quinta-feira, 19 de maio de 2016

                                                        A CHUVA CAI!


                A chuva cai lá fora e com ela a solidão bate. Por que será que a chuva nos trás lembranças lúgubres ou será que é só comigo?
                A soledade dos meus devaneios poéticos se exprime com o coração apertado de angústia, como se ela fosse a razão da natureza que chora copiosamente, ante a iniquidade de seus lídimos representantes: a humanidade.
                Será por isso, este aperto que sinto a invadir as entranhas? Creio que sim.
                Que as tormentas que nos assolam intempestivamente em certas ocasiões, possam também ser varridas de nossa existência.
Que possamos sentir a brisa aromática que enlevará o ser interior no cimo das virtudes no limiar de uma nova era, onde empreenderemos a grande viagem de descoberta do nosso próprio “eu”.  
Incontinente, reverencio agora a chuva que vem limpar os miasmas criados pela sangria de pensamentos, no descalabro de paixões ainda a ser domadas, conquanto no imo dos seres, refulge a luminar experiência, inerentes a seiva viva, que perenemente saluda a vida, que novamente brota na alma ferida!
                Por isso, tapeio meu chapéu à testa, repechando nas invernias da pampa sulina, embora ainda sentindo o cantil seco e a ardência na garganta, num desfiar de auroras que consomem o destino febril, nos dissabores das orgias de sombrias consequências.
                Contudo, a erva daninha um dia terá fim, na velha jornada estradeira e a galope no pingo garboso, a trotezito volto às casas, à sombra do velho angico, plantado pelo meu velho pai, de sofrenaço apear no terreiro, onde o alardear da cachorrada e a alegria da piazada, virá me trazer finalmente, a paz no sofrido e amargurado coração!
                ANTONIO PEREIRA DOS SANTOS – Professor e tradicionalista.

(Email, toninhosantospereira@hotmail.com; twitter, toninhopds; blog, WWW.allmagaucha.blogspot.com).
CANTO TRISTE!

                           Reacendendo a brasa, na invernia das enregeladas madrugadas da pampa insalubre, rasgando a geada com pés duros, como tronco de angico, acostumados às intempéries de menino criado no campo, nos costumes simples que seus ancestrais lhe colimaram na energia estoica que passa de pai pra filho.
                           Ressongando no fundão da invernada, um canto triste, com a própria definição do gaúcho, se faz ouvir como num chamamento a angustia da cordeona e nos bordões de uma viola bem afinada, no sentimento da última lembrança que ficou acolá.
            Viverei, através dos cantares da vida temporal, que se esvai numa miríade de ilusões que ainda impera na melancolia do trinar da cotovia, anunciando a invasão de seu ninho.
            Por estranhas figuras aladas incompreensíveis à realidade atual, vejo meu pai agora à porta, cuja silueta se recorta com imponência de taita. Ele quer me abrigar com seu poncho, mas, com olhos marejados de lágrimas, sinto fugir essa imagem. Será miragem? Mas ele estava bem ali!
            Volto os tempos novamente e na fulguração de irradiações plenas, novamente se aclarou a mente e sua presença marcante é novamente sentida com sua voz clara e compassada acalmando quem a escutava. Quantas histórias...
            Coração apertado, acordo para a realidade dura e fria da madrugada tenebrosa. Quero sonhar novamente para encontrar minha mãe. Relembro dela na cozinha, o avental todo sujo de ovo, como diz a canção, com aquele seu jeitão de matrona onde recebia todos no seu regaço.
            Ah... Mamãe! Queria voltar tudo, tudo de novo. Sentir tuas mãos passando sobre meus cabelos, altas horas da noite, teu aconchego acalmava toda ventania. Não havia furacão que a vencesse.
                        Mãe é o próprio DEUS na terra, seu mais lídimo representante.
Num sofrenaço acordo definitivamente, foi tudo um sonho! Mas foi divino. Estou feliz novamente por esse reencontro.
                            Quer possamos finalmente ser um fiapo do que foi José e Maria para que nossos descendentes amanhã recordem com saudades os momentos felizes que nunca se apagarão e viverão como uma sombra em sua sombra e o canto triste do guapo atávico será o lenitivo na grande jornada da existência!
            Cantemos, pois, a vida!

ANTONIO PEREIRA DOS SANTOS-Professor e tradicionalista.
(Email, toninhosantospereira@hotmail.com; blog, WWW.allmagaucha.blogspot.com; twitter, toninhopds

quinta-feira, 12 de maio de 2016

                                                             RELEMBRANDO!

