quinta-feira, 9 de agosto de 2018


AINDA NOS DEVANEIOS!

                Quando o rancho anda silente, ouço a voz do tempo que se arrasta, aonde a saudade vai mermando até sumir-se no horizonte, perdido no ermo das ilusões das paisagens perdidas.
                A rédea, feita de sisal para domar o potro das ilusões, marcou indelevelmente a jornada, enquanto amanuncia a tropilha desgarrada, nos relatos da história avoenga.
                Na ficção do passado hercúleo, onde se vivia a estância crioula e seus costumes barbarescos, também existia algo inefável que suavizava aqueles tempos. O laço que se criava entre pais e filhos, o amor intrínseco que latente, podia a qualquer instante, desabrochar como a rosa na primavera, inebriante no olor de seu perfume.
                Mas, o dia passa depressa no desvario do caminho e a noite chega logo, na depressão das mágoas do cantador da campanha que, debruçado no sobral da janela, contempla a escuridão assustadora e tétrica que, encobre segredos que o túmulo levará à eternidade.
                Entretanto, esse é o meu jeito de levar a vida, abrindo o fole de minha gaita para sentir seu som junto ao peito vazio, das amarguras da vida maleva. Não há cura? O mal do coração é de difícil acesso, porque sem afago e sem amor, tudo se perde no breu da alma, sem entrever miríades do céu estrelado, em noite de luz cheia, iluminando o rumo do peão teatino.
                No entanto, o relho e a espora dão lugar às flores que, inebriam os ares tornando o existencial respirável e então o potro solidão, dá lugar ao preenchimento do vácuo que existia no imo do ser. É assim, que segue o guapo que não dobra a espinha, pelo orgulho do passado de ancestrais, que ficaram tão somente, nos quadros das paredes caiadas, dos tempos imemoriais.
                Mas, sobressaio no meio das cinzas, na coivara da tapera que ficou no ermo das quebradas, nos longínquos rincões das plagas, porque agora arrinconado no meu catre vazio, ainda permaneço, nos devaneios dos acordes da velha sanfona, companheira fiel dos mates solitos.
Pensemos nisso!

ANTONIO PEREIRA DOS SANTOS- Tradicionalista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário