quinta-feira, 10 de julho de 2014


                                       IMIGRAÇÃO ALEMÃ NO RIO GRANDE DO SUL!

                O rei D. João VI percebera que o sistema rural brasileiro, baseado na grande propriedade, na monocultura de exportação e no trabalho escravo, estava a exigir modificações que assegurassem o desenvolvimento do país. Uma das medidas de maior alcance seria a vinda de colonos europeus para exercerem um trabalho livre em pequenos lotes rurais. Os efeitos seriam múltiplos: gradativa diminuição da assustadora porcentagem de escravos na população, abertura de condições para o surgimento de uma classe média, um novo estímulo ao comércio e à indústria, progressivo desestímulo ao tráfico negreiro, etc., com repercussão inclusive na esfera militar, pela formação de um exército que garantisse a segurança interna e servisse à política expansionista no Prata. Aos colonos europeus que quisessem se estabelecer no Brasil foi oferecida uma série de vantagens, desde a gratuidade no transporte, a doação de um lote rural, instrumentos de trabalho, sementes, ajuda em dinheiro para os primeiros anos, até assistência médica e religiosa.

                Essa política de colonização não sofreu alterações quando, em 1822 o Brasil se tornou independente. O jovem Imperador D. Pedro I adotou as mesmas diretrizes iniciadas pelo Pai e sua obra de maior importância foi o estabelecimento da Colônia de São Leopoldo, na Província do Rio grande em 1824.

                Ao convite brasileiro, sugerido pela Imperial Princesa Dona Leopoldina, são os agricultores alemães que vem para essa colônia. Foram recrutados pelo major Jorge Antônio Schaeffer e deveriam ocupar as terras da Imperial Feitoria do Linho Cânhamo, recém-extinta (31 de março de 1824). Para atraí-los mais facilmente, Schaeffer oferecera-lhes condições extremante favoráveis: viajariam as expensas do Império brasileiro, seriam logo naturalizados e gozariam da liberdade de culto. Tais promessas, aliadas condições socioeconômicas desfavoráveis na Europa, levaram muita gente a procurar uma nova pátria.

                A primeira leva de imigrantes, composta de 38 pessoas, foi recepcionada no Rio de Janeiro pelo Imperador e Imperatriz. Não menos festiva foi a sua chegada em Porto Alegre, a 18 de Julho de 1824, com as honras prestadas pelo Presidente da Província, José Feliciano Fernandes Pinheiro.

                Os colonos chegaram no dia 25 de julho a seu destino: Porto das Telhas, no lugar chamado Faxinal do Courita, à margem esquerda do rio dos Sinos. O feitor José Tomás de Lima os acolheu, em nome do Governo Imperial e os alojou nas dependências da Real Feitoria do Linho Cânhamo.

                Com a organização desse primeiro núcleo europeu, retomava-se a histórica linha de desenvolvimento agrícola iniciada na província pelos casais açorianos. Os imigrantes aumentariam as áreas agricultáveis já existentes no Rio Grande do Sul. Mas, além disso, poderiam se dedicar também ao artesanato e à indústria. A maioria dos imigrantes se constituía de agricultores que eram ao mesmo tempo artífices e isto contribuiu decisivamente para a edificação e desenvolvimento comunal da primeira povoação.

                Não foram fáceis os primeiros anos. Entre as dificuldades encontradas, a começar pelas novas condições geográficas e climáticas, houve demora na demarcação dos lotes e empecilhos constitucionais para cumprimento da naturalização mediata e da liberdade de culto, prometidas por Schaeffer. Mesmo assim, o núcleo à margem do Sinos progrediu rapidamente graças ao empenho do Dr. José Feliciano Fernandes Pinheiro (futuro Visconde de São Leopoldo), presidente da Província, José Tomás de Lima, inspetor da nascente colônia e Dr. João Daniel Hillebrand, imigrante médico, que ali veio a ocupar todos os postos de relevo e confiança; e graças à união, à capacidade de ajudar-se, que animava os colonos em face das asperezas do novo mundo que se abria diante de seus olhos.

                 A colonização alemã, que a princípio se estabelecera em São Leopoldo foi espalhando-se pelos vales dos rios Sinos, Caí, Taquari, Jacuí e Pardo. Todavia, ao subirem as encostas do Planalto os alemães raramente ultrapassaram a altitude de 300 metros, espaço este que seria ocupado posteriormente pelos imigrantes italianos.

                Cumpre observar que os imigrantes hoje rotulados genericamente como “alemães” constituíam, na verdade um mosaico de etnias: eram germanos, eslavos germanizados, galos germanizados, eslavos germanizados, romanos germanizados e provinham de uma região politicamente esfacelada em dezenas de pequenos condados e principados. Seus descendentes somam hoje milhões de habitantes, integrados definitivamente, pela fusão de hábitos e experiências, com as demais correntes imigratórias do Rio Grande do Sul.

 

(Pesquisa: Becker, Klaus- álbum oficial do sesquicentenário da imigração alemã; Lazzari, Beatriz Maria. Imigração e Ideologia; Manfroi, Olivio. A colonização Italiana no Rio Grande do Sul; Muller, Telmo Lauro. São Leopoldo, Berço da Colonização; Roche, Jean. A Colonização Alemã e o Rio Grande doSul).

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