                Ao recordar os tempos passados, vem a minha lembrança, com certa nostalgia, os nossos brinquedos de criança, com sua inocência natural e tudo aquilo que nos foi legado por nossos antepassados.
                O Passo do Ligeiro lá no interior de Barros Cassal, onde recordo com saudades, o burro branco que o pai usava para, quando já trabalhava no DAER, ir e vir de Barros Cassal até a localidade.
                Lembro também, das casinhas que construíamos com santa-fé e barro, onde fazíamos nossas comidas. A Eva era a nossa cozinheira. Os menores da casa como a Terezinha, o Cliff e eu, mais as visitas, pois a casa era sempre cheia, nos fartávamos de brincar na casinha. Numa certa ocasião, um dos cavalos se soltou do potreiro e veio em disparada, derrubando a nossa casa. Foi um susto, mas ninguém se feriu.
                À tardinha, reunia-se toda a família à frente da casa grande, para degustar pêssegos que eram apanhados cedo e deixados de molho em uma gamela grande com água. Eram uma delicia. Os mais velhos mateavam  e nós no famoso mate doce, com cuias separadas!
                Ninguém colocava agrotóxico e eles não eram bichados. À noite a beira do fogão à lenha, após o jantar, o pai e a mãe nos reuniam para contar histórias de romances e lendas. Lembro-me do romance, “As Minas do Rei Salomão”, no qual tiraram os nomes para os manos Allão, Ofhir, Odir, Cliff e Dão Real.
                Na casa grande tinha um sótão, onde havia dois quartos com janelas em estilo enxaimel, como se vê nas moradias dos primeiros imigrantes alemães.
                Quando eu nasci, a Genoveva, a mana primogênita, já tinha se casado e não morava mais conosco. O esposo dela, Euclides Pereira Soares, era professor e havia ensinado na estância por algum tempo. Depois veio para Santa Cruz do Sul e foi o principal responsável pela fundação das tradições gaúchas em nossa cidade, fundando também em 1960, o primeiro jornal tradicionalista do Estado intitulado, “O TROPEIRO”.
                Ele veio a falecer em 1994 e seus familiares moram em Sapucaia do Sul. Ainda na década de 50, inicio da década de 60, três filhos deste casal, Genoveva e Euclides, formaram o “Trio Fronteirista”, que cantavam na rádio Santa Cruz e após na rádio Princesa de Candelária, onde foram morar. Eram o Jair, a Sônia e a Stela.
                Muitas gerações passaram desta família começada por José Altivo dos Santos e Maria Eufrásia Falleiro dos Santos. Ele nascido em Rio Pardo em 29 de julho de 1889 e ela, em nove de janeiro de 1907, em Estância Mariante, interior de Venâncio Aires.
                Além dos 14 filhos deste casal, ainda tivemos mais cinco irmãos do primeiro casamento do José Altivo e Antônia Batista da Silva, que eram o Olnário Batista Silva, o Niquito, a Alzira, a Edelvira, a Patrocinia e a Alvícia, todos já falecidos.

                Sempre é bom recordar!

quinta-feira, 28 de abril de 2016

                                                      NO LIMIAR DOS TEMPOS!

                No descambar do sol, desanuviando a mente, no cabedal de conhecimentos empíricos adquiridos ao longo da existência no orbe que me acolheu, angustia-me ver a humanidade, vagueando sem rumo, tateando na escuridão do fosso negro em que se embretou.
                Tanto desatino, tanta estupidez, tanta ganância, quando o caminho é mais simples e sem pressa, se chega ao desiderato proposto.
                Portanto, que possamos ouvir mais o som interior do silêncio, que nos trás reflexões da verdadeira voz que nos clama paciência e amorável cumplicidade, nos gorjeios de harpas que são ouvidas, por quem tem ouvidos para ouvir!
                Que não sucumbamos, no covil dos lobos famintos do sangue de inocentes, num redil de infâmias e iniquidades e sim subamos aos requintes do saber glorioso, da constante alma enobrecida, nos valores da sua essência, que ninguém pode usurpar!
                A conspiciência não mais prevalecerá na incontinência daqueles que ainda estão mergulhados no orgulho e egoísmo, chagas que enodoam a humanidade, que serão extirpadas e colocadas em seu lugar, a firmeza de propósitos no bem universal.
                Será apanágio nos novos tempos, a docilidade de palavras e gestos, intercambiando virtudes num sufrágio de bendizentes ternuras, onde os amplexos serão mais fraternais e uma onda magistral de emoções infrenes, varrerá todo e qualquer resquício de inferioridade, que não grassará mais no planeta azul!

                ANTONIO PEREIRA DOS SANTOS – Professor e tradicionalista.

(Email, toninhosantospereira@hotmail.com; twitter, toninhopds; blog, WWW.allmagaucha.blogspot.com).

sexta-feira, 22 de abril de 2016

                                                              MANANCIAL!


