Trade Center, uma tragédia de enormes proporções, provocada integralmente pelo homem e que teve com saldo mais de dez mil mortos e uma escalada de violência sem igual desde o fim da Segunda Guerra Mundial. A segunda teve causa natural. Foi no dia 26 de dezembro passado, quando ocorreu um maremoto gigantesco em conseqüência de um terremoto de 8,9 graus na escala Richter, com epicentro localizado no leito do mar próximo à Ilha de Sumatra, matando mais de sessenta mil pessoas em diversos países da Ásia e na costa leste da África. Foi considerado o mais violento no planeta nos últimos 40 anos.

No Capítulo VI Parte 3a de O Livro dos Espíritos, Kardec trata da Lei de Destruição, sendo a Questão 737 particularmente importante para o nosso estudo.

737. Com que fim fere Deus a Humanidade por meio de flagelos destruidores?

“Para fazê-la progredir mais depressa. Já não dissemos ser a destruição uma necessidade para a regeneração moral dos Espíritos, que, em cada nova existência, sobem um degrau na escala do aperfeiçoamento? Preciso é que se veja o objetivo, para que os resultados possam ser apreciados. Somente do vosso ponto de vista pessoal os apreciais; daí vem que os qualificais de flagelos, por efeito do prejuízo que vos causam. Essas subversões, porém, são freqüentemente necessárias para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos.”

É evidente a aceleração causada pelas grandes catástrofes no resgate de dívidas contraídas no decurso de existências anteriores. O que interessa para nosso estudo, no entanto, é outro tipo de progresso que é acelerado pelos flagelos destruidores. Trata-se do progresso da caridade na alma dos homens.

As grandes catástrofes chocam a opinião pública, tocando fundo na consciência das pessoas, pois a mídia não as omite, antes fazendo delas suas principais manchetes por dias ou semanas. As pessoas se associam no trabalho voluntário, coletam e fornecem donativos dos mais variados, se envolvem como podem no esforço de ajudar as vítimas e reconstruir o que foi destruído. Após os grandes flagelos vê-se, sempre, grande mobilização de recursos de toda natureza. Em tais momentos, atos de heroísmo que, em outras circunstâncias, passariam despercebidos, acabam sendo divulgados aos quatro cantos do planeta, emocionando pessoas por toda parte, servindo de inspiração e exemplo para emulação.

Kardec nos chama a atenção, no entanto, para os infortúnios ocultos, as desgraças particulares que, apesar de dispersas e sem interesse para a mídia, formam, no todo, um volume de desgraças muitas vezes superior à soma de todos os grandes flagelos que a mídia tanto propaga. Ser caridoso ou heróico no atendimento a um infortúnio oculto jamais será divulgado na mídia, tornando o autor mais meritório perante Deus.

Quem é caridoso de coração encontra os infortúnios ocultos à sua volta, no lar, nas ruas, no trabalho ou onde quer que seja e, tendo-o encontrado, logo se põe a serviço, procurando minimizar o sofrimento dos infortunados. Para que possamos encontrar os infortúnios ocultos é necessário que calemos nosso ego e foquemos a atenção no próximo. O necessitado pode estar do nosso lado todo o dia e nunca o termos percebido, pois as demandas de nossas emoções descontroladas somente permitem que vejamos nossas próprias necessidades e carências.

Aprender a ser caridoso sem a pressão emocional dos grandes flagelos requer força de vontade e dedicação. E, sendo assim, não é de se estranhar que Kardec tenha ocupado a maior parte da seção em que fala dos infortúnios ocultos com um exemplo de como uma senhora praticava a caridade ao mesmo tempo em que exemplificava e explicava à sua filha como fazê-lo. A esse propósito, é bom saber que ...

Caridade se Ensina às Crianças

Sim, caridade se ensina, por palavras e, sobretudo, pelo exemplo. Como as crianças não trabalham e, desse modo, não possuem dinheiro ganho com seus próprios esforços, é uma excelente oportunidade para que mostremos a elas como podem fazer caridade sem dar esmolas. Podemos envolvê-las nas ações caritativas pedindo sua participação com trabalhos que estejam ao seu alcance, valorizando esses trabalhos e explicando o mérito dos mesmos. Podemos envolvê-las nas preces pelos necessitados. São muitas as maneiras de ensinarmos a caridade às crianças.

