ESPIRITISMO
O espiritismo surgiu num momento de profundo relaxamento espiritual do planeta. O esplendor científico do sec. XlX proporcionara, como ainda hoje, conforto e facilidades materiais, enriquecera o patrimônio intelectual do homem, mas foi impotente para fazê-lo feliz. Dera-lhe um admirável domínio sobre as leis naturais, mas não o tornou melhor. Os sistemas de moral e de filosofia propostos pelos pensadores honestos foram insuficientes para conformar o individuo com um Deus desconhecido e inacessível, um futuro incerto, tenebroso, indevassável! Restava para a religião por um dever fundamental, socorrer o homem culto, senhor da natureza, rico e cheio de comodidades, mas vazio da alegria de viver. O serviço inestimável da religião seria justamente o de reconciliar a criatura com o Criador, despertando-a para as responsabilidades múltiplas no mundo, a fim de que o homem material, prenhe de conquistas científicas, não atrofiasse o homem espiritual, com suas ignoradas e infinitas possibilidades divinas.
Desgraçadamente, porém, todas as correntes religiosas se haviam cristalizado em hábitos ritualísticos, em dogmas pesadões, em literalismos textuais, em sutilezas teológicas.
Observemos: de um lado, o dogmatismo religioso, autoritário e árido, de outro, o positivismo filosófico e cientifico, com suas limitações exageradas, que redundaram num ateísmo lamentável e prejudicial.
Foi por isso que o espiritismo veio. Na verdade, ele era esperado, de maneira imprecisa, como medida providencial, como socorro do alto. O homem, entre as muitas distrações de leviandades no ambiente transitório da Terra, se esquecera da Pátria espiritual, donde viera um dia, cheio de esperanças, para reeducar, no esforço evolutivo, sua alma rebelde e culpada. Esquecendo-se do Céu, o céu lhe fala, através dos seus irmãos que ficaram, a eterna mensagem da imortalidade triunfante. Vindo, o espiritismo não trazia no bojo de sua doutrina espiritual nenhum programa de agressividade. Não lutaria por uma posição fanática no coração humano. Não seria uma religião a mais, com uma psicologia exclusivista, com um novo código de preceitos mecanizados e obrigações proibitivas. Doutrina de responsabilidade e de liberdade, inicialmente ela vai concordar com o espírito da época, que pedia livre exame e rigorosa experimentação. A fé que apresenta deve ser racionada e não imposta.
Toda a Europa culta se movimenta neste sentido. Até onde se podia arrolar os fenômenos espíritas na categoria de fraude, embuste ou satanismo. Na Inglaterra, principalmente, nomes ilustres de consagrados na historia cientifica se curvam para a evidência das certezas espíritas. Basta citar os nomes de W. Crookes, Oliver Lodge, Russel Wallace. Na França, pátria do próprio Allan Kardec, que codificou os ensinos novos ditados pelos espíritos e com eles estruturou a chamada Terceira Revelação, eminentes e respeitáveis intelectuais se fazem paladinos da nova Fé, como Flammarion, Delanne, Denis, Rochas. Na Itália, um Bozzano. Em toda parte, a ciência vasculhou, examinou, pesou, mediu, concluiu e se convenceu.
Filosoficamente falando, o espiritismo é uma religião que ajuda o homem na solução de seus problemas. Para todo problema há uma solução. E nossa vida está repleta deles. As noções tradicionais de filosofia, compendiadas mais para fins didáticos do que para a compreensão da personalidade humana e dos objetivos da vida, são insuficientes, incompletas, para nos saciar a mente e o coração. Há dores em nosso caminho, há um destino que nos enlaça e arrasta, cumprindo um plano que ignoramos e que nos toca muito de perto. Quantas incógnitas, quantas apreensões, quantas dúvidas! A esfinge se ergue de novo no areal ardente e repete as palavras terríveis do pobre viajor humano. Decifra-me, ou te devoro....
