quinta-feira, 30 de junho de 2016

RECORDAR É VIVER!
 Eu nasci no interior de Barros Cassal, numa localidade chamada de Rio Pardo, nascente do Rio Pardo. Não consigo lembrar quase nada dessa época. Minhas lembranças começam no Ligeiro, local que leva o nome do arroio que passa por ali.
Deste lugar, vem minhas primeiras recordações, do casario da família, dos potreiros e invernadas para cercar o gado e os cavalos, das árvores frutíferas, do pomar de pêssegos, das caixas de abelhas, das plantações diversas, do mundão de terras (pelo menos para os meus olhos) e que tudo pertencia à família.
Lembro também da sanga com água cristalina, onde tinha um moinho d’água que servia, entre outras coisas, para fazer a farinha de milho para a mãe Maria Eufrásia, fazer o gostoso pão de forno e lembro também das vezes que me escondia na carroça, para poder ir junto para a roça.
Suspiro e me vejo no casamento das manas Ofhir e Odir com o Valdemiro Mantelli e Jorge Cervo, que foi realizado no mesmo dia, onde aconteceu um acidente com o caminhão que trazia os convidados e os noivos, da vila do Rincão (nome anterior de Barros Cassal), para a estância do Ligeiro. A ponte do arroio cedeu e a roda traseira direita ficou trancada no madeirame. Graças a Deus ninguém se feriu e a festa foi grande.
O avô materno de nome Antônio José Falleiro que dizia para a meninada, quando ficava bravo: “cuidado guri, senão te passo o calabrote”, me vêm à mente, os manos mais velhos, que de vez em quando aprontavam das suas, (imaginem só eram doze, mais os achegos, todos juntos), coitados do pai José e mãe Maria.
Pois é, deste lugarejo, que eu saiba não existe mais nada. A fazenda do Ligeiro só resta uma grande invernada e a soledade dos tempos antanhos que não voltam mais. Depois quando fomos morar na vila, o mano Allão, logo após seu casamento com a Celina Pappen, foi morar no local e de quando em vez, eu ia sozinho a pé ou a cavalo, até o Ligeiro.
A distância de Barros Cassal até as Duas Léguas no (Rafael), se conseguia uma carona de caminhão, já que morávamos no acampamento do DAER e dali em diante, atravessando campos e picada se chegava até a localidade.
Depois que o Allão veio morar em Santa Cruz do Sul, a mana Odir com seu esposo e filhos foram morar no Ligeiro.
Nesta época também viemos para Santa Cruz e até onde lembro lá tudo foi vendido, vindo à família da Odir morar, agora na cidade de Barros Cassal e depois em Sapucaia do Sul.
Recordar também é viver!
ANTONIO PEREIRA DOS SANTOS – Professor e tradicionalista.

(Email, toninhosantospereira@hotmal.com; twitter, toninhopds; Blog, WWW.allmagaucha.blogspot.com).

quinta-feira, 23 de junho de 2016

UM MATE?

                Mais um dedo de prosa, na estrada poeirenta da vida, na invernada grande da existência, quando mais um João ninguém finda a jornada terrena.
                O que ele fazia aqui? Qual sua missão? reflito! Cumpriu-a ou só levou a vida, como diz o povoeiro!  Mateava na espera do tempo chegar. As ilusões já tinham acabado, todas.
                Solito olhava o horizonte, sentindo a vida acabar-se como por entre os dedos. Será que tudo se resumia nisso?
                E as tropeadas... ficaram lá atrás igual a tropa que tantas vezes levou às charqueadas, repontando o canto triste do sinuelo.
Como o gado, pressente também o matadouro, sente a alma aturdida na intemperança do desassossego que lhe é impingido, na agonia da hora derradeira.
O que sobrou afinal? O rancho deserto, desesperanças, o mate solito na contramão do sonho fugidio da criança, esperança de uma vida plena na consciência imortalizada, da essência extraterrena.
Restou a chama imorredoura como tranqueira instransponível da vida fútil e sem sentido, para a real consistência da tropilha implacável que, no potreiro da audição do clarim campeiro, reunirá a manada no bojo do Patrão Celeste, que a todos abriga no seu poncho aconchegante.
Tomo mais um mate ajujado de maçanilha e sinto que o João é alguém sim, na sintomática lei maior regente de tudo e todos.
Proseia comigo parceiro! A jornada segue indefinida aparentemente, mas nada é um acidente. A aurora logo desabrochará e a vanguarda luminosa brilhará como estrelas no firmamento e a despacito, com a mala de garupa nos ombros, tomo tenência  dos planos do Arquiteto Soberano!
Mais um mate?

ANTONIO PEREIRA DOS SANTOS- Professor e tradicionalista.
(Email, toninhosantospereira@hotmail.com; blog, WWW.allmagaucha.blogspot.com; Twitter, toninhopds).

