A CONQUISTA DAS MISSÕES ORIENTAIS!
No segundo
quartel do século XVII os jesuítas do Paraguai, já haviam estado no território
hoje rio-grandense (a que chamavam, País Del Tape) fundando “reduções” de
catequese ao longo dos rios Ijuí, Ibicuí e Jacuí, até Rio Pardo e somente não chegaram
ao Guaíba e ao Atlântico porque a reação dos bandeirantes os levou de volta
para o outro lado do rio Uruguai.
Quando os
portugueses, em 1680, fundaram a Colônia Militar do Sacramento à frente de
Buenos Aires, a busca de equilíbrio territorial se operou mediante a gradativa expansão
jesuítica no Médio Uruguai: em 1682 o “povo” de Santo Tomé estabelecia uma estância
e guarda em São Borja e em 1687 eram oficialmente estabelecidos os “povos”
orientais de São Nicolau, São Luiz Gonzaga, São Miguel e São Borja. Com a
posterior fundação de São Lourenço, São João Batista e Santo Ângelo,
completaram-se os “Sete Povos” – sete cidades de índios guaranis ou
guaranizados. Suas estâncias, porém, se alastraram por praticamente todo o
território uruguaio.
Em 1750, o Tratado de Madri, determinou que a
Colônia do Sacramento passaria para o domínio espanhol, enquanto os Sete Povos
e suas estâncias passariam para o domínio português. Houve reação missioneira e
a guerra guaranítica, que culminou em 1756. Mas no fim, tudo ficou na mesma:
Colônia ainda portuguesa, as Missões Orientais ainda dos espanhóis.
Desde aí,
dois pontos se destacam no mapa político-militar do Sul: o forte de Rio pardo
como guarda - avançada portuguesa às margens do Rio Jacui – olhando o sudoeste
e o noroeste – e a guarda de São Martinho, posto avançado espanhol na subida do
planalto para os Sete Povos das Missões, em escarpas situadas um pouco acima da
atual cidade de Santa Maria.
O Tratado
de Santo Ildefonso, em 1777, estabeleceu limites entre as possessões lusitanas
e hispânicas, referendando a posse espanhola do Sete Povos, com sede do governo
militar em São Miguel.
Por volta
de 1800 a situação era tensa na Europa, com Napoleão Bonaparte em guerra contra
a Inglaterra, envolvendo novamente a rivalidade de espanhóis e lusitanos. No sul
do Brasil, a guarnição de Rio Grande envia tropas contra o forte espanhol de
Cerro Largo, enquanto a guarnição de Rio
Pardo põe em fuga os espanhóis de Santa Tecla e São Gabriel do Batovi.
O governo
militar de São Pedro do Rio Grande do Sul, com sede em Porto Alegre era
exercido pelo cel. Veiga Cabral e o comando da fronteira de Rio Pardo era
exercido pelo ten. Cel. Patrício José Correa da Câmara. Veiga Cabral preferiu confiar a paisanos a
continuidade das operações de fronteira. Para tanto, uma de suas medidas foi
conceder anistia aos desertores, que assim poderiam reforçar os contingentes
lusitanos. Um dos beneficiados pela medida foi José Borges do Canto, que
servira no Regimento de Dragões como soldado raso e agora se dedicava à caça e
comércio de mulas nos descampados do oeste. Apresentou-se ao Regimento de
Dragões e o comandante confiou-lhe a missão de hostilizar, através de
guerrilhas, as Missões Orientais. Recebendo secretamente armas e munições, sai
Borges do Canto a arregimentar voluntários para a arriscada campanha, sempre
procurando dar ao empreendimento o caráter de aventura concebida e organizada
por particulares, à revelia do governo. Ele reúne um pouco mais de 20 gaúchos. Recebe
o reforço do tenente paulista Antônio de Almeida Lara, com 12 homens que trazia
consigo. Outro paulista, o furriel Gabriel Ribeiro de Almeida, servindo no
corpo comandado pelo cap. Barreto Pereira Pinto, apresenta-se para participar
da aventura. Eram, agora, cerca de quarenta combatentes. O grupo se completa
com estancieiro mestiço Manoel dos Santos Pedroso, profundo conhecedor da língua
guarani, que recebe especificamente a tarefa de persuadir os indígenas
missioneiros a entrarem na luta contra o dominador espanhol.
O avanço
é iniciado por Santo Pedroso, que consegue dominar a fortificação de São Martinho,
porta de entrada dos Sete Povos. Aberto o caminho, Borges do Canto surpreende
as defesas de Santo Inácio e São João Mirim. É conseguida a adesão de cerca de
trezentos guaranis. Cai o povo de São Nicolau. A 8 de agosto os atacantes põem cerco
à capital São Miguel, dando ao comandante espanhol cel. Dr. Francisco Rodrigo o
ultimato para que se entregue.
São Miguel,
ainda resiste por três dias, mas, a 11 de agosto de 1801, seu comandante
capitula. Uma a uma vão se entregando as demais aldeias do antigo domínio jesuítico,
sem derramamento de sangue. Houve resistência somente no Passo da Cruz e,
finalmente, em São Borja, onde o espanhol Rubio Dulce, depois de perder vários
soldados, foi vencido a 23 de novembro de 1801. Completava-se assim a façanha incrível
de tornar brasileiro, em curto espaço de tempo, cerca de um terço do atual
território Rio-grandense.
(pesquisa: Cesar, Guilhermino. História do RS. Ferreira
Filho, Arthur; historia geral do RS; Laytano, Dante de. Guia histórico de Rio
Pardo)
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