A vida espiritual está, igualmente, subordinada a leis. Nosso destino tem a sua, inteligente, lógica e justa. Somos pobres ou ricos, doentes ou sadios, inteligentes ou obtusos, sábios ou ignorantes, em obediência a um principio íntimo de justiça e não a um favoritismo divino. Nossos contrastes sociais refletem posições espirituais diferentes, em virtude da aplicação que fizemos de nosso relativo livre-arbítrio. Tudo deve ser examinado, aprofundado e entendido. A vida não é um caos, mas uma esplêndida sinfonia.
Eis o homem diante de si mesmo. Donde procede ele? Porque vive dessa forma? Para onde o leva seu destino? Que haverá depois da morte? São questões transcendentes que precisam ser enfrentadas e resolvidas, para que os nossos dias no mundo não transcorram entre os gozos, as ambições e os orgulhos. Elas envolvem sagrados interesses de nossas almas. Uma religião para o novo milênio não pode limitar-se à consolação com os valores da fé, mas está no dever, imposto pela evolução, de iluminar a razão, para que tudo seja esclarecido e aceitável. E o espiritismo atende, satisfatoriamente, a essa necessidade do espírito moderno. Fundamentado no Evangelho, ele é a melhor filosofia da vida, indo ao encontro das almas errantes na Terra e explicando-lhes seus destinos, suas origens, seus fins gloriosos através da evolução, suas vidas sucessivas, suas lágrimas e suas esperanças.
A ciência por sua vez, é apenas uma conseqüência natural, porque somente uma religião que se submeta aos processos rigorosos da experimentação será honesta consigo mesma. Para uma época materialista e cientifica é indispensável opor uma filosofia religiosa, que seja também, de base científica. Podemos então dizer que espiritismo: É uma ciência que estuda a natureza, a origem e o destino dos espíritos e sua interligação com o mundo corporal.
O ESPIRITISMO NO BRASIL
No século dezenove, muitas espíritas eram de parecer que se deveria estudar apenas “O Livro dos Espíritos”, de Kardec, devendo a doutrina ser encarada apenas como ciência; outros eram de parecer que o Espiritismo deveria ser filosófico e religioso. Denominava-se Doutrina Espírita apenas ao que constava de o Livro dos Espíritos; os estudiosos dos demais livros de Kardec, se chamavam Kardecistas. Chegou-se a criar um chamado Espiritismo Puro, eqüidistante de “científicos” e “místicos”. Alem destes existia ainda um grupo que se dedicava com afinco ao estudo das obras de J.B. Roustaing.
O quadro era realmente desalentador e representava verdadeira dispersão. Esse panorama perdurou até quando surgiu no cenário a figura apostólica do Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, espírito moderado e pacificador, que, assumindo a presidência da Federação Espírita Brasileira, conseguiu reduzir as proporções da dispersão generalizada, ate então prevalecente. Se ele não conseguiu equacionar os gigantescos problemas com que deparou, pelo menos, evitou que eles alcançassem maior amplitude, o que fez ate o início do ano 1900, quando adoeceu, vindo a desencarnar no dia 11 de abril desse mesmo ano. Bezerra deixou um movimento espírita com linhas bem mais definidas e com horizontes bem mais desanuviados.
Nesta altura dos acontecimentos, o espiritismo já estava alastrando suas raízes pelos estados brasileiros. Várias entidades foram criadas em âmbito estadual, surgindo grandes vanguardeiros em muitas cidades brasileiras. O trabalho incomparável destes grandes homens representou um verdadeiro embate de pigmeus contra gigantes, mas eles, com suor e lágrimas conseguiram implantar a bandeira do espiritismo em terreno, até então árido. No estado de São Paulo, pioneiros espíritas da estirpe de Batuíra, Anália Franco e Caibar Schutel. Em Minas Gerais, Eurípedes Barsanulfo; José Petitinga, na Bahia e o major Viana de Carvalho, percorrendo vários estados brasileiros, fundando federações e centros espíritas, representavam um grandioso esforço para que a Doutrina dos Espíritos se consolidasse de forma definitiva e tantos outros que foram surgindo em todos os quadrantes do Brasil. A conceituação espírita de Ciência, Filosofia e Religião, passou a ser consagrada pela imensa maioria dos seguidores da Doutrina.
