RECORDAR É VIVER!
Eu nasci no interior de Barros Cassal, numa
localidade chamada de Rio Pardo, nascente do Rio Pardo. Não consigo lembrar
quase nada dessa época. Minhas lembranças começam no Ligeiro, local que leva o
nome do arroio que passa por ali.
Deste lugar, vem minhas primeiras
recordações, do casario da família, dos potreiros e invernadas para cercar o
gado e os cavalos, das árvores frutíferas, do pomar de pêssegos, das caixas de
abelhas, das plantações diversas, do mundão de terras (pelo menos para os meus
olhos) e que tudo pertencia à família.
Lembro também da sanga com água
cristalina, onde tinha um moinho d’água que servia, entre outras coisas, para
fazer a farinha de milho para a mãe Maria Eufrásia, fazer o gostoso pão de
forno e lembro também das vezes que me escondia na carroça, para poder ir junto
para a roça.
Suspiro e me vejo no casamento
das manas Ofhir e Odir com o Valdemiro Mantelli e Jorge Cervo, que foi
realizado no mesmo dia, onde aconteceu um acidente com o caminhão que trazia os
convidados e os noivos, da vila do Rincão (nome anterior de Barros Cassal),
para a estância do Ligeiro. A ponte do arroio cedeu e a roda traseira direita
ficou trancada no madeirame. Graças a Deus ninguém se feriu e a festa foi
grande.
O avô materno de nome Antônio
José Falleiro que dizia para a meninada, quando ficava bravo: “cuidado guri,
senão te passo o calabrote”, me vêm à mente, os manos mais velhos, que de vez
em quando aprontavam das suas, (imaginem só eram doze, mais os achegos, todos
juntos), coitados do pai José e mãe Maria.
Pois é, deste lugarejo, que eu
saiba não existe mais nada. A fazenda do Ligeiro só resta uma grande invernada
e a soledade dos tempos antanhos que não voltam mais. Depois quando fomos morar
na vila, o mano Allão, logo após seu casamento com a Celina Pappen, foi morar
no local e de quando em vez, eu ia sozinho a pé ou a cavalo, até o Ligeiro.
A distância de Barros Cassal até
as Duas Léguas no (Rafael), se conseguia uma carona de caminhão, já que
morávamos no acampamento do DAER e dali em diante, atravessando campos e picada
se chegava até a localidade.
Depois que o Allão veio morar em
Santa Cruz do Sul, a mana Odir com seu esposo e filhos foram morar no Ligeiro.
Nesta época também viemos para
Santa Cruz e até onde lembro lá tudo foi vendido, vindo à família da Odir morar,
agora na cidade de Barros Cassal e depois em Sapucaia do Sul.
Recordar também é viver!
ANTONIO PEREIRA DOS
SANTOS – Professor e tradicionalista.
(Email, toninhosantospereira@hotmal.com;
twitter, toninhopds; Blog, WWW.allmagaucha.blogspot.com).
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