quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

                                                                SAUDADES!

                No galpão abandonado, o xirú velho abichornado, olha os trastes que usou a vida toda, num saudosismo sem par.
                Lágrimas escorrem de seu rosto, enrugado pelo tombos do tempo. Nada é mais como antes. A tecnologia revolucionou tudo e sua querência virou tapera. Muitas coivaras invadiram os capões de mato, destruindo o que restava da nobreza e do altruísmo natural, do ideal plasmado desde remotas épocas.
                As águas dos olhos avançam em convulsivo pranto. Não consegue segurar tamanha amargura que brota do fundo da alma perdida, nos horizontes largos dos seus corcovos incontidos.
                Aquele antes moço, cheio de vida e esperança, só resta a canha de guampa e o velho fogo de chão, que teima em arder como a dizer, ainda estou aqui, embora desesperançado.
                Ora saudades, por que não vai embora? Será a demência do índio vil que só vislumbra óbices? À sua mente ele vê os Cavaleiros Templários de tempos idos, como a explorar a crença da força de sua espada imoladora.
                Entretanto, ressurge a sua frente uma imponente figura ancestral, montado em seu pingo garboso a dizer-lhe, encilhe teu alazão e vem comigo. E na rapidez do corisco, sai em seu encalço, na certeza do encontro final.
                Pensa então que é o fim da jornada, mas no limiar da porteira, sente novamente o pasto molhado, seu cheiro inconfundível e vê novamente num sorriso largo, as planícies que tantas vezes passeou com dignidade e entoa então, um chamamê na candura maviosa do cancioneiro guasca.
                Os sortilégios que a existência proporcionou, eram provas da lealdade para consigo mesmo e a melena novamente solta ao minuano, faz voltar a sua meninice e ele sente que ainda pode ser feliz, conhecendo-se a si próprio e este é, o grande legado do seu aprendizado, no ritual da saudade infinda.
                As aberrações que ele via se dissiparam. O vento levou, gracias Senhor, por esta dádiva e volve ao presente num salutar aprochego às planuras visionárias do seu cosmo nuclear.
                E como dizia o saudoso poeta Luiz Menezes: “Saudade, ora saudade. A saudade não tem tempo de chorar Pedro Ninguém”.
                Pensemos nisso!


                  ANTONIO PEREIRA DOS SANTOS – Professor e tradicionalista.

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