A Doutrina Espírita é sinônimo de Espiritismo. A sua estrutura não comporta qualquer outro gênero de ramificação. A doutrina dos espíritos, ou terceira revelação, foi codificada por Allan Kardec, tem estrutura própria e contornos definidos, jamais podendo ser confundida com movimentos paralelos ou seitas divorciadas daquilo que o emérito mestre francês estruturou nas obras fundamentais do Espiritismo, e que representa a súmula de tudo aquilo que o Espírito de Verdade, prometido por Jesus Cristo, veio revelar à humanidade sofredora.
Podemos dizer que, Bezerra de Menezes foi o consolidador da Federação Espírita Brasileira e o orientador e chefe do Cristianismo espírita entre nós. Ele nasceu em 29 de agosto de 1831, no estado do Ceará. Formou-se médico com muitas dificuldades, fazia literatura e foi chamado de o “jornalista elegante”. Foi chamado o “médico dos pobres” e não tardou a ser chamado pela política. Era militar e quando foi eleito teve que renunciar à caserna para se engajar na política partidária. Foi também deputado geral, hoje federal, pelo partido Liberal contra o partido Conservador. Combateu os desmandos, as roubalheiras, os escândalos. Durante sua atividade política nenhuma questão social deixou de ter nele um pioneiro: o trabalho, o capital, a escravidão, a saúde pública, a universidade.
Ainda não existia Allan Kardec no mundo filosófico e Léon Rivail era apenas um ilustre professor de Humanidades em Paris, e já a Corte do império Brasileiro possuía um núcleo neo-espiritualistas, formado de elementos cultos e de responsabilidade, que irradiava por todo o País, por toda a América do Sul e até pela Europa as ondas do seu saber. A este núcleo de cientistas se deve, o preparo do terreno, onde mais tarde, seria lançada a semente do Espiritismo. Era o círculo homeopático. Desde 1818, o Brasil principiara a ouvir falar da Homeopatia. O patriarca da Independência correspondia-se com Hahnemann. A história não registra ainda o nome dos adeptos senão a partir de 1840, ano em que chegaram ao Brasil dois homens extraordinários, que não devem ser esquecidos pelos espíritas: Bento Mure, francês, e João Vicente Martins, português, depois brasileiro. A ação desses dois super-homens não pode ser contada em poucas palavras. Baste dizer: tudo quanto é raiz, tudo quanto é tronco, tudo quando é galho na frondosa árvore homeopática brasileira, tudo se deve aos dois pioneiros. Outros gozaram as flores, os frutos, o perfume. Outros plantaram em campos novos as sementes colhidas.
Bento Mure e Martins eram profundamente neo-espiritualistas. Ambos possuíam o dom da mediunidade. Mure, clarividente; Martins, Psicógrafo. Não se conheciam então as leis metapsíquicas. Reinava o empirismo nos trabalhos de inspiração. Mas quem ler Mure, em “Filosofia Absoluta”, verificará que, antes de chegar a nós a doutrina dos espíritos, ele se dava a transes mediúnicos. Foi devido a uma assistência invisível constante que puderam, os dois, numa terra estranha e ingrata, que tanto amaram, amargar um apostolado inesquecível, recebendo em paga do bem que faziam o prêmio reservado aos renovadores: a perseguição, os ataques traiçoeiros,as ofensas morais e o encurtamento da própria vida. Foram os grandes médicos dos pobres, que o Brasil conheceu. É ainda a Martins que devemos a introdução, em nosso país, da irmãs de caridade e dos princípios vicentinos, em 1843. Ainda na continuação desta linha homeopática, lembramos mais dois notáveis nomes, como pioneiros, no espiritismo, Melo Morais e Castro Lopes.
