AINDA DEVANEIOS!
Mais uma vez milongueando os
sonhos que galopam em minha mente, trazendo mágoas como o cavalo que corcoveia
nas esporas nazarenas, imitando a vida na luxúria dos pormenores vis que não
encontram sedimento na vida guapa do peão errante e gaudério.
O inverno das noites frias que enregelam
até a alma do ser inebriado, na corrente malsã da tristeza que teima em
permanecer.
A flor do campo que alegrava
visões, agora turba suas vistas. Nem o canto mavioso dos pássaros à tardinha,
escuta mais.
Que saudades! Das carreiras de
cancha reta onde se ganhava ou se perdia de pescoço ou até de orelha. Ah! minha
querência, o que fizeram contigo? Onde está teu fulgor, tua constância, onde os
homens de valor, de palavra e de honra, que não se escondiam atrás de palavras
bonitas, mas de conteúdo dúbio, eram teu apanágio!
Será que tuas façanhas ainda
servem de modelo a toda a terra ou de chacota às invasões alienígenas!
Até os mais recônditos recantos
da sabedoria, da paz, da introjeção onde se falava consigo mesmo ruminando
condutas e virtudes inerentes ao ser humano, perdeu-se na tapera dos
sentimentos controvertidos dos neologismos inconsequentes.
Por isso suplico que meu catre
não permaneça mais vazio. Que a lua cheia volte a brilhar no horizonte obscuro
da vida sem sentido. Que eu possa ouvir de novo o cantar do galo anunciando
novo dia. Que eu possa ainda changuear com as mãos calejadas pela faina diária
na rudeza do índio vago, sentindo a melodia da natureza bela que afaga e trás
novo alento.
Inferindo, que o temporal que
caiu consiga varrer todos os dissabores que enodoaram e encharcaram de lagrimas,
o rosto cansado do velho xiru.
O mate está no ponto. Vou
sorvê-lo na esperança incontida de reencontrar tudo de novo. Minha pampa
viçosa, as pitangas gostosas e floridas e a milonga me embalando novamente na
música que enleva a alma.
Sopra mais vento desgarrado e a
maldade também irá contigo! Vou saborear mais uma vez, o pão de forno feito
pelas mãos abençoadas da minha mãe e o que foi, voltará a ser na senda utópica
dos meus devaneios!
ANTONIO PEREIRA DOS
SANTOS- Professor, radialista e tradicionalista.