SAUDADES!
No
galpão abandonado, o xirú velho abichornado, olha os trastes que usou a vida
toda, num saudosismo sem par.
Lágrimas
escorrem de seu rosto, enrugado pelo tombos do tempo. Nada é mais como antes. A
tecnologia revolucionou tudo e sua querência virou tapera. Muitas coivaras
invadiram os capões de mato, destruindo o que restava da nobreza e do altruísmo
natural, do ideal plasmado desde remotas épocas.
As águas
dos olhos avançam em convulsivo pranto. Não consegue segurar tamanha amargura
que brota do fundo da alma perdida, nos horizontes largos dos seus corcovos
incontidos.
Aquele
antes moço, cheio de vida e esperança, só resta a canha de guampa e o velho
fogo de chão, que teima em arder como a dizer, ainda estou aqui, embora
desesperançado.
Ora
saudades, por que não vai embora? Será a demência do índio vil que só vislumbra
óbices? À sua mente ele vê os Cavaleiros Templários de tempos idos, como a
explorar a crença da força de sua espada imoladora.
Entretanto,
ressurge a sua frente uma imponente figura ancestral, montado em seu pingo
garboso a dizer-lhe, encilhe teu alazão e vem comigo. E na rapidez do corisco,
sai em seu encalço, na certeza do encontro final.
Pensa
então que é o fim da jornada, mas no limiar da porteira, sente novamente o
pasto molhado, seu cheiro inconfundível e vê novamente num sorriso largo, as
planícies que tantas vezes passeou com dignidade e entoa então, um chamamê na candura
maviosa do cancioneiro guasca.
Os
sortilégios que a existência proporcionou, eram provas da lealdade para consigo
mesmo e a melena novamente solta ao minuano, faz voltar a sua meninice e ele
sente que ainda pode ser feliz, conhecendo-se a si próprio e este é, o grande
legado do seu aprendizado, no ritual da saudade infinda.
As aberrações que ele via se
dissiparam. O vento levou, gracias Senhor, por esta dádiva e volve ao presente
num salutar aprochego às planuras visionárias do seu cosmo nuclear.
E como
dizia o saudoso poeta Luiz Menezes: “Saudade, ora saudade. A saudade não tem
tempo de chorar Pedro Ninguém”.
Pensemos
nisso!
ANTONIO PEREIRA DOS SANTOS – Professor e tradicionalista.
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