A cura homeopática envolvia, como envolve ainda hoje certo mistério para o leigo. Nada mais estranho do que a ação rápida, segura e suave de um medicamento diluído até o absurdo. O médico mais materialista, mais ateísta, aparecerá sempre, diante do doente, com uma auréola de misticismo. Ora Bento Mure e Vicente Martins, falavam ainda em Deus, Cristo e Caridade quando curavam e quando propagavam. Aplicavam aos doentes os passes, como um ato religioso. Não o faziam por charlatanismo. Hahnemann recomendava esse processo auxiliar da homeopatia. Foram os homeopatas que lançaram os passes, não os espíritas. Estes continuaram a tradição.
É interessante constatar que José Bonifacio de Andrada e Silva aparece na história da Homeopatia e na história do Espiritismo, em nossa terra, como dos primeiros experimentadores. Contudo, o grupo espírita mais antigo, que se teria reunido no Rio de Janeiro, foi o de Melo Morais, homeopata e notável historiador. Freqüentavam este grupo o Marques de Olinda, o Visconde de Uberaba, o general Pinto e outros vultos notáveis da época.
Isso se teria dado antes de Kardec, por volta de 1853, segundo o” Reformador” de primeiro de maio de 1883. Por isso, o primeiro período espírita é contado desse ano até 1863. O segundo, de 1863 até 1873, o terceiro de 1873 a 1883. O quarto é contado de 1884 a 1894, o quinto de 1894 a 1904, o sexto de 1904 a 1914. Graças ao fato de começar o espiritismo pela nata social, as primeiras noticias de imprensa lhe foram favoráveis, ou pelos menos não lhe foram contrárias. Quando o livro dos espíritos chegou à Corte, já encontrou um meio propício para a sua divulgação. Além de comentários da imprensa, começaram a circular, folhetos sobre a doutrina. Ao terminar o primeiro período em 1863, o espiritismo já era um assunto sério. O segundo período começa com a primeira contestação ao espiritismo. Com um artigo debochado e burlesco, o Diário da Bahia, transcrevera artigo datado de 27 setembro, do Dr. Déchambre extraído da “Gazette Médicale” ao qual os Drs. Luís Olímpio Teles de Campos, José Álvares do Amaral e Joaquim Carneiro de Campos subscreveram uma réplica, publicada no dia 28 do mesmo mês. Foi este artigo que colocou o Brasil em destaque aos olhos de Kardec (Revue Spirite) e marcou, por isso, o início de uma nova fase, na qual apareceram os primeiros centros espíritas nos moldes preconizados por este (Revue Spirite, 1864), quer na Bahia,, quer no Rio, em Sergipe e outros estados. Em 1869, saiu a nossa primeira revista espírita no Brasil: “O Eco de Além Túmulo” monitor do espiritismo no Brasil. Ao entrar o espiritismo mundial na sua segunda época, que principiou com a morte de seu codificador, em 31 março de 1869, não havia ainda entre nós, como quiçá em parte nenhuma, salvo Paris e América do Norte, senão esses grupos particulares, mais ou menos cultos. Já era, entretanto, crescido o número de adepto, contados principalmente entre médicos, engenheiros, advogados, militares, professores e artistas. Bezerra de Menezes, a esse tempo, se entretinha apenas com livros religiosos. Bezerra, repelia semelhante doutrina por ser muito católico. Ele tinha sólido conhecimento em teologia e graças a isso, sua conversão foi um mero fenômeno de recordação. A morte súbita de Kardec, deixara o espiritismo sem chefe e os