quinta-feira, 21 de agosto de 2014


                                              A CONQUISTA DAS MISSÕES ORIENTAIS!

                No segundo quartel do século XVII os jesuítas do Paraguai, já haviam estado no território hoje rio-grandense (a que chamavam, País Del Tape) fundando “reduções” de catequese ao longo dos rios Ijuí, Ibicuí e Jacuí, até Rio Pardo e somente não chegaram ao Guaíba e ao Atlântico porque a reação dos bandeirantes os levou de volta para o outro lado do rio Uruguai.

                Quando os portugueses, em 1680, fundaram a Colônia Militar do Sacramento à frente de Buenos Aires, a busca de equilíbrio territorial se operou mediante a gradativa expansão jesuítica no Médio Uruguai: em 1682 o “povo” de Santo Tomé estabelecia uma estância e guarda em São Borja e em 1687 eram oficialmente estabelecidos os “povos” orientais de São Nicolau, São Luiz Gonzaga, São Miguel e São Borja. Com a posterior fundação de São Lourenço, São João Batista e Santo Ângelo, completaram-se os “Sete Povos” – sete cidades de índios guaranis ou guaranizados. Suas estâncias, porém, se alastraram por praticamente todo o território uruguaio.

                 Em 1750, o Tratado de Madri, determinou que a Colônia do Sacramento passaria para o domínio espanhol, enquanto os Sete Povos e suas estâncias passariam para o domínio português. Houve reação missioneira e a guerra guaranítica, que culminou em 1756. Mas no fim, tudo ficou na mesma: Colônia ainda portuguesa, as Missões Orientais ainda dos espanhóis.

                Desde aí, dois pontos se destacam no mapa político-militar do Sul: o forte de Rio pardo como guarda - avançada portuguesa às margens do Rio Jacui – olhando o sudoeste e o noroeste – e a guarda de São Martinho, posto avançado espanhol na subida do planalto para os Sete Povos das Missões, em escarpas situadas um pouco acima da atual cidade de Santa Maria.

                O Tratado de Santo Ildefonso, em 1777, estabeleceu limites entre as possessões lusitanas e hispânicas, referendando a posse espanhola do Sete Povos, com sede do governo militar em São Miguel.

                Por volta de 1800 a situação era tensa na Europa, com Napoleão Bonaparte em guerra contra a Inglaterra, envolvendo novamente a rivalidade de espanhóis e lusitanos. No sul do Brasil, a guarnição de Rio Grande envia tropas contra o forte espanhol de Cerro Largo, enquanto a guarnição  de Rio Pardo põe em fuga os espanhóis de Santa Tecla e São Gabriel do Batovi.

                O governo militar de São Pedro do Rio Grande do Sul, com sede em Porto Alegre era exercido pelo cel. Veiga Cabral e o comando da fronteira de Rio Pardo era exercido pelo ten. Cel. Patrício José Correa da Câmara.  Veiga Cabral preferiu confiar a paisanos a continuidade das operações de fronteira. Para tanto, uma de suas medidas foi conceder anistia aos desertores, que assim poderiam reforçar os contingentes lusitanos. Um dos beneficiados pela medida foi José Borges do Canto, que servira no Regimento de Dragões como soldado raso e agora se dedicava à caça e comércio de mulas nos descampados do oeste. Apresentou-se ao Regimento de Dragões e o comandante confiou-lhe a missão de hostilizar, através de guerrilhas, as Missões Orientais. Recebendo secretamente armas e munições, sai Borges do Canto a arregimentar voluntários para a arriscada campanha, sempre procurando dar ao empreendimento o caráter de aventura concebida e organizada por particulares, à revelia do governo. Ele reúne um pouco mais de 20 gaúchos. Recebe o reforço do tenente paulista Antônio de Almeida Lara, com 12 homens que trazia consigo. Outro paulista, o furriel Gabriel Ribeiro de Almeida, servindo no corpo comandado pelo cap. Barreto Pereira Pinto, apresenta-se para participar da aventura. Eram, agora, cerca de quarenta combatentes. O grupo se completa com estancieiro mestiço Manoel dos Santos Pedroso, profundo conhecedor da língua guarani, que recebe especificamente a tarefa de persuadir os indígenas missioneiros a entrarem na luta contra o dominador espanhol.

                O avanço é iniciado por Santo Pedroso, que consegue dominar a fortificação de São Martinho, porta de entrada dos Sete Povos. Aberto o caminho, Borges do Canto surpreende as defesas de Santo Inácio e São João Mirim. É conseguida a adesão de cerca de trezentos guaranis. Cai o povo de São Nicolau. A 8 de agosto os atacantes põem cerco à capital São Miguel, dando ao comandante espanhol cel. Dr. Francisco Rodrigo o ultimato para que se entregue.

                São Miguel, ainda resiste por três dias, mas, a 11 de agosto de 1801, seu comandante capitula. Uma a uma vão se entregando as demais aldeias do antigo domínio jesuítico, sem derramamento de sangue. Houve resistência somente no Passo da Cruz e, finalmente, em São Borja, onde o espanhol Rubio Dulce, depois de perder vários soldados, foi vencido a 23 de novembro de 1801. Completava-se assim a façanha incrível de tornar brasileiro, em curto espaço de tempo, cerca de um terço do atual território Rio-grandense.

 

(pesquisa: Cesar, Guilhermino. História do RS. Ferreira Filho, Arthur; historia geral do RS; Laytano, Dante de. Guia histórico de Rio Pardo)

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