INFÂNCIA PERDIDA?
Na recordação
infrene da minha infância, sinto vibrar nas últimas fibras do meu coração,
aquilo que meus pais tentaram me passar, uma família, um lar com todas as
dificuldades inerentes à época.
Com o
que se plantava, nos alimentávamos, vivia-se exclusivamente daquilo que era
produzido pela terra. Todos trabalhavam, do mais velho ao mais novo. Os mais
velhos ajudavam na criação e educação dos mais novos.
Todos viviam
na casa grande, a mesa grande, o pai numa ponta e mãe na outra. Duas cadeiras
postadas para cada um. Nas laterais, dois grandes bancos de madeira onde
assentavam a filharada, de um lado os crescidos e de outro os pequenos,
arteiros por demais, não podia se misturar com os outros.
Imagine
doze, treze, quatorze pessoas à mesa nas refeições. Ninguém pegava seu prato e
ia para seu quarto, até porque os quartos eram todos de todo mundo, exceto os
pais. O pai abria à hora sagrada com uma oração, normalmente de improviso. Feijão,
arroz, milho verde (inelutável), pão de milho feito no fogão de barro, carnes e
peixes nem sempre tinha.
De quando
em vez, se carneava um capão, um porco gordo ou galinha caipira, tatu que o pai
caçava e peixes dos arroios e rios do lugarejo, frutas do mato, como guabijú,
pitanga, amora, araticum, araçá e tantas outras.
Assim vivi
minha primeira infância e aí me pergunto? Será que foi uma infância perdida? A tecnologia de hoje nem se pensava. Vejo nos
dias hodiernos, as casas são de passagem, não parecem ser mais uma família, pelo
menos como conheci e ainda me dizem que é tudo normal, que é o progresso!
Mas que
progresso é esse, onde não se reúnem mais nem nas refeições! Naqueles tempos, se
inventavam histórias, abrindo as mentes e a inteligência, sem a televisão ou
outro similar à frente da criatividade, pronta a brotar em cada ser!
O progresso desuniu as pessoas,
esta é a realidade!
A família
não pode perder sua finalidade maior. Ser tese basilar para uma sociedade que
cultiva suas tradições e sua cultura. Não podemos ser engolidos pelos
estrangeirismos que maculam nossos usos e costumes!
Acompanhar
a evolução sim, mas não perder o tino, seguir na verga, como diziam nossos
avoengos, mantendo as virtudes da herdade ancestral, como desiderato no
frontispício que norteia o verdadeiro cidadão!
Não, a
minha infância não foi perdida! Pensemos nisso!
Email, toninhosantospereira@hotmail.com;
Twitter, toninhopds; blog, WWW.allmagaucha.blogspot.com).
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