pretendentes ao cargo apareceram em todos os pontos. Todos queriam uma união dos espíritas em torno de um centro diretor. Todos, porém, queriam ser este centro. O Brasil, refletia a mesma divergência e competição. Alguns resolveram criar no Rio de Janeiro, um núcleo regular para dirigir o espiritismo e orientar a propaganda. Esta sociedade fundada em 2 de agosto de 1873 com o nome de Confucius, não era uma homenagem ao grande filósofo chinês, mas a um espírito, que vinha desde algum tempo, nos trabalhos particulares do Dr. Sequeira Dias, ensinando elevados princípios de moral. Aí entrou o elemento homeopático com preponderância. Alguns de seus membros tornaram-se mesmo, com o tempo, notáveis médiuns curadores, que só empregavam a homeopatia. Nomes como o Dr. Bittencourt Sampaio aparecem nesta diretoria que tem como presidente o Dr. Sequeira Dias. A divisa da sociedade era: “Sem caridade não há salvação”. Uma das formas da caridade era curar pela homeopatia. Ainda nesta fase, continuava, no mundo invisível, o apostolado de João Vicente Martins, falecido em 1854, e Mure, em 1858. Ao grupo Confucius, que durou menos de 3 anos, se deve a tradução das obras de Kardec, a primeira assistência gratuita homeopática, a primeira revelação do nome do guia do Espiritismo no Brasil. O deputado Bezerra recebeu uma dessas traduções do Livro doa Espíritos e em uma hora de viajem de bonde, onde ele não tinha o que fazer começou a leitura: não encontrara nada de novo, no entanto aquilo tudo era novo para mim...eu já lido ou ouvido tudo o que se achava no livro dos Espíritos. Parece que era espírita inconsciente, ou com se diz vulgarmente, espírita de nascença.
O Grupo Confucius era espiritista puro. O art. 28 dos Estatutos adotava somente o Livro dos Espíritos e o Livro dos Médiuns. Os Kardecistas principiaram a reclamar. Achavam que o espiritismo puro, sem o Kardecismo, não vingaria no meio popular, numa nação visceralmente cristã. A primeira propaganda deveria ser calcada no Cristianismo. Apoiado no Evangelho, na moral de Jesus, no Kardecismo enfim, o êxito seria uma questão de tempo. Essa opinião era tratada com ardor. Os kardecistas queriam fechá-la.
O “Guia”procurava a conciliação no terreno puramente espírita.
“Nossa missão, como a vossa, é de virmos ao encontro da boa vontade. Cristo disse: “Quando vos reunirdes em meu nome, estarei no meio de vós”. A nós, que não somos o Mestre, cumpre o dever de assistir-vos, encorajar-vos e dizer-vos: Homens de boa vontade, que a fé, a caridade, a união animem vossos corações, para que os bons espíritos sejam convosco. Animados desses sentimentos, que a todos almejamos, vereis aumentar as vossas forças, decupletar os meios de fazer o bem. E se tiverdes humildade para reconhecer que estes fatos são dons de nosso Pai e não o efeito de nossa personalidade, as bênçãos descerão sobre vós e tereis a glória de haver colocado a mão na obra de regeneração, aplicando a lei do progresso. Coragem,fé, perseverança e seremos sempre convosco. Confucius”.
O espírito Kardec explicava: “Trabalhar na vinha do Senhor é levar aos vossos irmãos a coragem, a consolação, a resignação e sobretudo a esperança, quando encarnados e indicar, aos desencarnados, a via da felicidade que perderam. Trabalhai sem cessar e sereis assistidos, esclarecidos e abençoados”.
