IMIGRAÇÃO ALEMÃ NO RIO GRANDE DO SUL!
O rei
D. João VI percebera que o sistema rural brasileiro, baseado na grande
propriedade, na monocultura de exportação e no trabalho escravo, estava a
exigir modificações que assegurassem o desenvolvimento do país. Uma das medidas
de maior alcance seria a vinda de colonos europeus para exercerem um trabalho
livre em pequenos lotes rurais. Os efeitos seriam múltiplos: gradativa diminuição
da assustadora porcentagem de escravos na população, abertura de condições para
o surgimento de uma classe média, um novo estímulo ao comércio e à indústria,
progressivo desestímulo ao tráfico negreiro, etc., com repercussão inclusive na
esfera militar, pela formação de um exército que garantisse a segurança interna
e servisse à política expansionista no Prata. Aos colonos europeus que
quisessem se estabelecer no Brasil foi oferecida uma série de vantagens, desde
a gratuidade no transporte, a doação de um lote rural, instrumentos de trabalho,
sementes, ajuda em dinheiro para os primeiros anos, até assistência médica e
religiosa.
Essa política
de colonização não sofreu alterações quando, em 1822 o Brasil se tornou independente. O jovem Imperador D. Pedro I adotou
as mesmas diretrizes iniciadas pelo Pai e sua obra de maior importância foi o
estabelecimento da Colônia de São Leopoldo, na Província do Rio grande em 1824.
Ao
convite brasileiro, sugerido pela Imperial Princesa Dona Leopoldina, são os
agricultores alemães que vem para essa colônia. Foram recrutados pelo major
Jorge Antônio Schaeffer e deveriam ocupar as terras da Imperial Feitoria do
Linho Cânhamo, recém-extinta (31 de março de 1824). Para atraí-los mais
facilmente, Schaeffer oferecera-lhes condições extremante favoráveis: viajariam
as expensas do Império brasileiro, seriam logo naturalizados e gozariam da
liberdade de culto. Tais promessas, aliadas condições socioeconômicas
desfavoráveis na Europa, levaram muita gente a procurar uma nova pátria.
A primeira
leva de imigrantes, composta de 38 pessoas, foi recepcionada no Rio de Janeiro
pelo Imperador e Imperatriz. Não menos festiva foi a sua chegada em Porto
Alegre, a 18 de Julho de 1824, com as honras prestadas pelo Presidente da
Província, José Feliciano Fernandes Pinheiro.
Os colonos
chegaram no dia 25 de julho a seu destino: Porto das Telhas, no lugar chamado
Faxinal do Courita, à margem esquerda do rio dos Sinos. O feitor José Tomás de
Lima os acolheu, em nome do Governo Imperial e os alojou nas dependências da
Real Feitoria do Linho Cânhamo.
Com a organização
desse primeiro núcleo europeu, retomava-se a histórica linha de desenvolvimento
agrícola iniciada na província pelos casais açorianos. Os imigrantes
aumentariam as áreas agricultáveis já existentes no Rio Grande do Sul. Mas,
além disso, poderiam se dedicar também ao artesanato e à indústria. A maioria
dos imigrantes se constituía de agricultores que eram ao mesmo tempo artífices
e isto contribuiu decisivamente para a edificação e desenvolvimento comunal da
primeira povoação.
Não foram fáceis os primeiros
anos. Entre as dificuldades encontradas, a começar pelas novas condições geográficas
e climáticas, houve demora na demarcação dos lotes e empecilhos constitucionais
para cumprimento da naturalização mediata e da liberdade de culto, prometidas
por Schaeffer. Mesmo assim, o núcleo à margem do Sinos progrediu rapidamente
graças ao empenho do Dr. José Feliciano Fernandes Pinheiro (futuro Visconde de
São Leopoldo), presidente da Província, José Tomás de Lima, inspetor da
nascente colônia e Dr. João Daniel Hillebrand, imigrante médico, que ali veio a
ocupar todos os postos de relevo e confiança; e graças à união, à capacidade de
ajudar-se, que animava os colonos em face das asperezas do novo mundo que se
abria diante de seus olhos.
A colonização alemã, que a princípio se
estabelecera em São Leopoldo foi espalhando-se pelos vales dos rios Sinos, Caí,
Taquari, Jacuí e Pardo. Todavia, ao subirem as encostas do Planalto os alemães
raramente ultrapassaram a altitude de 300 metros, espaço este que seria ocupado
posteriormente pelos imigrantes italianos.
Cumpre observar
que os imigrantes hoje rotulados genericamente como “alemães” constituíam, na
verdade um mosaico de etnias: eram germanos, eslavos germanizados, galos
germanizados, eslavos germanizados, romanos germanizados e provinham de uma
região politicamente esfacelada em dezenas de pequenos condados e principados. Seus
descendentes somam hoje milhões de habitantes, integrados definitivamente, pela
fusão de hábitos e experiências, com as demais correntes imigratórias do Rio
Grande do Sul.
(Pesquisa: Becker, Klaus- álbum oficial do sesquicentenário
da imigração alemã; Lazzari, Beatriz Maria. Imigração e Ideologia; Manfroi,
Olivio. A colonização Italiana no Rio Grande do Sul; Muller, Telmo Lauro. São
Leopoldo, Berço da Colonização; Roche, Jean. A Colonização Alemã e o Rio Grande
doSul).
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