quinta-feira, 21 de junho de 2018


                                                           ORELHANO!

                Toca o compasso parceiro velho porque cada pisada é uma marca indelével na essência do vivente, teatino por natureza, cujo rancho é o próprio pampa com seu céu estrelado.
                Abrindo caminho nas tigüeras da ida sem rumo certo, tem seu destino a cada dia traçado e a galopito no más, sofreneia o corcel, parceiro cotidiano da vida errante, que já conhece seu dono pelo montar e pelo olhar perdido no horizonte.
                Mas o ritual dos fogões fulgura imponente em sua mente, quando pensa na china que ficou pra trás em recordações, como ave que voa e que sempre volta ao ninho. No entanto, ela não voltou e um gosto amargo de abandono retorce sua boca num esgar, profligando seu ânimo na penca da existência vazia.
                Ah vida orelhana! Que não precisa passaporte por andar a esmo com seu laço enrodilhado a espera de um pretérito saudoso aonde chegava à estância e via a cachorrada que o recebia em festa, sua mãe rindo e o abraçando, pela volta do filho pródigo à casa que o viu nascer.
                Contudo, pelos corredores dos alambrados ele perdeu-se e não consegue achar seu caminho de volta, prolatando descaminhos na aspereza das urzes do estradeiro, que esconde o iminente despenhadeiro como abutre que sobrevoa sua presa disforme.
                Que fim bucólico do guasca tapejara de outros tempos, que foi taura em diferentes guerras, revoluções e escaramuças de toda ordem!  
Acabaram os tempos e ele tomba inerte sobre as encilhas, suas mãos crispadas não soltam as crinas do pingo, que no despacito segue a jornada até o final. A ave sonora faz sua despedida no clarim campeiro quando do toque de silêncio, que cala fundo na noite soturnal, do desvanecimento total! Assim é a vida!
Pensemos nisso!
ANTONIO PEREIRA DOS SANTOS – Professor e tradicionalista.

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