Mas o espírito, a quem todos rendiam homenagem, em quem o próprio Confucius e o próprio Kardec, para só falar dos grandes, reconheciam um missionário para o Brasil, parecia apoiar os Kardecistas. Em suas raras e preciosas mensagens, repetia sempre:
“O Brasil tem a missão de cristianizar. É a terra da fraternidade. A terra de Jesus. A terra do evangelho. Não foi por casualidade que recebeu desde o berço o leite da religião cristã. Não foi sem significação que a viram os primeiros navegadores debaixo do Cruzeiro do Sul. Na nova era e próxima, abrigará um povo diferente pelos costumes cristãos. Cumpre ao que ora ouve os arautos do Espaço, que convocam os homens de boa vontade para o preparo da Era Nova, reconhecer em Jesus o chefe espiritual. Com o Evangelho explicado à luz do espiritismo, a moral de Jesus, semeada pelos jesuítas e alimentada pelos católicos, atingirá a sua finalidade, que é rejuvenescer os homens velhos, que aqui nascerão ou para aqui virão de todos os pontos do globo, cansados de lutas fratricidas e sedentos de c onfraternidade. A missão dos espíritas no Brasil é divulgar o Evangelho em espírito e verdade. Os que aqui quiseram bem cumprir o dever, a que se obrigaram antes de nascer, deverão, pois, reunir-se debaixo deste pálio trinário: Deus, Cristo e Caridade. “onde estiver esta bandeira, aí estarei eu, ISMAEL”.
Em vez de união e harmonia foi a divisão e a discórdia, que surgiram, enfraquecendo o Grupo, para o extinguir em menos de 3 anos. Os Kardecistas o foram abandonando e fundando, nos próprios lares, ou em certos lares, grupos particulares para o estudo exclusivo do “Evangelho segundo o Espiritismo”. Em 26 de abril de 1876, um grande número fundou a primeira sociedade evangélica regular denominada “Sociedade de Estudos Espíritas,” Deus,Cristo e Caridade”. Um dos chefes, Bittencourt Sampaio, presidia os trabalhos e receitava homeopatia sob inspiração. No dia 11 de setembro de 1878, o advogado Antonio Luiz Sayão, vendo moribunda e desenganada a esposa, resolveu acompanhar Cândido de Mendonça até Bittencourt para pedir uma receita aos Espíritos. A homeopatia indicada curou-lhe a mulher em pouco tempo e conquistou para o Kardecismo um dos seus maiores valores. Contemporânea da de Kardec, a obra de Roustaing já era estudada aqui. Bittencourt era rustanista e sayão se tornou o seu melhor discípulo. Não havia ainda fronteira entre Kardecista e Rustanista.
Mas continuou também nessa sociedade a separação entre místicos e científicos, onde só deveria existir cristãos espíritas. Os místicos abandonaram-na e foram fundar em 2 de março de 1880, “a Sociedade Espírita Fraternidade”,levando consigo, segundo diziam, o estandarte de Ismael. Queriam, portanto, ser o centro diretor de Espiritismo brasileiro, do qual Ismael era considerado o chefe espiritual.
Augusto Elias da Silva, ao lançar em 21 de janeiro de 1883, o Reformador, que havia de marcar o inicio do quarto período (1883-1893), era ainda neófito e quase desconhecido. Pelo raciocínio, antes que pela observação, a bastilha de prevenções foi sendo abalada e certo dia, caiu. Rendeu-se de corpo e alma e com tamanho ardor que, entre tantos veteranos, foi quem primeiro escreveu, em junho de 1882, uma réplica à pastoral do mesmo mês e ano em que o chefe da igreja, no Rio de Janeiro, declarava: “Devemos odiar pelo dever de consciência”. Não conseguindo inserir o artigo em nenhuma folha, entrou a alimentar o desejo de possuir um jornal próprio ao serviço da idéias liberais. E quase sozinho, com muitas dificuldades, concretizou a idéia 6 meses depois. O órgão evolucionista O Reformador propunha-se a renovar os costumes. Elias foi à porta liberal de Bezerra de Menezes. Este o aconselhou a seguir naquele momento uma política discreta. Não revidar com as mesmas armas, opor contra o ódio, o amor. Era conveniente conquistar e não combater o católico. Enquanto o Dr. Antonio Pinheiro Guedes, médico homeopatista, com o pseudônimo de Guepian, o marechal Francisco Raimundo Ewerton Quadros, com o pseudônimo de Freq, procediam à analise serena da Pastoral e dos ataques católicos, Bezerra de Menezes, com as iniciais A.M.,comentava