                 

quinta-feira, 16 de junho de 2016

                                                                  SUBLIME

                Eu me olhava e o meu rosto refletia o teu sorriso, na minha milonga que faço pra ti na noite trigueira, num soluço entrecortado de lágrimas que saltam dos olhos num marejar infindo.
                Ainda sentindo o tua vida em minhas mãos e nos bordões do meu violão te vejo a sonhar sonhos impossíveis, na ânsia de voltar comigo na vivência de antanho, que os anos não trazem mais.
                Oh milonga, teus acordes me acordam na soledade do gosto amargo da distância que parece incomensurável. Nem o mate aplaca tal agrura que se engarupa no pingo e percorre caminhos sem fim.
                Toca milonga, quero senti-la a percorrer cada seiva do meu ser, na insânia das contradições que por hora evolvem, no subúrbio catalisador da epiderme que arrepia na intercorrência da tua melodia.
                E no floreio do teu dedilhar, vejo novamente os olhos negros como breu da noite. Minhas mãos tateiam teu semblante... a milonga te trouxe nos meus versos!
                De regalo, te entrego minha alma na incondicionalidade do amor sublimado do querer bem, na antologia dos poetas que cantam seus amores na sacralidade de seus sentimentos.
                Amore del alma, amor da alma que sobrepuja tempos e ventos e vai além do horizonte de estreitas visões, limitadas por sombrias urzes que um dia se dissiparão, assim como o sol que renasce a cada dia.
                É o amor eterno que fica e vivifica.

      ANTONIO PEREIRA DOS SANTOS-Professor e tradicionalista.

                                 (Email, toninhosantospereira@hotmail.com; Twitter, toninhopds; Blog, WWW.allmagaucha.blospot.com). 

quinta-feira, 9 de junho de 2016

                                                            QUEM SOU II

Quero mudar o mundo, mudando o outro? Ledo engano. Quando enxergar o outro em mim, que ele tem os mesmos temores, angústias, sentimentos, enfim... Colocar-me em seu lugar, a me julgar... Só assim poderei senti-lo e verei das dificuldades desse conceito.
O homem velho dever ser refeito e um novo começo empreendido. Só assim verei o mundo com a visão de outrem.
Ah! Como ele está me vendo? Orgulhoso, dono da verdade no alto dos seus conceitos programados, indecifráveis até para ele às vezes!
Reluto, será que sou assim? Mas sou que eu que estou lá! É o meu próprio espelho, é minha alma que sobrepuja a temporalidade e se mostra nua e crua num assombro de sinceridade nunca vista.
Consigo visitar meu ego numa selfie e sinto nos olhos que me olham um superego de emoções dúbias na interioridade que desabrocha numa visão incomum e rara até então. Incólume e latente vida do inconsciente.
Este sou eu de verdade, como o outro me vê. Então como posso julgar este outro? Agora em plena consciência do que sou, vejo o outro na agonia de tiranizantes ideias.
Sou alguém, sou outro que queria mudar o universo. Então concluo se eu mudar, o outro também mudará.
Esta é a chave, é a solução!
                Portanto, reforma já! Não posso ser aquilo que me vi no outro! Não, não.

ANTONIO PEREIRA DOS SANTOS – Professor e tradicionalista

(Email, toninhosantospereira@hotmail.com; blog, WWW.allmagaucha.blogspot.com; twitter, toninhopds).

sexta-feira, 3 de junho de 2016

QUEM SOU?

O taita indissoluto de eras remotas, que impoluto lutava em defesa daquilo que acreditava o certo, nos interpenetráveis espaços e numa orgia de estridentes ovações, num esgar de tenebrosas angustias de vidas curtas e secas!
Com o passar dos tempos, me torno mais maleável, embora ainda o atavismo recrudescente paire num teimar entre o ontem e o agora, sepultando antigos costumes que a consciência aplainou. E é esta consciência que hoje subsiste incólume em seu valor maior.
No entanto, a dicotomia do hoje e de antanho, firma-se na diversidade dos seres nas suas individualidades intrínsecas, jogando no mundo real o ser completo, uno indivisível. Quem sou? Com certeza, não sou metade.
Talvez seja o fantasma das taperas, talvez o próprio cosmos diminuto, talvez um pedaço de terra, porque possuo todos os elementos que a compõem. Sou o céu, o ar, o som. Sou mar, sou natureza na imunidade elementar de seus átomos!
Quem sou? Sou a criatura da Divindade. No meu íntimo, Sua Essência, a própria cópia. Sou como o filho pródigo, que um dia volta ao recôndito amoroso do Pai!
Sou a saudade que permanece no amor infindável dos entes amados, afáveis e queridos, na transmutação do ódio ao amor, luz incondicional da permanente gloria.
Quem sou afinal? Um ser humano criado há milênios, imortal e de natureza essencialmente boa, que nasceu em épocas imemoriais e que renasce a cada geração, em consonância com o aprendizado perene!
Quem sou!

ANTONIO PEREIRA DOS SANTOS- Professor e tradicionalista.

(Email, toninhosantospereira@hotmail.com; twitter, toninhopds; Blog, WWW.allmagaucha.blogspot.com).