                Canto o meu pago, um canto de raiz, do fundo da chucreza de hábitos ancestrais.
Um povo que se fez a ferro e fogo não pode perder-se em vãs filosofias de globalizantes atualidades em aturdidas convulsões, nas dicotomias extenuantes na invernada existencial.
                O indomável coração, têmpera forjada em tempos imemoriais, que não se maneava, no laço de doze braças, na pontaria certeira do braço exímio, segue o prumo do destino traçado, na maioridade atingida no decorrer de eras, solidificando ações no infindável passar dos tempos.
                Ao raiar de outro dia, no tinir das esporas nazarenas, sentindo a flexilha e o orvalho nas coxilhas e canhadas das plagas nativas, firmo o tranco porque sei que minha voz será ouvida, como um grito do Sapucaí nas profundezas do continente sulino.
Na hodierna comparação do ontem e do hoje, o que parecia irreal, parece viável, porque não se perdem no ocaso de desilusões frementes.
                Ficam latentes, na expectativa, aguardando as visões do atalaia que, no seu quarto de ronda, acorda a alma gaúcha, para um novo despertar de horizontes nobres.
Num novo reponte, reúne o gado bravio num só potreiro, na obediência sistemática ao sinuelo na ponta, seguindo a jornada ao manancial das aguadas, dando de beber aos sedentos.  
Os perdidos ouvirão a chamada na clarinada do novo amanhecer, nascendo para uma nova vida, num chamado de renascimento de fulgurantes luzes, na esteira do conhecimento da chama votiva, na firmeza de um caráter imaculado e meticuloso.
Mato a sede neste manancial maravilhoso!

ANTONIO PEREIRA DOS SANTOS – Professor e tradicionalista.

(Email, toninhosantospereira@hotmail.com; twitter, toninhopds; blog, WWW.allmagaucha.blogspot.com).

quinta-feira, 14 de abril de 2016

OITÃO!

                Na sombra do oitão, vi nascer a vida, que se desenhava longínqua estampa, donde os olhos de piá via a natureza ainda pura, com verdejantes matas, com seu habitat ainda intocável pelas mãos dos homens.
Como eram belas! As coxilhas e canhadas, em soberbas paisagens plantadas pelas Mãos do Senhor do Universo.
Sonho particular, de ideais indestrutíveis, de um caráter moldado por ancestrais de lídima acepção atávica, de respeito a valores que passavam de pai para filho, numa corrente de amarras firmes como tronco de corumilha.
Os centauros eram reais e não imaginários. Eram avatares, que sobrepujavam todos os obstáculos que se apresentassem.
Os araganos, um dia voltavam à terra prometida, como filhos pródigos que um   dia desgarravam-se do poncho paternal.
Metaforicamente, é isso que sentimos nas luzes da cidade que atrai para tantos descaminhos, almas rudes que foram trazidas como mariposas de changas e changas, onde olhos perdidos veem seus filhos cortarem os elos da corrente de antanho, que ficaram nas remembranças de um tempo fugidio e que não volta atrás.
Até quando serão enganados pela factualidade de insensatezes desnorteantes onde o mundo troca de ponta num desdém de umbralinas sombras?
Os teatinos, não dobrarão a espinha e voltarão retemperados pela dura sina do aprendizado cabreiro.
   Embora, nas luzes de ribalta, voltarão ao fundo da invernada, laçando o gado   alçado que um dia perdeu-se no horizonte.
Sim, uma nova alvorada se lhe apresenta com um chamamento aquele sonho que ficara lá atrás, no velho oitão do casario onde nascera, onde um mate será cevado e compartilhado numa roda permanente de paz consciencial!
ANTONIO PEREIRA DOS SANTOS – Professor e tradicionalista.

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quinta-feira, 7 de abril de 2016

                                                                MATUTANDO!


                No tisnar de cores, como um arco-íris de luminosidade indescritível, os olhos se enchem de lágrimas, aos constatar as maravilhas incomensuráveis da natureza divina que nos honra com fantásticas imagens, sem comparações ou parâmetros.
                Ah! Como é bela a paisagem Divinal que se nos apresenta. Tudo se encaixa sem rupturas, com perfeição e esta beleza, às vezes inescrutável, está à disposição das criaturas. Basta ter sensibilidade e olhos para vê-la.
                Nos recônditos da alma incontida, rumam desígnios muitas vezes inconfessáveis, no desiderato da contextualidade que deixam nossos sentidos avessos ao chamamento Maior.
                No terra a terra de inconfessos sentimentos que vendam nossas visões, as incomparáveis e verdejantes planuras que, por ora enternece nossa alma, estremecida pelo bafejo da organização perfeita e soberana, viceja ainda a temporalidade da nossa existência extemporânea!
                Sim, são lampejos dessa gloriosa realidade que, latente aguarda o momento do seu desabrochar definitivo, em canções de tonalidades ainda desconhecidas pela pequenez de nossa sensibilidade.
                Entretanto, corre em nossas veias, a chama que um dia vingará na compreensão de tudo, no despertar de uma nova gestação do Planeta em consonância linear, agora sim, na perfeita harmonia, na corrente intercambial do aprendizado constante e maturável da vida material e subjetiva, no cosmos em que estamos mergulhados!
                Pensemos nisso!

                  ANTONIO PEREIRA DOS SANTOS – Professor e tradicionalista.

         (Email, toninhosantospereira@hotmail.com; twitter, toninhopds; Blog, WWW.allmagaucha.blogspot.com).