o catolicismo do ponto de vista geral, revelando grande cabedal teológico e de história. Desta forma, coube ao Reformador a glória de publicar as primícias daquele que seria depois, a partir de 16 de agosto de 1896, o maior escritor, o maior orador, a maior opinião do Kardecismo brasileiro. Era imprescindível a união dos espíritas. O Reformador defendeu, por isso, o ponto de vista da União Espírita do Brasil, que era criar “um centro, no Rio, formado por delegados de todos os grupos. Em primeiro de janeiro de 1884, Elias e seus amigos Quadros, Xavier Pinheiro, Fernandes Figueira, Silveira Pinto, Romualdo Nunes e Pedro de Nóbrega, fundam a Federação Espírita Brasileira, sob o acróstico: Reunindo em forte, indissolúvel laço A crente comunhão espírita brasileira. O Reformador passa a ser o órgão da Federação. Bezerra não assinara a ata de fundação. Ainda não havia chegado sua hora. O Presidente Quadros, começa então a realizar conferências e consegue adesões importantes para o espiritismo como o Dr. Francisco de Menezes Dias da Cruz, o grande homeopata, o Dr. Castro Lopes, o filólogo, o homeopata, o escritor estimado e muitos outros. Em 16 de agosto de 1886, aconteceu um fato realmente extraordinário. “Um auditório de cerca de 2 mil pessoas da melhor sociedade enchia a sala de honra da Guarda Velha para ouvir em silêncio, emocionado, atônito, a palavra de ouro do eminente político, do eminente médico, do eminente cidadão, do eminente católico, Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, que proclamava aos quatro ventos a sua adesão ao Espiritismo. Desde este memorável dia, o Kardecismo passou a ter um chefe no Brasil. Espíritas, Kardecistas e rustanistas ficaram contentes. Mais adiante, os “científicos o denominaram o primeiro dos místicos”.
No entanto, Bezerra de quando em vez se magoava pela desunião no meio espírita e concita os confrades à harmonia, à fraternidade. Não era possível admitir que gente bem intencionada, desejosa de reformar os maus costumes, de dominar as paixões de homem velho, de mudar a face das coisas, de espiritualizar e cristianizar o meio brasileiro, não fosse a primeira a dar o exemplo de tolerância, unindo-se entre si. A divergência era por questiúnculas de interpretação. Urgia que aparecesse alguém com prestígio maior que o de todos, capaz de fazer em volta de si um partido dominante. Urgia, sobretudo, tirar de certos indivíduos mal intencionados, por delicadeza chamados de “obsidiados”, a liberdade de doutrinar em nome do espiritismo, que adulteravam consciente ou inconscientemente. Duas entidades intra-muros disputava e hegemonia: a União Espírita do Brasil e a Federação Espírita Brasileira. Em 5 de janeiro de 1889, manifestava-se Allan Kardec através da mediunidade de Frederico Pereira da Silva Junior, o Frederico Júnior, com as “Instruções de Allan Kardec”. Divulgadas as “instruções” Bezerra foi um primeiros que julgaram a comunicação preciosa. Tendo sido convidado, aceitou a presidência da Federação. Convidou, então todos para um congresso que teve lugar em 31 de março de 1889. Convidou a todos para porem de lado qualquer das entidades existentes e formar um “Centro” e logo após era, assembléia constituinte, com a presença de 34 grupos da Corte “decretado o regime federativo como lei orgânica do Espiritismo no Brasil”. Animado por uma comunicação de seu guia espiritual, Santo Agostinho (A união dos espíritas e sua orientação vos foi confiadas”), desdobrou-se em atividade. Mas continuava a dissenção interna. Não se entendiam os místicos e os científicos. Então o ministro da justiça baixa uma lei declarando fora da lei o baixo espiritismo. Foi uma confusão geral, mas isto serviu para unir os espíritas em torno daquela que era a mais representativa das sociedades, a Federação. Os 4 inimigos do espiritismos cantavam hinos de louvor. O positivismo, arvorado em mentor da recém proclamada república. O materialismo, liberto o Estado da tutela da igreja católica. O racionalismo campeava no Congresso, na Imprensa, etc. O clero, se não estava contente com a situação, acendia contudo velas pelo seu adversário estava metido no código penal.