Levando as crianças a nos acompanhar em atividades caritativas passarmos a ter parâmetros com os quais poderemos comparar se os desejos que nos manifestam são justos e necessários. Um filho que tenha consciência da existência de outras crianças que não têm o que comer é mais facilmente convencido de que não deve falar mal da comida que lhe servem, que deve comê-la com respeito, que deve orar a Deus em agradecimento por tê-la disponível e que não deve ficar pedindo guloseimas a toda hora. Sabendo que há pessoas que não têm o que vestir, não se tornará um escravo da moda, sabendo se vestir com simplicidade. Sabendo, enfim, que muitos não têm onde morar, não têm acesso a médicos quando estão doentes nem a consolo quando se sentem perturbados emocionalmente, nossos filhos serão homens de bem quando crescerem, conscientes do quanto tiveram para crescer e se educarem e, provavelmente, saberão ajudar aos necessitados sempre que os encontrarem.

Lembrando que a caridade não é apenas material mas, também, moral, devemos constantemente, pelo exemplo, principalmente, mas também, pelas palavras, ensinar às crianças a serem tolerantes, pacientes e gentis com seus colegas e amigos, em primeiro lugar, mas também com as demais pessoas com que se relacionam ao longo do dia. Podemos ensiná-las a identificar os infortúnios ocultos de modo que saibam desde pequenos quando devem ser tolerantes, compreensivos e prestativos quando alguém com que se relacionam demonstre os sintomas de sofrimento físico ou moral.

Mais que homens de bem, se ensinarmos a nossos filhos a caridade moral, além da material, eles serão os verdadeiros cristãos de que a nossa Terra precisa para se tornar o mundo de regeneração que tanto esperamos e pelo qual tanto oramos.

Ser Caridoso não é ser Sisudo

Antes de continuarmos nosso estudo, é bom que comentemos um mal-entendido que costuma ocorrer quanto ao comportamento das pessoas caridosas.

Tanto o mendigo doente que se vê jogado a um canto da calçada, quanto o executivo elegante, mas de rosto tenso e coração descompassado, são seres humanos, Espíritos encarnados com as mesmas necessidades de afeto e compreensão.

A tão conhecida Oração de São Francisco, da qual falaremos mais à frente, dá a receita para quem deseja trilhar o caminho da caridade: Onde houver tristeza, que eu leve a alegria

Se aquele que desejamos ajudar se encontra abatido, acabrunhado, em nada ajudaremos se nos aproximarmos dele com o ar sisudo e sério. Para enfrentar a tristeza, saibamos portar um olhar sereno, mas alegre, saibamos ter gestos cordiais, nos portar como se nos dirigíssemos a uma pessoa amiga que nos dá prazer encontrar.

Não estamos incentivando ninguém a se aproximar dos necessitados dando gargalhadas. O sorriso, o riso e a gargalhada são diferentes intensidades da manifestação da alegria que devem ser corretamente dosadas para cada ocasião. Pode haver ocasiões em que uma boa gargalhada seja útil assim como outras em que o máximo que convém é um leve sorriso.

Na prática da caridade, seja ela material ou moral, devemos, portanto, nos portar convenientemente a cada situação. Abordagens padronizadas devem ser evitadas. Avaliemos com cuidado e atenção as necessidades do irmão a quem queremos ajudar e, com base em nossa percepção e na avaliação que fizermos dessa percepção, escolhamos a abordagem mais adequada a cada caso.
 
A Caridade, Segundo Paulo

Na Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, o incansável apóstolo dos gentios nos fala, de modo poético e sábio, sobre a Caridade:

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!

A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança. Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido.

Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade.

