quarta-feira, 25 de março de 2015

             OBRA PRIMA DE JOSÉ GARILBALDI SOBRE BENTO GONÇALVES DA SILVA! 

                Bento Gonçalves, verdadeiro cavaleiro andante do ciclo de Carlos Magno, irmão pelo valor, dos Olivérios e Rolandos, vigoroso, ágil, leal como eles, verdadeiro centauro, governando um cavalo como nunca vi, a não ser o general Netto – modelo completo do cavaleiro, - estava ausente e em marcha, à frente de uma brigada de cavalaria, para combater Silva Tavares, que tendo transposto o São Gonçalo, hostilizava esta parte do território de Piratini, sede do governo.
                Achando-se desocupado em Piratini, pedi para fazer parte da linha de operações de São Gonçalo, comandada pelo presidente. Foi aí, que vi pela primeira vez esse bravo e que passei alguns dias em sua intimidade. Era, na verdade o filho dileto da natureza, que lhe deu tudo o que faz um herói.
                Bento Gonçalves, tinha perto de 50 anos quando o conheci. Alto e esbelto, montava a cavalo, como já disse, com graça e desembaraço admiráveis. A cavalo não lhe daria mais de 25 anos. Valente e feliz, não hesitaria por um instante, qual um cavaleiro de Ariosto, combater um gigante, fosse ele da corpulência de um Polifemo e tivesse armadura de Ferragus. Fora um dos que primeiro lançara o grito de guerra, não com fim de ambição pessoal, como qualquer outro filho desse povo belicoso.
                Seu passado no campo era o do último dos habitantes das planícies: carne assada e água pura. No primeiro dia em que nos vimos, convidou-me para sua frugal refeição, e, conversamos com tanta familiaridade, como se há muito fôssemos companheiros de infância e iguais.
                Com tantos dons e prendas naturais, Bento Gonçalves foi ídolo dos seus concidadãos.
                Onde estarão agora esses belicosos filhos do Continente, tão majestosamente terríveis nas batalhas? Onde, Bento Gonçalves, Netto, Canabarro, Teixeira e tantos valorosos que não lembro?...
                Oh! Quantas vezes tenho desejado nestes campos italianos um só esquadrão de vossos centauros, avezados a carregar uma massa de infantaria com o mesmo desembaraço com que o fazem a uma ponta de gado!... Onde se acham eles? Que o Rio Grande ateste com uma modesta lápide o sítio em que descansem seus ossos!
Obs: Polifemo, na mitologia grega, era um ciclope, filho de Posídon e da ninfa Teosa.

 Ferragus é um romance de Honoré de Balzac, publicado na Revue de Paris.

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