OBRA PRIMA DE JOSÉ GARILBALDI SOBRE BENTO GONÇALVES DA
SILVA!
Bento Gonçalves,
verdadeiro cavaleiro andante do ciclo de Carlos Magno, irmão pelo valor, dos
Olivérios e Rolandos, vigoroso, ágil, leal como eles, verdadeiro centauro,
governando um cavalo como nunca vi, a não ser o general Netto – modelo completo
do cavaleiro, - estava ausente e em marcha, à frente de uma brigada de
cavalaria, para combater Silva Tavares, que tendo transposto o São Gonçalo,
hostilizava esta parte do território de Piratini, sede do governo.
Achando-se
desocupado em Piratini, pedi para fazer parte da linha de operações de São
Gonçalo, comandada pelo presidente. Foi aí, que vi pela primeira vez esse bravo
e que passei alguns dias em sua intimidade. Era, na verdade o filho dileto da
natureza, que lhe deu tudo o que faz um herói.
Bento Gonçalves,
tinha perto de 50 anos quando o conheci. Alto e esbelto, montava a cavalo, como
já disse, com graça e desembaraço admiráveis. A cavalo não lhe daria mais de 25
anos. Valente e feliz, não hesitaria por um instante, qual um cavaleiro de
Ariosto, combater um gigante, fosse ele da corpulência de um Polifemo e tivesse
armadura de Ferragus. Fora um dos que primeiro lançara o grito de guerra, não com
fim de ambição pessoal, como qualquer outro filho desse povo belicoso.
Seu passado
no campo era o do último dos habitantes das planícies: carne assada e água
pura. No primeiro dia em que nos vimos, convidou-me para sua frugal refeição,
e, conversamos com tanta familiaridade, como se há muito fôssemos companheiros
de infância e iguais.
Com tantos
dons e prendas naturais, Bento Gonçalves foi ídolo dos seus concidadãos.
Onde estarão
agora esses belicosos filhos do Continente, tão majestosamente terríveis nas
batalhas? Onde, Bento Gonçalves, Netto, Canabarro, Teixeira e tantos valorosos
que não lembro?...
Oh! Quantas
vezes tenho desejado nestes campos italianos um só esquadrão de vossos
centauros, avezados a carregar uma massa de infantaria com o mesmo desembaraço
com que o fazem a uma ponta de gado!... Onde se acham eles? Que o Rio Grande
ateste com uma modesta lápide o sítio em que descansem seus ossos!
Obs: Polifemo, na mitologia grega, era um ciclope, filho de Posídon e da
ninfa Teosa.
Ferragus é um romance de Honoré de Balzac, publicado na
Revue de Paris.
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