ORELHANO!
Toca
o compasso parceiro velho porque cada pisada é uma marca indelével na essência
do vivente, teatino por natureza, cujo rancho é o próprio pampa com seu céu
estrelado.
Abrindo
caminho nas tigüeras da ida sem rumo certo, tem seu destino a cada dia traçado
e a galopito no más, sofreneia o corcel, parceiro cotidiano da vida errante, que
já conhece seu dono pelo montar e pelo olhar perdido no horizonte.
Mas
o ritual dos fogões fulgura imponente em sua mente, quando pensa na china que
ficou pra trás em recordações, como ave que voa e que sempre volta ao ninho. No
entanto, ela não voltou e um gosto amargo de abandono retorce sua boca num
esgar, profligando seu ânimo na penca da existência vazia.
Ah
vida orelhana! Que não precisa passaporte por andar a esmo com seu laço enrodilhado
a espera de um pretérito saudoso aonde chegava à estância e via a cachorrada
que o recebia em festa, sua mãe rindo e o abraçando, pela volta do filho pródigo
à casa que o viu nascer.
Contudo,
pelos corredores dos alambrados ele perdeu-se e não consegue achar seu caminho
de volta, prolatando descaminhos na aspereza das urzes do estradeiro, que
esconde o iminente despenhadeiro como abutre que sobrevoa sua presa disforme.
Que
fim bucólico do guasca tapejara de outros tempos, que foi taura em diferentes
guerras, revoluções e escaramuças de toda ordem!
Acabaram os
tempos e ele tomba inerte sobre as encilhas, suas mãos crispadas não soltam as
crinas do pingo, que no despacito segue a jornada até o final. A ave sonora faz
sua despedida no clarim campeiro quando do toque de silêncio, que cala fundo na
noite soturnal, do desvanecimento total! Assim é a vida!
Pensemos nisso!
ANTONIO PEREIRA DOS
SANTOS – Professor e tradicionalista.
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