Mas para suavizar tantas vicissitudes, veio de Nápoles a noticia de que César Lombroso e outros...diante dos trabalhos de Eusápia Paladino, proclamavam a existência da Metapsíquica. No começou um movimento metapsíquico. O espiritismo, nas rodas cultas, não era mais cuidado como filosofia ou religião, mas como ciência. O decênio 1883-1893, predominantemente cientifico. A presidência foi confiada a Dias da Cruz, espiritista puro, isto é, nem “cientifico”, nem “místico “. O novo rumo foi traçado no editorial intitulado “Sectarismo”, que precisamos conhecer neste trecho: “O espírita está, pois, em seu verdadeiro posto quando se coloca entre o homem de ciência e o homem de fé, não possuindo as crendices de um, nem por igual as negações de outro. Não nos desviemos de nosso lugar. Postos entre a fé e a razão, evitemos os exageros do sectarismo, pois que ele é o verdadeiro inimigo. Nesta época, começa também a assistência aos necessitados na Federação e ela submete a mesma ao seu jugo. A lição moral disso tudo é esta: os que sustentaram a Federação por causa da Assistência permaneceram em ambas até o fim. A lei talvez seja esta: Os que defendem o Espiritismo, não pelo que encerra de cientifico, filosófico, religioso ou utilitário, mas pela caridade que ele pode praticar, esses ficarão até o fim. E serão salvos.
Finalidade imediata do Espiritismo.
A filosofia moral da antiguidade, afirmou, pela boca de Sócrates, que só é útil o conhecimento que torna os homens melhores. O mesmo devemos dizer relativamente às religiões. Seu valor fundamental é promover o aperfeiçoamento moral da criatura. Quando as crenças se reduzem a um simples mecanismo devocional, com práticas externas apenas, sem alterarem a natureza espiritual do homem, perdem sua finalidade nobre de reintegrar a criatura na legítima adoração a Deus, num método honesto de viver e no espírito de solidariedade humana.
Cristo é um educador e seus princípios são essencialmente reformadores. O Céu, segundo o seu pensamento constante, só se conquista através dos estreitos caminhos do amor. O espiritismo, na sua parte moral, é uma reafirmação da lei evangélica, de modo que ele tem de ser antes de tudo, uma escola de reforma espiritual, onde cada um aprenda a conhecer-se e a corrigir-se de seus milenários erros e inferioridades. Eis a razão por que não se admitir Espiritismo sem Evangelho. Se ele fosse apenas uma seita, com rituais e preceitos copiosos, iria somente aumenta o número de credos, sem maior alcance evolutivo. Mas não é assim. É seu objetivo transformar maus em bons, egoístas em generosos, violentos em mansos, perversos em compassivos, ateus em crentes.
São bem práticos, pois, os fins imediatos do espiritismo. Não se trata, como a ignorância propala há anos, de uma doutrina de mortos em antagonismo com a vida cotidiana. Ao contrário, ela valoriza a vida. A existência mais inexpressiva. A verdadeira religião, a que Cristo nos ensinou há mais de dois mil anos, entre aflições e amor, começa no coração do homem.
Eis, pois, o Espiritismo, tão incompreendido e tão agredido, a cumprir em elevado programa no novo milênio, melhorar a sociedade, aperfeiçoando os indivíduos, tratar do organismo enfermo, medicando as doentes que o compõem.
“Permita Deus que os espíritas a quem falo, que os homens, a quem foi dada a graça de conhecerem em Espírito e verdade a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo, tenham a boa vontade de me compreender, a boa vontade de ver nas minhas palavras unicamente o interesse do amor que lhes consagro”. Allan Kardec.
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