A transcrição acima foi feita a partir da tradução dos originais gregos realizada pelos Monges de Maredsous. Ela, como a Vulgata, se refere à caridade. Ocorre que outras traduções, como a edição revisada de Almeida, utilizam, em lugar de “caridade”, a palavra “amor”. Afinal, poderíamos nos perguntar, de que falava Paulo, da “caridade” ou do “amor”? Para podermos responder a esta pergunta, é necessário recorrermos ao original.

O Amor e a Caridade

Ao recorrermos ao original grego, verificamos que a palavra utilizada é agape. No grego antigo havia três palavras que são traduzidas como amor. São elas: eros, fília e ágape. Na verdade, como veremos, são estágios evolutivos do amor. Ao galgarmos o seguinte, não abandonamos o anterior, guardando dele, no entanto, apenas o que tem de melhor.

Eros é o amor apaixonado, o desejo intenso por alguma coisa ou alguém. Ele é, comumente, associado ao amor sexual, mas, na realidade, é mais que isso. Eros é o estágio primitivo, irracional do amor, correspondendo às paixões que sentimos, seja por pessoas, coisas ou idéias. Eros está relacionado à satisfação pessoal, ao sentimento de realização, como, também, ao orgulho e à vaidade. Se estacionarmos nesse estágio, nosso amor é egoísta, tudo querendo para nosso próprio prazer, nossa própria satisfação. No entanto, se o possuirmos de forma controlada e o utilizarmos como um motor para as nobres realizações em benefício do próximo, é instrumento importante à nossa disposição, pois nos mantém vibrantes e empolgados, não nos permitindo desanimar jamais.

Estritamente, Fília se refere ao amor existente entre pais e filhos, entre familiares e entre entes próximos. Por extensão, porém, pode ser entendido como amizade. Ao contrário de Eros, Fília ocorre como o resultado da apreciação que temos por aqueles que nos são próximos. É amor emocional, mas, também, racional. Como Fília se entendem, também, as lealdades que temos na família, no trabalho e na sociedade em geral. Se nos satisfazemos com Fília e restringimos nossas ações do bem àqueles que nos são queridos, permanecemos no amor possessivo, pois, ao limitarmos nossa ajuda aos entes que nos são mais próximos, forçosamente esperaremos deles fidelidade a nós, julgando-os nossos devedores. Estacionados nesse estágio, somente amamos nossos familiares, nossos colegas, nossa raça, nossa cor de pele, nossa religião, formando, com quem se encontra no mesmo estágio que nós, as diversas comunidades exclusivistas e sectárias que se espalham pelo mundo afora. Entretanto, Fília pode ser usado, também, com equilíbrio e sabedoria, da mesma forma que Eros. Basta que saibamos que todos são filhos de Deus e, portanto, nossos irmãos e irmãs, constituindo toda a humanidade uma imensa família.

Ágape se refere estritamente ao amor de Deus pelos homens e dos homens por Deus, mas pode ser entendido como o amor incondicional, o estágio final da evolução do amor. Quem tem ágape no coração faz o bem sem ostentação, serve a todos com igual dedicação, percebe os infortúnios ocultos e age para minorá-los, assim como se empenha nas grandes desgraças com bravura e determinação. Ensina a todos à sua volta, não tanto por palavras, mas, mormente, pelo exemplo constante. É alegre e sereno, estando sempre pronto para o serviço do bem e a cada um se dirigindo conforme suas necessidades.

O amor ágape é paciente, bondoso. Não tem inveja, não é orgulhoso. Não é arrogante, nem escandaloso. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O Amor Ágape em ação se chama Caridade

Como Fazer Caridade?

É possível que, a esta altura, estejamos a nos perguntar: “Existe uma receita segura de como se fazer caridade? “ A resposta e essa pergunta, meus amigos, é: “Sim, existe!”.

Segundo os registros históricos, a primeira vez que a linda prece, conhecida como “A Oração de São Francisco”, apareceu, foi em 1912, na França, em uma pequena revista chamada “La Clochette” (O Sininho). Durante certo tempo foi republicada como de autor anônimo para, mais tarde, sua autoria ter sido, aos poucos, atribuída ao “pobrezinho de Assis”.

Ocorre que, apesar de “A Oração de São Francisco” não constar entre as preces oficialmente reconhecidas como escritas por Francisco, a beleza e a sabedoria nela contidas sugere, a nosso ver, que um Espírito de grande adiantamento a escreveu, quer diretamente, quer por psicografia. O fato de ter sido um médium inconsciente inspirado pelo próprio Francisco de Assis nos parece uma hipótese razoável.

Vejamos, na "Oração de São Francisco", como existe uma receita completa de como praticar a caridade:

Onde houver ódio, que eu leve o amor;

Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;

Onde houver discórdia, que eu leve a união;

Onde houver dúvida, que eu leve a fé.

 
Onde houver erro, que eu leve a verdade;

Onde houver desespero, que eu leve a esperança;

Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;

Onde houver trevas, que eu leve a luz.

A receita de caridade preconizada por São Frnacisco inclui o ato de ensinar a quem sabe menos que nós, quando nos conclama a levar fé onde houver dúvida e luz onde reinarem as trevas. Ë nesse sentido que devemos entender quando nos dizem que divulgar a Doutrina Espírita é um ato de caridade.

Se soubermos, em nosso dia a dia, seguir a orientação da “Oração de São Francisco”, estaremos sendo caridosos em nossos pensamentos, palavras e atos, e desenvolvendo em nós o amor ágape, que tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

Conclusão
 
Na questão 886 de O Livro dos Espíritos, Kardec perguntou:

Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?

Recebendo dos Espíritos a seguinte resposta:

Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.

Como vimos, a Caridade, seja ela material ou moral, deve ser feita a todos, com discrição e desprendimento. Ela pode e deve ser ensinada a todos aqueles que estiver ao nosso alcance ensinar, com palavras, quando possível, mas, sobretudo, com nossas atitudes. Fiscalizemos nosso pensamento, nossas palavras e ações, o tempo todo, verificando se estamos sendo caridosos. Se constatarmos que faltamos à caridade com este ou aquele irmão, não desesperemos, fazendo o reparo na primeira oportunidade que se apresentar. Não enalteçamos a caridade de um irmão em detrimento da de um outro, que nos pareça menor, uma vez que nada sabemos do que um e o outro podem dar. Avaliemos com atenção a necessidade de cada irmão a quem vamos ajudar, para que saibamos usar, em cada caso, a abordagem mais adequada ao sucesso da empreitada.

Vamos falhar, sim, falhar muito no início. Nosso amor ainda tem muito de Eros e de Fília. Evoluir para o amor Ágape, identificado com a verdadeira Caridade Cristã, é o esforço que devemos fazer dia após dia. Pode levar anos, décadas, séculos ou milênios, não faz mal.

O importante é que jamais desistamos de ser caridosos, conscientes de que, como nos ensina a Codificação:

“Fora da Caridade não há Salvação”

“Fora da Caridade, não há Verdadeiro Espírita”

Bibliografia

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 112 Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996.

Id. O Livro dos Espíritos. 76 Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1995.

Id. Viagem Espírita em 1862. 3 Ed. Matão: Casa Editora O Clarim, 2000.

LOUSADA, Vinícius. Reflexão sobre a Caridade. In Revista Internacional de Espiritismo, Ano LXXX, no 01, Fevereiro de 2005.

PASTORINO, Carlos Torres. A Sabedoria do Evangelho. Rio de Janeiro: Sabedoria, 1965.

RENOUX, Christian. The Origins of the Peace Prayer of Saint Francis. Obtido em 11 de abril de 2005 de http://www.franciscan-archive.org/franciscana/peace.html

A Bíblia Sagrada. Versão de João Ferreira de Almeida,  Revista e Atualizada. Obtido de http://www.bibliaonline.org em 22 de março de 2005.

Bíblia Sagrada. Tradução dos Monges de Maredsous. 112 Ed. São Paulo: Ave Mara, 1997.

Philosophy of Love. In The Internet Encyclopedia of Philosophy. Obtido de http://www.utm.edu/research/iep/love.htm em 05 de abril de 2005.
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